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5 maneiras de ajudar no desenvolvimento do talento de crianças

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Algumas pessoas acham que o talento é algo que nasce com a gente. A história que se conta de Mozart tocando piano aos 3 anos e compondo aos 5 reforça esse tipo de crença. 

Mas eis aqui o restante da história: o pai de Mozart era um músico, compositor e professor bem-sucedido. Ele se dedicou a ensinar Mozart e a ajudá-lo a praticar e a alcançar a perfeição. 

Apesar de tudo isso, Mozart só compôs sua primeira grande obra aos vinte anos – ou seja, depois de uns quinze anos de prática árdua e aprendizado. 

Talento, eu insisto, não é algo inato; é algo que se cultiva – e os pais podem fazer uma diferença enorme no desenvolvimento dos talentos.

Condições para o sucesso 

Apesar de alguns acreditarem que o talento é algo raro, o psicólogo Benjamin Bloom disse o contrário depois de investigar grandes nomes de seis tipos distintos de talentos: “O que qualquer pessoa no mundo consegue aprender, praticamente todo mundo pode aprender, desde que disponha das condições adequadas para esse aprendizado”. 

Entre essas condições adequadas de aprendizado estão cinco itens: início precoce, ensino especializado, prática deliberada, convívio num centro de excelência e objetivo bem definido. 

Crianças não são capazes de fomentar esses fatores sozinhas. Ao contrário, como digo no meu livro “Nurturing Children’s Talents: A Guide for Parentes” [Fomentando os talentos infantis: um guia para os pais, em tradução livre], de 2019, “crianças precisam de alguém que administre seus talentos, geralmente um pai ou mãe, a fim de fomentá-los. Defendo isso como um psicopedagogo especializado em aprendizado e no desenvolvimento de talentos”. 

Vamos analisar melhor esses fatores e a influência dos pais. 

1. Início adiantado

As ‘sementes do talento’ geralmente são plantadas muito cedo e em casa. Um estudo revelou que 22 entre 24 pessoas reconhecidamente talentosas – de enxadristas a skatistas – foram apresentados às atividades nas quais se mostraram talentosos pelos pais, geralmente entre os dois e cinco anos de idade. 

Alguns desses pais são pessoas bem-sucedidas, professores ou instrutores. Um deles é o técnico campeão de vôlei John Cook, que criou a estrela do vôlei norte-americano Lauren Cook. 

“Acho que minha filha tinha uma vantagem por causa do meu trabalho”, disse o técnico. “Ela cresceu com o vôlei por perto. Quando era pequena, montei uma miniquadra de vôlei no porão e lá jogávamos vôlei ajoelhados”. 

Alguns pais não tinham ligação com o talento futuro do filho, mas criaram um ambiente de fomento precoce que despertou determinado interesse. Este foi o caso de Adora Svitak, uma escritora de livros infantis e palestrante bem-sucedida.

Adora publicou dois livros aos onze anos de idade e ministrou centenas de palestras internacionais, entre elas uma no TED Talk, assistida por milhões de pessoas. Os pais de Adora, John e Joyce, não eram escritores nem palestrantes, mas eles montaram o cenário para as realizações da filha. De acordo com a mãe de Adora, eles “liam livros interessantes e fascinantes” para ela durante mais de uma hora, todas as noites. “A leitura realmente ajudou a moldar o amor de Adora pelo aprendizado”, disse ela. 

Além do mais, eles encorajaram Adora a escrever desde cedo, dando orientação, ajudando-a a publicar os livros dela e organizando palestras. Joyce acabou por sair do emprego para cuidar da ‘carreira’ de Adora. “É um trabalho em tempo integral e pode ser algo bem difícil. Mas não administro a carreira de uma pessoa qualquer; administro a carreira da minha filha”. 

2. Ensino especializado 

Os pais fazem de tudo para que os filhos recebam um ensino especializado. O mestre enxadrista Kayden Troff aprendeu a jogar xadrez aos três anos observando o pai, Dan, e os irmãos mais velhos. 

Com poucas escolas de xadrez perto de sua casa em Utah, Dan assumiu a tarefa de técnico do filho. Para tanto, ele estudava xadrez de dez a quinze horas por semana durante os intervalos no trabalho e depois do expediente. 

Ele lia livros, assistia a vídeos e estudava os jogos dos grandes mestres. Isso lhe permitiu criar um livro com lições personalizadas para ensinar Kayden durante as sessões noturnas de treinamento. Por fim, quando Dan não conseguia mais acompanhar a evolução do filho, ele conseguiu que Kayden tivesse aulas com mestres enxadristas pela Internet. 

Para pagar pelas aulas que custavam US$300 por mês, Dan, um bancário, e sua esposa arranjaram outro emprego como zeladores e passaram 400 horas organizando um campeonato anual de xadrez. 

3. Determinação

A prática, entre os talentosos, não é nunca acidental, e sim deliberada: tendo um objetivo e para além da zona de conforto. 

A campeã de natação da escola Caroline Thiel descreveu sua cansativa rotina de treinos dessa forma: 

“Em alguns dias de treino você está simplesmente cansada demais. Você está com dor e seu corpo inteiro lateja e é difícil encontrar motivação. Seu cérebro descansa, mas seu corpo continua ativo, com dores musculares, a respiração pesada e vômitos. As pessoas não entendem como é difícil o treino de natação; elas acham que é só se jogar na piscina e nadar”. 

4. Centro de excelência 

Quando perguntei à Jayde Atkins, campeã nacional de rodeio estudantil, por que ela era tão talentosa, ela respondeu: “Olhe tudo o que tenho. Eu tinha que ser boa”. Jayde foi criada num haras na região central de Nebraska e começou a cavalgar aos dois anos de idade.

Seus pais, Sonya e J.B., são jóqueis e adestradores profissionais de cavalos que lhe ensinaram os truques e que praticavam com ela várias horas por dia. Os Atkin tinham bons cavalos e um trailer enorme para transportá-los até as cidades próximas para as competições. O haras da família era um centro de excelência em rodeio. 

A maior parte das pessoas talentosas não tem um centro de excelência dentro de casa. Nesses casos, elas talvez tenham que viajar. Veja três tenistas de Lincoln, Nebraska, minha cidade-natal. Com o apoio e bênção dos pais, Jon e Joel Reckewey saíram de casa na adolescência e se mudaram para Kansas, a três horas de distância, onde treinaram na prestigiada Mike Wolf Tennis Academy. 

Quando criança, Jack Sock, o campeão de duplas em Wimbledon e do US Open, viajava todas as semanas para a mesma escola, até que sua família acabou se mudando para o Kansas. Com o apoio dos pais, estrelas nascentes geralmente gravitam em torno de centros de excelência, onde estão os principais treinadores e as estrelas em ascensão. 

5. Objetivo definido. 

Pessoas talentosas têm um objetivo bem definido. 

O pai de um enxadrista que entrevistei me disse: “O tempo que investimos nessa atividade tirou boa parte da diversão dele”. Outro pai disse: “Ele não se interessa pela escola; ele se interessa pelo xadrez. Ele vive e respira xadrez”. O mesmo pai disse: “Uma vez nós o afastamos do xadrez (por causa do desempenho ruim na escola) e ele ficou inconsolável. Foi como se lhe arrancassem a alma”. 

Quando perguntei aos pais de enxadristas por que seus filhos se dedicavam ao xadrez com tanto empenho, eles foram unânimes em expressar a alegria e satisfação que os filhos tinham diante do tabuleiro. 

Os pais dão apoio a esse objetivo bem definido. Mas às vezes eles podem se ver apoiando mais do que uma simples paixão. É o caso de McKenzie Steiner, jogadora de softball e estrela em ascensão no mundo da música country. Seu pai, Scott, foi por muito tempo o técnico de softball de McKenzie, passando milhares de horas anuais praticando arremessos no quintal, além de trabalhar como promotor e gerente da banda de música country da filha. 

A jornada do talento 

Apesar de as histórias de pais insistentes serem muitas, os pais com os quais conversei reconhecem que as crianças têm de seguir seu talento com amor e trabalho, e que aos pais cabe apenas mantê-los no caminho certo. Eles ajudam porque percebem uma necessidade que só eles são capazes de satisfazer. Eles não deixariam de satisfazer uma necessidade dessas, assim como jamais deixariam de satisfazer uma necessidade de saúde. E, claro, eles ajudam porque amam os filhos e querem que eles sejam pessoas realizadas. 

*Kenneth A. Kiewra é professor de psicopedagogia pela Universidade de Nebraska-Lincoln.

©2019 The Conversation. Publicado com permissão. Original em inglês.

Tradução: Paulo Polzonoff

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