Aos 4 anos, Laura Paludzyszyn DAvila Cargnin já sabia escrever usando o computador. Isso porque adorava um jogo on-line que exigia a associação de letras e figuras. Durante o 1.º ano do ensino fundamental não teve problemas na escola, mas assim que Laura passou para o 2.º a dor de cabeça começou. "Ela teve de começar a escrever a letra cursiva e a usar um caderno de caligrafia, o que odiava", conta a mãe de Laura, a empresária Ana Paula Paludzyszyn. Hoje, com 8 anos e no 3.º ano, Laura está mais habituada à letra de mão, e feliz da vida por ter aposentado o caderno de caligrafia. "Ela aprendeu a escrever das duas formas, mas faz confusão com a letra cursiva, pois cada um enfeita de um jeito, faz voltinhas nas letras, então ela tem dificuldade", conta a mãe.
Nos Estados Unidos, cada vez mais as crianças não precisam se preocupar com as letrinhas desenhadas e a bela caligrafia. A exigência e o ensino da letra cursiva perde força na maior parte dos estados e dá lugar à letra de forma e à digitação. Com o crescente contato com novas tecnologias, como celulares, computadores e tablets, essa tendência de abandono da letra cursiva e a adoção maior da letra de forma (que também é chamada de letra bastão ou de máquina) tornam-se cada vez mais fortes e preocupam pais e professores.
Deixar de escrever usando a letra de mão é prejudicial às crianças? Essa é uma discussão que divide os especialistas. Para a professora da Universidade Federal do Paraná (UFPR) e doutora em Educação Araci Asinelli da Luz, a escrita é importante para desenvolver a psicomotricidade fina, fundamental para o desenvolvimento psicomotor. "Veja a dificuldade que alguns adultos e idosos, ao ingressar no EJA [Educação de Jovens e Adultos], apresentam ao segurar um lápis ou caneta pelo fato de não terem desenvolvido esta habilidade na idade propícia. Quanto mais estimulado o cérebro, mais sinapses ele faz, aumentando sua capacidade. E o olhar e o uso das mãos, em especial os polegares, têm grande influência no desenvolvimento das sinapses", diz.
Por sua vez, o psicólogo e doutorando em Educação pela UFPR Maurício Wisniewski, afirma que mesmo com a diminuição do uso da escrita, as habilidades manuais continuam sendo exercitadas. "Outras coisas dependem hoje de manejo tanto quanto escrever a caneta ou lápis. Jogar videogame e escrever em computadores e tablets exige habilidade motora para segurar e tocar a tela", diz.
Substituição da escrita ocorre gradualmente
No Brasil, as crianças começam a identificar as letras e a escrevê-las usando a letra de forma, mas depois precisam adotar a cursiva. A escolha deveria ser do aluno, diz a pedagoga Evelise Portilho, coordenadora do curso de Psicopedagogia da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR). "Não há lógica dizer que ela deve começar com a cursiva e não pode usar a outra, ou o contrário. Não há fator claro que comprove que uma letra é mais benéfica que a outra para a aprendizagem", diz.
Para a mestre em Educação e Profissionalização e especialista em Metodologia do Ensino Margarete Terezinha de Andrade Costa, professora da Estácio, um tipo não deve substituir o outro. "Não há necessidade de se eliminar a letra cursiva em razão do aumento do uso da letra de forma. As duas devem conviver. A letra de forma é o suporte da comunicação digital, mas em várias situações aparecerá a letra cursiva e todos devem ter a oportunidade de conhecer e usar", diz. Margarete lembra também que, na escrita, não se pode esquecer da legibilidade e da diferenciação de letras maiúsculas e minúsculas, que devem ser respeitadas por conta da normatização da língua.
A letra de mão é usada sobre o papel há cerca de 7 mil anos e há algumas décadas uma letra bem desenhada era um sinal de status. "Hoje o status está mais ligado a pessoa ser midiática, ter redes sociais e ferramentas tecnológicas. Nos últimos anos as pessoas estão cada vez com mais dificuldade em usar o caderno e a letra cursiva e raramente estão preocupadas com a estética da letra", afirma o psicólogo Maurício Wisniewski.
Entre vantagens e desvantagens de ambos os lados, em vez de serem vistos como vilões, os recursos tecnológicos podem ser vistos como parceiros da escrita, segundo Margarete. "Eles possibilitaram o aumento do ato de escrever e os jovens comunicam-se pela escrita cada vez mais. Mesmo cometendo erros gramáticos severos, deve-se considerar que o ato de comunicação está realizando-se com eficiência. Erros ortográficos são mais fáceis de corrigir que bloqueios na comunicação", afirma.
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