O ministro Ricardo Vélez Rodríguez. Foto: Renato Costa | Estadão Conteúdo| Foto: ESTADÃO CONTEÚDO

Em menos de três meses de governo, o ministro Ricardo Vélez Rodríguez já exonerou dezenas de pessoas em postos-chave no Ministério da Educação (MEC), voltou atrás em várias decisões e tomou uma série de medidas desastrosas.

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Classificada como insossa ou fraca por alguns e desastrosa por outros, a administração de Vélez à frente do MEC consegue desagradar militares, bolsonaristas de todas as tribos, seus próprios ex-alunos, sem contar, é claro, a oposição.

Confira alguns dos fatos mais criticados até agora.

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1. Confusão no edital de compra de livros didáticos

Em janeiro, uma mudança no edital para a compra de livros havia deixado de exigir das editoras referências bibliográficas nas obras (essencial para a qualidade de uma publicação).

Em nota, o ministro da Educação, Ricardo Vélez Rodríguez, disse que a versão do edital, publicada no segundo dia de governo do Bolsonaro, era de responsabilidade da gestão Michel Temer. O ex-ministro da Educação na gestão de Michel Temer, Rossieli Soares, porém, negou essa versão. Até hoje, o MEC não explicou o que de fato ocorreu com o documento.

2. “O brasileiro viajando é um canibal”

Em 1º de fevereiro, uma entrevista de Vélez à revista Veja enfureceu a opinião pública.

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Em um determinado momento, para defender a volta da educação moral e cívica nos currículos escolares, Vélez usou como exemplo os “adolescentes que viajam”. “O brasileiro viajando é um canibal. Rouba coisas dos hotéis, rouba assentos salva-vidas do avião; ele acha que sai de casa e pode carregar tudo. Esse é o tipo de coisa que tem de ser revertido na escola”.

A frase infeliz e a reação negativa de diversos setores da sociedade fizeram com que Vélez fosse tachado abertamente de “despreparado” para estar à frente do MEC.

E Vélez demorou para responder. Só no dia 18 de fevereiro, após ser notificado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) para se explicar pelo ocorrido, o ministro pediu desculpas no Twitter.

3. Hino nacional com slogan de Bolsonaro nas escolas

Talvez um dos erros mais primários cometidos pelo MEC foi o de enviar uma carta a escolas públicas e particulares do país pedindo para que os diretores colocassem os alunos em fila para cantar o hino nacional e lessem uma mensagem, assinada por Vélez, que terminava com o slogan de campanha de Bolsonaro “Brasil acima de tudo, Deus acima de todos”. O ato deveria ser filmado e enviado ao MEC.

Novamente, uma enxurrada de críticas inundou os canais do MEC. O ministro, no dia seguinte, afirmou ter percebido o erro de pedir a leitura do slogan e voltou atrás.

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O equívoco, porém, trouxe à tona do grande público a guerra interna entre diferentes grupos no MEC. Seguidores do ex-assessor especial de Vélez, o coronel-aviador da reserva, Ricardo Roquetti, acusam uma ala “mais ideológica”, os alunos do escritor Olavo de Carvalho e seus amigos, pela ideia de enviar a carta às escolas. Já os "olavistas" ou "olavetes", como são conhecidos os integrantes da “ala ideológica”, culpam Roquetti pela ideia, julgando ainda que ele teria instigado o ministro com o objetivo de desmoralizá-lo. Nenhuma dessas versões foi confirmada.

4. Secretaria Executiva acéfala: MEC troca três “número 2” em menos de uma semana

A pressão do escritor Olavo de Carvalho também seria responsável pela demissão do Secretário Executivo do MEC Luiz Antonio Tozi, ligado a Roquetti, com confirmação dada pelo ministro em 12 de março.

Nos dois dias seguintes Vélez fez anúncios para o cargo que não se confirmaram. Primeiro, o Secretário Executivo seria Rubens Barreto da Silva. Depois, a escolhida para o cargo, em informação dada pelo próprio ministro no Twitter seria Iolene Lima.

Porém, na última sexta-feira, 22 de março, Iolene Lima comunicou no Twitter que não seria mais nomeada como secretária executiva do MEC. Em mensagem ela simplesmente afirmou que "não sabia o que dizer".

Muito menos Vélez, que permaneceu em silêncio sobre o tema e, até hoje, não anunciou quem ocupará o cargo de Secretário Executivo – função mais importante do MEC, depois da de ministro.

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5. A portaria da discórdia: avaliar ou não o nível de alfabetização das crianças?

Outra trapalhada do MEC foi a publicação e a revogação de portaria que suspendia a avaliação do nível de alfabetização das crianças, a famosa “Provinha Brasil” até 2021.

O caso levou à demissão de Marcus Vinicius Rodrigues, ex-presidente do Inep, órgão responsável por essas e todas as outras avaliações do governo, como o Enem.

Marcus saiu do governo atirando: disse ter saído por discordar de comissão criada para analisar as questões do Enem e por tentar barrar integrantes de perfil ideológico e ligados ao filósofo Olavo de Carvalho. Segundo o jornal O Estado de S. Paulo, Rodrigues afirmou ainda ter sido convencido pelo secretário de Alfabetização, Carlos Nadalim, a cancelar a avaliação de alfabetização no país.

Caso o governo seguisse com a ideia de não avaliar as crianças, ficaria 5 anos sem aferir o nível de alfabetização nos primeiros anos. No último levantamento, realizado em 2016, mais de 50% das crianças não estavam alfabetizadas no 3º ano do ensino fundamental.

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