Rio de Janeiro - Uma hora a mais de ciências por dia faria o Brasil subir oito posições no ranking do Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa), da Organização de Cooperação para o Desenvolvimento Econômico (OCDE), que avalia o desempenho de estudantes de 15 anos de 57 países. A avaliação é do economista e professor Victor Lavy, que analisou os dados do Pisa e apresentou as conclusões de seu estudo ontem, durante o Seminário Itaú Internacional de Avaliação Econômica de Projetos Sociais, no centro de convenções da Bolsa do Rio.
No estudo, Lavy, que é PhD em economia pela Universidade de Chicago e professor da Universidade Hebraica de Jerusalém, compara os resultados do conjunto dos países que integram a OCDE com dois grupos específicos: o dos países em desenvolvimento e o do Leste europeu. Na média da OCDE, uma hora semanal a mais da disciplina de ciências resultaria no acréscimo de 15 pontos no ranking. Entre os países em desenvolvimento, o adicional cai para 7,5 pontos, o que seria suficiente para o Brasil ultrapassar a Argentina e a Indonésia.
O ranking da Pisa se baseia no rendimento em três disciplinas: ciências, matemática e leitura. Pelos dados mais recentes da pesquisa, de 2006, o Brasil ocupa a 52.ª posição, com 390 pontos. Na carga horária, temos 2 horas semanais de ciências, 2,7 de matemática e 2,6 de leitura (língua portuguesa).
Os países-membros da OCDE têm, em média, 3,78 horas semanais de ciências, contra 3,05 no Leste europeu e 3,23 nos países emergentes. O economista adverte, contudo, que a carga horária não é o único fator que afeta o desempenho dos alunos. "A Finlândia tem a menor carga horária da Europa e lidera o ranking do Pisa", lembra.
Para Lavy, a qualidade do ensino é fundamental. Para isso, medidas de incentivo aos professores são fundamentais. "Os professores não recebem uma remuneração que reflita a importância do seu trabalho", afirma.
Ele cita como exemplo bem-sucedido de política de valorização dos professores a reforma educacional promovida pelo governo socialista da Suécia em 1991. "A reforma descentralizou a educação, deixando toda a responsabilidade nas mãos dos governos municipais", conta. "Passou a se exigir dos professores que tenham dois diplomas de curso superior, em áreas diferentes." Os sindicatos de professores se opuseram à medida, que foi aprovada de madrugada pelo parlamento sueco.
"As escolas ganharam autonomia e passaram a ser empregadoras de professores", afirma o economista. "Um país que já tinha uma boa educação conseguiu avançar ainda mais."
O jornalista viajou ao Rio de Janeiro a convite da Fundação Itaú Social