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Bebidas

Whisky faz do Japão uma espécie de “Escócia do Oriente”

 | David Paul Morris/Bloomberg

A florescente indústria japonesa do whisky está levando o produtor de arroz Hiroshi Tsubouchi a cair na bebida. Com o consumo doméstico de arroz em queda, Tsubouchi, de 36 anos, diz que está se juntando à caravana do whisky – ou, ao menos, trocando para a cevada usada para fabricá-lo. Com os whiskies japoneses ranqueados entre os melhores e mais caros do mundo, os lucros da indústria de destilados local estão começando a fluir para os produtores agrícolas.

Tsubouchi irá colher sua primeira safra mês que vem, se juntando a uma dúzia de produtores do Japão central a testar o potencial da cevada para impulsionar suas rendas e ajudar os fabricantes de bebidas sedentos por malte do país. O Japão é o quarto maior importador do grão e o segundo maior comprador de malte, o derivado de cevada que é triturado e fermentado para fabricar whisky e cerveja. Importações de malte para fabricação de whisky aumentaram em 20% ano passado e quase quadruplicaram ao longo da última década, estimuladas pela demanda por whiskies japoneses de São Francisco a Hong Kong.

“Nunca imaginei que nossos whiskies fossem se tornar tão populares no exterior”, disse Ichiro Akuto, de 50 anos, cujo whisky “single malt” é vendido por até US$ 920 (100 mil ienes) a garrafa. Sua destilaria, Venture Whisky, em Chichibu, na província de Saitama, está trabalhando com produtores locais para estabelecer uma cadeia de fornecedores para uma fábrica de malte que ele construiu em 2013. “Quero produzir um whisky com o sabor de Chichibu – algo que acredito que seria apreciado ao redor do mundo.”

Akuto já recebeu esse tipo de reconhecimento no passado – tendo ganhado prêmios todos os anos entre 2007 e 2012. Na “Bíblia do Whisky de Jim Murray” de 2015, o Yamazaki Sherry Cask 2013, um whisky “single malt” produzido pela Suntory Holdings, com sede em Tóquio, recebeu o título de “Whisky do Ano”, enquanto o Nikka Taketsuru 17 anos, do Grupo Asahi, ganhou o de “Melhor ‘Blended Malt’ do Mundo” no “World Whiskies Awards” do ano passado.

Isso impulsionou a popularidade dos whiskies japoneses, levando a estoques esgotados e escalada de preços. Enquanto o volume de vendas globais de todos os países produtores de whisky aumentou em média 5% ao ano entre 2009 e 2014, no Japão o ritmo foi de 5,6%, mostram os dados da empresa de consultoria Euromonitor International. Ainda que a maior parte do whisky japonês seja consumida no mercado doméstico, ano passado o país quebrou o próprio recorde de exportação do produto com vendas no valor de 10,4 bilhões de ienes (US$ 95 milhões), um aumento de 11 vezes ao longo da última década.

“Dois anos atrás, se você tentasse comprar whiskies japoneses pela internet em Hong Kong, não encontraria nada”, disse Aaron Chan, que coleciona a bebida cor de âmbar e a vende no Clube Qing, um bar que possui na cidade. “Agora em chinês ou inglês, você vê entrevistas, artigos sobre novos bares de whisky e comunicados à imprensa. O whisky japonês está recebendo cada vez mais exposição.”

Mesmo o whisky 12 anos Yamazaki que Chan considera de “nível de entrada” é difícil de encontrar e, onde está disponível, sai por 1,2 mil dólares de Hong Kong (US$ 155) a garrafa, comparado com o preço sugerido no Japão de cerca de 700 dólares de Hong Kong.

Uma garrafa do Karuizawa 1960 foi vendido por 981,7 mil dólares de Hong Kong na casa de leilões Bonhams na cidade em agosto passado, estabelecendo o recorde pelo valor de venda em leilão de um whisky japonês. Com apenas 41 garrafas produzidas e envelhecido por 52 anos em tonéis, o Karuizawa é considerado o santo graal dos whiskies japoneses entre colecionadores.

Os estoques de whisky se tornaram tão apertados que o presidente da Suntory Holdings, Takeshi Niinami, pediu que sua equipe seguisse seu exemplo e tentasse se abster de consumir os whiskies premium da empresa. A necessidade de conservar estoque para venda é mais importante que o desejo do próprio executivo de consumir, Niiname afirmou à imprensa em janeiro. “Hibiki é o meu favorito, mas eu não posso”, ele disse.

Suntory, a maior destilaria do mundo, vai gastar cinco bilhões de ienes em 2016 para expandir a produção, o que acrescenta aos sete bilhões gastos em expansões desde 2010, disse a porta-voz Hasumi Ozawa.

O produtor Akuto, que trabalhou como vendedor na Suntory até 1995, espera que as encomendas de sua destilaria em Chichibu aumentem 20% ao ano. Ano passado ele vendeu 100 mil garrafas – um terço das quais cruzou o mar até os consumidores, principalmente no Reino Unido, na França, nos Estados Unidos e em Taiwan.

O aumento na produção de whisky tem sido uma dádiva para os produtores agrícolas britânicos, cuja cevada se tornou a espinha dorsal da indústria de destilados japonesa. As importações japonesas de malte somaram 4,7 toneladas ano passado, o que equivale a cerca de 437 milhões de ienes.

A Venture Whisky de Akuto importou 152 toneladas da Inglaterra, da Escócia e da Alemanha ano passado. Essa dependência vai diminuir se seus planos de obter fornecedores locais funcionarem.

Ele quer substituir 10% da demanda por grãos da destilaria com cevada cultivada por produtores em Chichibu. Mesmo que custe cinco vezes mais para produzir malte a partir de cevada cultivada localmente do que importá-lo, mudar o fornecimento pode melhorar a percepção da qualidade do whisky, disse Akuto.

Além disso, produtores em Chichibu podem chegar a dobrar suas rendas ao plantar cevada imediatamente depois de colherem arroz ou trigo sarraceno – o grão usado para fazer macarrão sobá. O solo tipicamente fica ocioso por seis meses após as colheitas de arroz e de trigo sarraceno em novembro, uma janela que poderia ser preenchida por cevada em um programa de rotação de culturas, diz o produtor de arroz Tsubouchi.

Se tudo der certo, 1,2 tonelada de grãos será colhida em maio, disse Akuto. Isso será usado em sua fábrica de malte em Chichibu – uma instalação de 20 milhões de ienes com capacidade para produzir 50 toneladas de malte por ano.

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