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Iniciativa

A educação além da escola

Ação recreativa em Campo Largo: comunidade trabalha com autonomia pelo desenvolvimento educativo da região | Divulgação
Ação recreativa em Campo Largo: comunidade trabalha com autonomia pelo desenvolvimento educativo da região (Foto: Divulgação)

É possível pensar e agir na educação sem envolver a escola? Os defensores dos Arranjos Educa­tivos Locais (AEL) dizem que sim, e acrescentam que entidades formais muitas vezes até atrapalham eficientes ações individuais que promovem práticas de aprendizagem. A valorização de iniciativas pessoais, e não de instituições, é característica essencial do modelo em que qualquer ambiente de convivência pode ser usado para o desenvolvimento educativo de uma comunidade.

O tema foi discutido no Congresso Internacional de Cida­des Inovadoras (CICI) 2011, realizado entre 17 e 20 de maio no Centro de Inovação, Educação, Tecnologia e Empreendedorismo do Paraná (Cietep) e, apesar de o nome não ser muito conhecido, práticas existentes em bairros, vilas e igrejas se enquadrariam no que convencionou-se chamar de AEL. Segundo Luiz Fernando Guggemberger, responsável por projetos sociais do Instituto Vivo, a ideia que fundamenta um AEL é a cooperação de pessoas em determinada localidade que colocam seus talentos e seu desejo de aprender a serviço umas das outras, criando ambientes de aprendizagem, sem que qualquer instituição imponha determinado currículo, divisões de faixa etária ou norma burocrática.

Citado por seus motivadores mais como experiência social do que como sistema, a matéria-prima para o funcionamento de um AEL seriam os conhecimentos e capacidades pessoais daqueles que moram em determinada comunidade. "Você pode fazer uma aula de violão na porta de casa, na calçada com seus vizinhos, na praça, ou em qualquer espaço da comunidade, sem que alguém defina para você onde ou o que aprender", exemplificaGuggemberger.

Desde 2009 o Serviço Social da Indústria (Sesi-PR) assumiu o papel de estimulador deste tipo de prática no estado, buscando aperfeiçoar arranjos já existentes, colocando em contato criadores de ideias que poderiam ser complementares e promovendo os benefícios da cooperação comunitária. Agentes de aprendizagem fazem pesquisas de porta em porta procurando identificar que tipo de conhecimento seria relevante para a comunidade onde estão. Os resultados servem de base para as articulações necessárias, que vão desde a identificação das capacidades dos moradores até os contatos com empresas, órgãos públicos ou outros potenciais parceiros.

De acordo com José Fares, presidente do Sesi-PR, o papel da instituição é o de aliado, não o de condutor. "Cabe a nós viabilizar condições de espaço e recursos para que essas pessoas conversem e façam algo relevante para a própria comunidade. Algo muito prático e sem burocracia", diz Fares, para quem a autonomia das pessoas no AEL é o grande diferencial em relação aos sistemas de educação formal.

Ambiente

Apesar das numerosas críticas feitas ao atual sistema de educação formal, os debatedores do tema no CICI 2011 não apontam as práticas de AEL como uma oposição à escola, mas enfatizam que a instituição escolar é apenas parte, e não o centro do processo educativo. Segundo Nilton Lessa, diretor da empresa de gerenciamento de informação Moleque de Ideias, a exclusividade da escola como ambiente de aprendizagem é um erro. "Há uma separação malévola entre ambiente do aprender e ambiente do fazer. Isso não existe, mas é muito aceito e propagado", diz Lessa sobre a cultura de se promover o conhecimento apenas em locais de educação formal.

Na opinião de Ana Beatriz Goulart, arquiteta e conselheira de projetos de AEL, há a necessidade de desenvolver formas alternativas de educação, sem necessidade de aparatos burocráticos ou leis específicas. "Nossas escolas são como são porque quem faz pesquisa na área não tem nada a ver com quem faz a legislação para educação. Há uma grande distância", constata.

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