Iniciativa
Um jeito de espantar a dor e voltar à fantasia
Assim como na vida de Lucélia Clarindo, coordenadora do Bando da Leitura, a aposentadoria apresentou um novo e fascinante capítulo à vida da professora de séries iniciais Clarisa Wolff Garcez, de Porto Alegre (RS). Mesmo afastada das salas de aula, ela sentia uma vontade grande de continuar levando o hábito da leitura para as crianças, como já fazia nas aulas. Há 15 anos, ela desenvolve voluntariamente um projeto de acompanhamento pedagógico e leitura para crianças que vão passar ou passaram por alguma cirurgia de transplante de órgão na capital gaúcha.
No começo, ela desenvolvia o trabalho apenas no Hospital da Criança Santo Antônio. Há dez anos, Clarisa estendeu o projeto "Leitura: a janela para um novo mundo" para a organização não-governamental Viavida, que oferece assistência e abrigo a crianças que precisam de transplantes de órgãos. "Como elas vêm de vários lugares do Brasil e acabam faltando muitas aulas, eu faço um planejamento específico de estudo para cada uma. O atendimento é individual, exceto nas reuniões do nosso grupo de leitura. Duas vezes por semana, eu leio uma história para elas e depois nós debatemos. É bastante interativo e as crianças se divertem", comenta.
Clarisa acredita que a leitura tem um papel fundamental na reinserção desses meninos e meninas na vida escolar, quando eles se recuperam das dificuldades que envolvem um transplante. "A criança vive num mundo de fantasia e isso faz parte do desenvolvimento dela. A doença, no entanto, apresenta uma realidade muito pesada. Nesse contexto, a leitura acaba transportando a criança de volta para esse mundo mágico", salienta.
Adolescentes
Também às quartas-feiras, o quintal de Lucélia Clarindo recebe o Bando da Leitura Adolescente, dirigido às crianças com 12 anos ou mais. Os contos de fada abrem espaço para debates sobre enredos mais complexos. "Temos uma psicóloga voluntária que propõe discussões a partir de livros da Marina Colassanti, da Clarice Lispector, entre outros", explica Lucélia. Com 13 anos, Lorena Chemin já tinha feito um trabalho sobre Fernando Pessoa, mas foi pelo Bando que ela se encantou pela obra do escritor português. "Foi a partir dessas reuniões que eu comecei a ter um contato mais próximo com a literatura como hábito. Senti uma melhora inclusive no meu desempenho escolar", ressalta.
Bando da Leitura
As reuniões ocorrem às quartas-feiras, a partir das 14 horas, na Rua Roberto Auer, 141, em Ponta Grossa. Visitas em grupo precisam ser agendadas pelo telefone (42) 3329-5334.
Toda quarta-feira, dezenas de crianças têm encontro marcado com bichinhos falantes, fadas, heróis e outros seres mágicos no quintal da professora aposentada Lucélia Clarindo, em Ponta Grossa, nos Campos Gerais. Em 2007, quando o projeto Bando da Leitura começou, na sala da casa dela, a professora nem imaginava que se tornaria protagonista de uma bela história de incentivo à formação de muitos pequenos leitores. O projeto voluntário é hoje um espaço alternativo de leitura reconhecido pelo Ministério da Cultura e conta com um acervo de cerca de 3 mil livros.
O Bando terá a primeira reunião oficial de 2014 em 5 de fevereiro, mas, na semana passada, houve uma edição especial para cerca de 20 crianças. Lucélia transforma a sombra de uma árvore em palco e aparece com uma valise metálica e colorida nas mãos, como se estivesse chegando de uma viagem imaginária. "Tem um monstrinho dentro dessa mala! Será que eu abro? Vocês não estão com medo?" Essa é a deixa para uma simpática lagarta de espuma sair da escuridão da mala e contar a história da sua transformação em borboleta.
Durante a contação da história, ela abre espaço para as crianças darem suas opiniões ou tentarem adivinhar o rumo dos fatos. De uma maneira divertida e interativa, elas acabam se envolvendo com a fábula Dona Marta Lagarta, escrito há mais de 20 anos por Lia Dalva Grosso e Thelma Bellotti. Assim que termina de contar as histórias, Lucélia abre a porta da biblioteca do Bando para a meninada. "Esse é um momento em que eles ficam totalmente livres. Podem escolher os livros que quiserem. Algumas crianças até estranham essa liberdade, mas acabam se acostumando. Às vezes, eu fico quieta, só assistindo à discussão delas sobre os livros", relata.
O método surpreendeu as crianças que visitaram o Bando pela primeira vez na semana passada, mas é velho conhecido de dezenas de pequenos "bandoleiros" que têm compromisso marcado toda semana no quintal da professora. Luana Carrano Mayer, 9 anos, se acostumou a reservar as tardes de quarta-feira para ler e ouvir histórias. "Faz dois anos que eu comecei aqui. Gosto muito dos teatrinhos, das brincadeiras e, principalmente, da leitura", conta.
Ler faz bem... sempre
Escritora de livros infantis, a carioca Ieda de Oliveira é especialista em literatura para crianças. Ela acredita que a contação de histórias, desde os primeiros anos de vida, é fundamental para que os pequenos comecem a ler por prazer e não por obrigação. "O melhor caminho para que as crianças não percam o interesse pelo hábito é que pais e professores também não percam o interesse. Que inventem atividades prazerosas, que sejam cúmplices nesse prazer, que sejam companheiros e que não façam da literatura pretexto para ensinar ou doutrinar as crianças", comenta.
Iniciativa partiu das crianças
Pedagoga especializada em Arte e Literatura, Lucélia Clarindo sempre estimulou seus alunos a lerem por prazer. "Logo que eu saí da última escola em que eu lecionei, as crianças voltaram às aulas e sentiram a minha falta. As leituras que eu passava para elas não eram apenas atividades de escola, eram leituras para a vida. Tanto que elas queriam continuar lendo além dos muros da escola", salienta.
Tudo começou em 14 de março de 2007. "Por iniciativa de duas meninas, marcamos um encontro naquela tarde para falar sobre poesia. Na quarta-feira seguinte, as próprias meninas trouxeram mais cinco crianças. No terceiro encontro, já eram 13. E assim o Bando foi aumentando", relembra.
Com a ajuda de empresas e entidades, o projeto ganhou o acervo de livros, a sala onde fica a biblioteca e um ateliê. Os participantes também podem emprestar os livros. "Eu sempre peço que eles procurem devolver na próxima quarta-feira, mas não temos a rigidez de uma biblioteca convencional", assinala a coordenadora. Segundo ela, o Bando está aberto a qualquer criança que tenha curiosidade pela leitura. O projeto também aceita a doação de livros de literatura.
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