As escolas australianas se esforçam constantemente para melhorar os resultados da alfabetização de seus alunos. O apoio à melhor alfabetização de leitores com dificuldades é particularmente importante porque essa é uma desvantagem que só se intensifica com o tempo: alunos capazes desenvolvem habilidades “mais ricas” por meio da exposição contínua à leitura, e assim a distância entre eles e os leitores em dificuldades só aumenta.
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O número de estudantes australianos considerados “de baixo desempenho” em proficiência em letramento tem aumentado com o tempo. A porcentagem de alunos de alta performance no país está diminuindo – quase um em cada cinco adolescentes está na categoria de baixo desempenho.
Com o ano escolar prestes a começar, é importante refletir sobre como podemos otimizar o apoio a leitores em dificuldades. A habilidade dos jovens para ler e escrever molda significativamente seu potencial acadêmico, vocacional e social. Mais de 7 milhões de australianos adultos têm suas oportunidades limitadas por seu nível de alfabetização.
Pesquisas sugerem que a presença de funcionários qualificados nas bibliotecas escolares está associada a um melhor desempenho dos alunos na alfabetização. Mas, até agora, pouco se sabia sobre o que eles fazem especificamente para conseguir isso. Minha nova pesquisa proporciona uma visão sobre essas práticas fundamentais.
O que eles fazem?
Em 2018, visitei 30 escolas em locais urbanos e rurais como parte do projeto Professores Bibliotecários como Defensores de Literatura Australiana nas Escolas. Entrevistei professores-bibliotecários, profissionais que têm formação tanto em pedagogia como em biblioteconomia e atuam em escolas, para explorar uma série de questões, incluindo o papel que eles desempenham no desenvolvimento da habilidade de leitura.
Existem 40 estratégias recorrentes de apoio a essa habilidade usadas por professores-bibliotecários. Mas meu artigo mais recente se concentra em 10 estratégias que têm um elo entre si particularmente forte para apoiar os leitores em dificuldades:
1. Identificação dos leitores em dificuldades. Professores-bibliotecários ajudam na identificação oportuna de leitores com dificuldades através dos dados que coletam sobre o desempenho dos alunos. Quanto antes os leitores com dificuldades são identificados, mais cedo a escola pode ajudá-los.
2. Fornecimento de materiais apropriados para a idade e para as habilidades dos leitores com dificuldades. Os professores bibliotecários indicam materiais apropriados para a idade dos alunos, e podem gerenciar tópicos e gêneros da preferência de cada leitor. Quanto mais um aluno gosta e está interessado em ler, mais provável é que ele continue.
3. Ensinar os alunos a escolher livros de que eles gostem. Tanto alunos de escolas primárias como de escolas secundárias afirmam que leriam mais se fosse mais fácil escolher livros que os atraíssem. Professores-bibliotecários podem ensinar os alunos a fazer isso.
4. Apoio a alunos com necessidades especiais e leitores em risco. Nesse caso, vou usar um exemplo. Hannah, uma professora-bibliotecária, descreveu seu trabalho com um aluno disléxico. “Eu estava lendo para ele e cometi um erro que disléxicos tipicamente cometem, voltei e expliquei o que tinha feito. Ele disse: ‘Sim, eu faço isso também’”. Ela então lhe indicou materiais apropriados para sua idade e habilidades, e ele passou a ler “uma quantidade enorme de livros”.
5. Combinar leitores com dificuldade com livros apropriados para seu nível de habilidade. A pesquisa sugere que, quando os leitores em dificuldades têm textos compatíveis com sua capacidade e interesse pessoal, eles são mais persistentes, aplicados e usam mais habilidades cognitivas. Professores-bibliotecários têm experiência nessas combinações.
6. Promover o acesso aos livros. O acesso aos livros está relacionado positivamente à motivação, habilidades e frequência de leitura e a atitudes positivas em relação à leitura. Professores-bibliotecários fazem com que os livros sejam mais acessíveis. Francesca descreveu o uso regular de uma biblioteca pop-up: “Nós levamos as bibliotecas para áreas mais afastadas. E, você sabe, as crianças vão aparecer e falar: ‘O que você tem aí?’”
7. Fazer com que os livros e a leitura sejam socialmente aceitáveis. Quando os jovens consideram os livros socialmente aceitáveis, eles têm mais probabilidade de ler e ter uma atitude positiva em relação à leitura. Como a frequência de leitura está associada a uma melhor alfabetização, isso é o ideal. Professores-bibliotecários usam várias estratégias para melhorar a forma como os livros são vistos socialmente nas escolas, incluindo o incentivo de recomendações entre os colegas.
8. Ler para os alunos além dos primeiros anos. A leitura em voz alta oferece uma gama de benefícios nos primeiros anos e também além, incluindo um maior prazer de ler e maior motivação. Libba descreveu sua experiência de ler em voz alta para adolescentes em aula como maravilhosa, afirmando que foi muito bem recebida pelos alunos. Um menino chegou a afirmar: “Isso foi lindo”.
9. Possibilitar tempo de leitura silenciosa. Embora as oportunidades de leitura silenciosa na escola possam ser limitadas, para alguns leitores em dificuldades esse é o único momento que eles têm para ler. Professores-bibliotecários atuam como defensores da leitura silenciosa em suas bibliotecas e, mais amplamente, na escola. E algo é melhor que nada, especialmente para os leitores com dificuldades.
10. Preparar os alunos para testes de alfabetização. A realização e a aprovação em testes de alfabetização são essenciais para a graduação na Austrália Ocidental – um movimento controverso que gerou quedas nas taxas de conclusão do ensino superior. Uma iniciativa similar foi explorada, mas rejeitada, em Nova Gales do Sul. Professores-bibliotecários apoiam os leitores com dificuldade para atingirem esse objetivo acadêmico essencial por meio de uma série de iniciativas. Por exemplo, a professora-bibliotecária Stephanie ajudou os alunos a usarem os programas de testes on-line em sua biblioteca, o que deu aos alunos a prática necessária para realizar os testes oficiais.
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Por que isso importa?
Professores-bibliotecários são recursos valiosos em escolas australianas, mas muitas vezes não são valorizados. Eles enfrentaram cortes orçamentários significativos nos últimos tempos, mesmo depois de um relatório governamental de 2011 ter mostrado a importância deles no desempenho das escolas.
Pesquisas recentes mostram que a moral dos professores-bibliotecários e o sentimento de segurança que eles têm no emprego podem estar um tanto baixos. Se as escolas e os políticos desejarem melhorar os resultados de habilidade de leitura dos alunos, eles devem investir em bibliotecas escolares e em professores-bibliotecários com qualificação dupla.
* Margaret Kristin Merga é professora sênior de Educação na Edith Cowan University.
©2019 The Conversation. Publicado com permissão. Original em inglês.
Tradução de Gisele Eberspächer.
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