Imagine que você seja Jeanne Allen – que se juntou a mim recentemente em “Common Ground” – e você é uma reformista educacional de longa data, e cunhou a frase “mochilas cheias de dinheiro”.
E a frase está se popularizando porque realmente incorpora uma ideia empolgante na educação americana – a noção de que, em vez de alocar grandes montantes para o sistema educacional, passemos a dar para cada criança uma mochila cheia de dinheiro para gastarem com a educação que os seus pais acharem mais apropriada.
O dinheiro na mochila vai para a escola que os pais escolherem. Se as escolas públicas tiverem bom desempenho, os pais poderiam mandar os seus filhos – e as suas mochilas cheias de dinheiro – para elas.
Se ambientes escolares privados ou especializados ou virtuais ou domésticos forem mais adequados para os interesses dos estudantes, o dinheiro poderia ir para eles.
Imagino como ela deve ter ficado empolgada quando produtores por trás de um documentário sobre educação entraram em contato com ela há cinco anos sobre a frase e o seu significado.
Agora imagine a sensação de ser Allen hoje. Aquele filme está sendo lançado, e, em vez de um tratamento equilibrado de uma variedade de abordagens, é um ataque desonesto à sua ideia.
O trailer deixa isso claro, abrindo com uma sequência de locutores do filme.
“Essa ‘mochila cheia de dinheiro’ é sobre privatizar, não melhorar, a educação pública”, diz um deles. “É uma oportunidade para ilhas de privilégio em um mar de desigualdade”, diz outro. “Não há pesquisa de qualidade que mostre que isso é um bom método de ensino e aprendizagem”, diz um terceiro.
Melhor do que isso, segundo eles, seria gastar mais em escolas públicas.
Além disso, Matt Damon, de quem ela gostava muito, é o narrador.
Damon não está nos contando a história da sua experiência na escola pública – uma escola pública em uma região de alta renda em Cambridge, Massachusetts, uma das preferidas das pessoas de Harvard.
O que não é surpreendente é que ele parece não conseguir encontrar esse tipo de experiência atualmente na Califórnia, e manda os seus filhos para escolas particulares. Parece que ele pensa que o resto de nós apenas precisamos trabalhar um pouco mais e gastar um pouco mais nas nossas escolas públicas do jeito que elas estão.
Essa é a parte que chega a Johnny Taylor, CEO do fundo de financiamento de ensino superior Thurgood Marshall College Fund, que se juntou a mim e Allen no programa. Ele deveria saber disso, o seu fundo ajuda 300 mil estudantes afroamericanos a entrarem na faculdade a cada ano.
O exame da Avaliação Nacional de Progresso Educacional, ou NAEP – largamente considerado o boletim escolar da nação – constatou no ano passado que dois terços das crianças americanas não têm a proficiência adequada para a sua série escolar em nenhuma disciplina. Nem matemática. Nem cívica. Nem leitura, história ou geografia.
Entre imigrantes e minorias, os números são ainda piores. No sistema educacional de Washington, D.C., que tem o segundo maior gasto por estudante do país, apenas 17% dos estudantes negros e latinos na oitava série estão com desempenho em matemática ou inglês adequados à sua série.
Isso é um a cada seis estudantes, o que é próximo do índice nacional de desempenho de estudantes parte de minorias.
Taylor se apoia na sua experiência trabalhando para o inovador do setor de mídia, Barry Diller. “A educação é uma indústria que se recusa a inovar. E é isso que me incomoda. Não vamos fingir que todas as nossas escolas públicas estão funcionando perfeitamente. Por que não podemos desejar que elas sejam melhores?”, explica Taylor.
Mas nós temos uma estrutura educacional – com Damon como seu porta-voz – que parece mais preocupada em manter as exigências dos sindicatos de professores do que melhorar as escolas.
Allen diz acreditar que Damon pode ser educado sobre isso.
Então vamos tentar um exercício teórico que pode persuadi-lo. E se Hollywood fosse gerenciada como as escolas? Isso não significaria um monopólio com um estúdio central que controla todas as produções?
Será que Damon concordaria em ganhar a mesma quantidade de dinheiro por filme do que os piores atores de Hollywood, do mesmo jeito que os piores e melhores professores ganham o mesmo salário?
Será que os filmes teriam cor ou até mesmo som? Ambos foram apostas caras feitas por estúdios menores para terem uma vantagem competitiva em relação aos concorrentes maiores.
Não é que tudo esteja perdido nas escolas públicas. É que, se dois terços das crianças americanas não são proficientes em nenhuma disciplina, nós não podemos nos fechar a tentativas de inovação.
E nós não podemos deixar Damon, Hollywood ou sindicatos de professores entrarem no caminho.
William L. Walton é o apresentador de “Common Ground with Bill Walton”. Ele é o fundador e presidente da Rappahannock Ventures LLC, uma firma de capital privado, e da Rush River Entertainment, uma produtora de audiovisual. Walton é um dos administradores da The Heritage Foundation.
Publicado originalmente no Daily Signal. Tradução: Andressa Muniz.
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