Com os alunos em casa devido ao novo coronavírus, as escolas, sejam públicas ou particulares, e os professores precisaram se reinventar nos últimos quatro meses. Rádios online, visitas aos alunos para entregar material didático, atendimento individual por meio de WhatsApp, e planos de comunicação foram alternativas adotadas por algumas instituições e seus educadores para tentar minimizar os impactos da pandemia na vida escolar dos estudantes.
Antes da pandemia, por exemplo, as secretarias de Educação ofereciam atendimento especializado para os alunos com deficiência, um acompanhamento importante desenvolvimento desses estudantes. Agora, os professores precisaram se readaptar para atendê-los de forma remota. Com isso, as dificuldades aumentaram. Alguns alunos, por exemplo, não têm nem acesso à internet.
Para que seus alunos não ficassem sem atividades, o professor de apoio educacional especializado (PAEEs), Jorge Luiz Paula de Lima, de Paranaguá, no Litoral do Paraná, continuou com os atendimentos remotamente e já conseguiu ver resultados desse trabalho. “O retorno é constante, pois os alunos autistas necessitam de uma rotina diária. Acessamos juntos a plataforma, as atividades, vídeos e slides de aulas. Com esse atendimento especializado, fazemos o elo dos alunos e pais com professores, equipe pedagógica e direção [da escola]”, explica o educador.
Lima atua no Colégio Estadual Arthur Miranda e tem atendido três alunos autistas todos os dias durante a suspensão das aulas por causa da Covid-19. O professor destacou que a Secretaria de Estado da Educação do Paraná (Seed) desenvolveu uma plataforma que pode ser acessada por toda rede de ensino e foi nela que desenvolveu suas aulas e atividades. “Inicialmente, no período de adaptação, adotamos encontros diários online, pelo WhatsApp, depois aliamos os livros didáticos e folhas impressas das atividades. Hoje, já acessamos pelo computador a plataforma chamada Classroom e o Meet para nos relacionar com os alunos”, explicou.
Plano de Comunicação
Já em Juazeiro do Piauí (PI), os professores Maria do Desterro Melo e João Leno Soares criaram um guia chamado "Plano de Comunicação para auxiliar as famílias e estudantes durante a pandemia". Além de orientações relacionadas ao coronavírus, o plano sugere brincadeiras que pais e filhos podem fazer durante o período de isolamento. As ações são direcionadas às crianças da Educação Infantil e dos anos iniciais do Ensino Fundamental.
O objetivo é buscar estratégias para o desenvolvimento das principais aprendizagens (conviver, brincar, participar, explorar, expressar e conhecer-se). No guia, pais podem seguir as dicas de higiene e manutenção de cuidados para não ser infectados pelo novo coronavírus, de atividades para desenvolver a coordenação motora por meio da imitação e coreografia, além de um cronograma com datas para o recebimento de materiais como vídeos ou músicas que trabalhem a coordenação motora dos filhos.
"As famílias nos ajudam com o suporte na realização das aulas não presenciais. A gente percebe que não é que a família não tivesse presente na escola. Depois desse projeto, a gente percebe é que realmente faltava um mecanismo de interação mais efetivo", explica Maria.
Para a professora, a pandemia favoreceu esse processo de aproximação e de interação. "A gente acredita que no retorno [das aulas presenciais] isso vai contribuir muito, principalmente em relação a essas novas regras relacionadas ao 'novo normal'", enfatizou.
Rádio online
Na escola Interativa, de Curitiba, a "rádio online 1540", criada pela professora Leni de Lara durante a pandemia ampliou a comunicação entre os alunos, pais e professores, além de auxiliá-los nos objetivos de ensino-aprendizagem. A rádio escolar passou a funcionar todos os dias a partir desta nesta semana. Alunos e pais podem acompanhar os programas sobre natureza, culinária e o "Papo Cabeça", que terá entrevistas com psicólogos, médicos e profissionais de outras áreas.
As atividades desenvolvidas pelos alunos durante a pandemia também são divulgadas nesse espaço. No "Pequenos Cientistas" , as produções dos alunos na área da Biologia serão divulgadas. Para fechar a programação, professores e alunos trocam recados carinhosos no "Mensagem do Coração" .
Além disso, comemorações dos aniversariantes do mês, páscoa e festa junina passaram a serem realizadas em formato de drive thru na escola. "A adesão das famílias foi expressiva. Para comemorar os aniversariantes do mês, por exemplo, decoramos a frente da escola e entregamos um bolo para os aniversariantes. Já é uma tradição aqui na escola e não deixamos de fazer", conta Leni.
Para ela, a maneira de se organizar como educadora mudou por causa da pandemia. "Com a dificuldade sempre surge a oportunidade. Os professores aprenderam muitas coisas e superaram muitas barreiras. Nem todo mundo era treinado para dar aula online, gravar ou ainda utilizar outras ferramentas e isso tudo foi gerando aprendizado", destacou.
Iniciativas inspiradoras de professores e escola
A Escola Atuação, também de Curitiba, organizou uma carreata solidária promovida pelos professores e pais e com isso minimizou um pouco da saudade que os alunos sentem do colégio. Com a iniciativa, além das famílias irem de carro até a escola para buscar um presente, elas puderam participar de uma campanha social de arrecadação de alimentos ou brinquedos.
Em outra iniciativa inspiradora, no Espírito Santo, a professora Joyce Barcelos percorre, uma vez por semana, o trajeto de 70 quilômetros ida e volta para dar aulas a um aluno que é surdo. Em meio à pandemia, o adolescente de 15 anos não poderia acompanhar as aulas disponibilizadas de forma online, pois ele não tem acesso à internet em casa. Mesmo que o aluno pudesse receber o material impresso, ele precisaria de uma intérprete de Libras.
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