Escutar Mozart não ajuda a aprender melhor. E também é mentira que utilizamos apenas 10% do cérebro. Esses e outros mitos sobre o cérebro já foram desmascarados, mas alguns deles continuam vivos em sala de aula e influenciando decisões pedagógicas. Confira comentários a alguns deles feitos por Anna Forés Miravalles, professora da faculdade de Educação da Universidade de Barcelona e coautora do livro recém-lançado Neuromitos da Educación, ainda não traduzido para o português, em entrevista para a Gazeta do Povo.
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1) MITO: Português e matemática são as matérias mais importantes para o cérebro
Português e matemática são disciplinas essenciais e costumam ser o foco principal das avaliações realizadas para aferir a qualidade de educação de uma instituição. Mas as matérias menos reconhecidas pelas leis de educação de diferentes países são as que auxiliam o cérebro a funcionar melhor, afirma Anna Forés. “Os estudos de neuroimagem mostram que disciplinas como artes, filosofia e educação física são as que realmente ajudam a aprender mais”.
2) MITO: Crianças precisam ser ensinadas de acordo com o canal que aprendem melhor (visual, auditivo, cinestésico)
Na verdade, a aprendizagem é incompleta se uma criança é ensinada apenas com imagens (canal visual), ou só pelos sons (canal auditivo) ou ainda restringindo a movimentos (canal cinestésico). “Quanto mais rico é o estímulo, por diferentes canais, maior a utilização do cérebro e a aprendizagem. Se se utiliza apenas um canal, estamos perdendo o conhecimento proporcionado pelos outros”.
3) MITO: Podemos classificar os estudantes de acordo com sua predominância cerebral, seja do hemisfério esquerdo ou direito
Há muito tempo já não se considera que o lado esquerdo do cérebro seja o único responsável pelo desempenho das funções lógicas, por exemplo, e o direito pelas funções artísticas e criativas. Somente uma lesão cerebral impede a utilização de algum lado do cérebro. Ainda que se identifiquem áreas nos equipamentos de neuroimagem que sempre estão ativas em determinadas atividades, o cérebro parece agir como um todo nas diferentes funções.
4) MITO: Matemática é difícil ou uma determinada pessoa não é capaz de aprender a disciplina
Anna Forés explica a necessidade de distinguir entre o processo matemático, fácil de entender se é feito por meio de jogos e experiências, e a linguagem matemática. “A matemática pode parecer incompreensível para alguns porque a linguagem que a acompanha é difícil”. Quando uma criança entende um conceito matemático manipulando objetos ou por meio de simulações é mais fácil que consiga depois nomear os conceitos e compreender os raciocínios abstratos.
5) MITO: Quanto mais tempo na escola, mais a criança vai aprender
Quantidade não é qualidade. Alunos que ficam muito tempo sentados, apenas recebendo conteúdos, sem movimento do corpo ou experiências, terão menor aprendizagem.
6) MITO: Atividades prazerosas desviam o foco do importante
O prazer é o maior aliado da aprendizagem. As experiências afetivamente positivas são altamente eficazes para adquirir conhecimento. “Tudo que passa pela emoção, irá para a memória e ficará guardado. O estresse, ao contrário, por um mecanismo de sobrevivência que evita o perigo, impede o cérebro de reter informações”, explica Anna Forés.
7) MITO: É preciso dormir apenas o necessário para poder estudar mais
Os equipamentos de neuroimagem mostram como durante o sono o cérebro organiza os conteúdos estudados e fixa o aprendido. Crianças e jovens precisam dormir bem – depende muito de pessoa para pessoa, mas as tradicionais 8 horas continuam a ser um parâmetro – para que esse processo se cumpra. E, muito importante, é preciso desligar o celular, computador ou tablet: com a tela ligada, o cérebro interpreta estar ainda em atividade e será mais difícil conciliar o sono.
8) MITO: Exercícios de “ginástica cerebral” aumentam a inteligência
Exercícios cerebrais não aumentam a inteligência (não se pode mudar o QI de uma pessoa) e também não está cientificamente comprovado que ajudem a melhorar a aprendizagem. “É como ouvir Mozart durante o estudo: mal não fará, mas não há nenhum indício científico da sua eficácia”.
*** Livros sobre aprendizagem e neurociência:
- Os Neurônios da Leitura, Stanislas Dehaene, Editora Penso, 2012.
- Neurociência e Educação. Como o Cérebro Aprende; Ramon M. Cosenza e Leonor B. Guerra, Editora Artmed, 2011.
- Inteligência Humana. Abordagens Biológicas e Congnitivas. José Aparecido da Silva. Editora Lovise, 2003.
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