Ler e Pensar
Repórteres sociais
Nesse modelo ideal de educação, a aprendizagem contextualizada se inicia lá nas séries iniciais do Fundamental e deve fazer parte de toda Educação Básica e até do Ensino Superior. O projeto Ler e Pensar da Gazeta do Povo também participa dessa mudança. É o exemplo da professora Kelly Cristina do Nascimento, da Escola Municipal Clotário Santos em Palmeira. Kelly resolveu utilizar o jornal para envolver sua turma de 4ª série com as questões do cotidiano e, de quebra, estimular a aprendizagem. Sua ideia foi que os alunos atuassem como repórteres e investigadores das notícias da região. O projeto buscou valorizar a linguagem escrita, desenvolvendo um trabalho centrado na leitura e proporcionando condições para que as crianças ampliassem e recriassem o conhecimento já existente em diversas áreas. Com enfoque nas questões sociais urgentes, os temas transversais também foram abordados. Dentre as atividades, foi organizado um jornal mural na sala de aula, para que todos da escola pudessem ler as notícias produzidas. A diretora da escola, Elediane de Toni, encoraja o projeto: "O trabalho com jornal é incrível e oferece inúmeras possibilidades. Os alunos tornam-se mais críticos não só quando leem, mas quando estabelecem relações do que foi lido com o mundo que os cerca".
Desde a implantação dos sistemas de avaliação do ensino, como o Exame Nacional do Ensino Médio Prova Brasil, muitas são as polêmicas acerca da qualidade da educação brasileira. A divulgação recente dos resultados do Enem ainda fortaleceu certos questionamentos e provocou a sociedade para refletir sobre a quantas anda ao ensino no país. Fala-se em desigualdade socioeconômica, metodologias de avaliação equivocadas, depreciação da profissão do professor, elitização e segregação de alunos, entre outros aspectos. A intenção aqui não é a de tratar dessas questões; mas de pensar um pouco sobre um novo conceito de ensino e aprendizagem.
Desde a década de 80 quando as questões sobre a alfabetização plena começou a ser pauta frequente da educação podemos afirmar que há mudança de percepção sobre o que é o ensino brasileiro, e a própria existência de questionamentos da mídia e sociedade civil já é prova disso. Percebe-se uma movimentação. O ensino tradicional, curricular e conteudista já não é mais suficiente, se o objetivo é a formação integral do cidadão. Integral, no sentido de não formar apenas para as questões escolares, mas para a vida. É importante que o compromisso da educação não esteja pautado em elevar os índices das avaliações, mas em preparar indivíduos capazes de entender a sua realidade e nela interferir.
O caminho é longo, mas possível de ser traçado. Estamos falando de um caminho para uma educação crítica e contextualizada, presente desde os anos iniciais do Ensino Fundamental. Inserir nas aulas elementos pedagógicos que deem maior significado ao ensino e à aprendizagem já é um passo importante nessa mudança. Nesse caso, programas que aliam mídia e educação como o projeto Ler e Pensar, idealizado pela Gazeta do Povo podem auxiliar a contextualização das informações na realidade social e facilitar o entendimento global. Discutir sobre a atualidade e articular questões culturais, sociais, econômicas e políticas com conteúdo escolar trazem resultados significativos para o desenvolvimento cognitivo e, portanto, para a formação de um leitor crítico, participativo e atuante em sociedade.
Ranking
Sim, o ranking das melhores escolas avaliadas pelo Enem é questionável. Mas o problema está no que fazemos com essas avaliações. Antes de tudo, elas devem ser instrumentos que meçam novas formas de se construir conhecimento. Devem avaliar o esforço que cada aluno e cada escola fizeram no desenvolvimento e na qualidade da educação; não servir como simples sistema classificatório e competitivo entre escolas. O ranking, além disso, também pode ser ponto de partida para entendermos as melhorias desses desempenhos. Para conseguir aprimorar suas notas no ano seguinte, é preciso aprimorar também sua estrutura de ensino.
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