No início deste ano, o departamento de psicologia da universidade americana de Yale aceitou a proposta da professora Laurie Santos e abriu vagas para uma disciplina chamada “Psychology and The Good Life” (“Psicologia e a boa vida”, em tradução livre).
Laurie e a própria universidade esperavam poucos interessados, não mais que 100 inscritos. Mas em menos de uma semana cerca de 1200 estudantes se matricularam no curso – que se tornou a disciplina com o maior número de matriculados na história da instituição.
“Muito do estresse que vemos nos campi universitários são apenas um minúsculo microcosmo do tipo de estresse que vemos em todo o mundo”, diz Laurie, PhD em Psicologia.“Precisamos dar aos estudantes ferramentas para gerenciar estresse, depressão e ansiedade”, completa.
Em entrevista à Gazeta do Povo, Laurie fala sobre como concebeu a disciplina, seus resultados e a relação entre felicidade e universidade. Confira.
Como o curso surgiu? O que motivou sua criação?
Percebi que estudantes de graduação são muito mais infelizes, estressados e preocupados com o futuro do que as pessoas percebem. Universitários estão mais deprimidos e ansiosos do que nunca, e queria oferecer a eles estratégias melhores, cientificamente garantidas, para se tornarem mais felizes e melhorarem suas vidas.
O objetivo é ensiná-los o caminho certo para ocupar seu tempo, as coisas certas para se preocupar e as coisas certas para se concentrar enquanto estão na universidade, para que assim possam mudar seu cotidiano. O curso pode ajudá-los a superar não apenas o tipo ocasional de depressão e ansiedade, mas até mesmo problemas maiores.
Qual foi a resposta inicial de estudantes e da comunidade de Yale?
Fiquei impressionada. O curso se tornou a maior turma da história de Yale, com quase 1200 estudantes matriculados. Tivemos que lecionar a disciplina em um auditório porque não havia outro espaço que suportasse a turma toda.
Por que algo que parece simples desperta tanto o interesse dos alunos?
Os estudantes querem uma cultura menos estressante e mais feliz. A excitação com o curso sugere que eles querem usar a ciência da psicologia para se sentir melhor. Eles querem mudar, se tornar mais felizes e mudar a cultura no campus.
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Veja: com um em cada quatro estudantes em Yale participando, se vemos bons hábitos, coisas como estudantes demonstrando mais gratidão, procrastinando menos, aumentando conexões sociais, estamos realmente modificando a cultura da instituição.
Há uma definição de felicidade? O que a psicologia fala sobre isso?
Penso na felicidade como duas faces. Há momentos "Você está se sentindo positivo?", com muito sorriso, risadas e bom humor – não negatividade e depressão.
Mas também é preciso se questionar: “como você está se sentindo com sua vida em geral?”. E se você está com muito humor positivo e sente que tudo está indo muito bem, então diria que você é muito feliz.
Já pesquisadores definem o bem estar individual como uma combinação das nossas avaliações cognitivas de como as nossas vidas estão. Por exemplo, se estamos satisfeitos com nossas vidas, assim como nossos estados afetivos – se estamos sentindo mais emoções positivas do que negativas.
Veja, não é um profundo mistério da natureza humana: é apenas uma questão de colocar essas sugestões em prática quando a cultura em que estamos inseridos não as incentiva.
Como esse conceito se relaciona com a realidade da vida universitária?
Acredito que muito do estresse que vemos nos campi universitários são apenas um minúsculo microcosmo do tipo de estresse que vemos em todo o mundo, em nossas vidas adultas, no nosso cotidiano.
Pesquisas mostram que a felicidade vem por meio de práticas simples — coisas como tirar tempo para ser grato, ser mais consciente, dedicar mais tempo para as pessoas que gostamos, fazer coisas positivas para os outros, e práticas saudáveis, como dormir bem e se exercitar.
Simplesmente tornando mais recorrentes essas práticas, é possível melhorar o bem estar.
O que outras universidades podem aprendem com essa experiência? Quais ações podem ser feitas para melhorar a saúde dos estudantes?
Agora muitas outras universidades têm cursos similares para ensinar aos estudantes a ciência do bem estar. E muitas universidades estão entrando em contato para pedir uma cópia da minha ementa para ver se uma versão do curso poderia ser ministrada.
Odeio vê-los [os alunos] gastando anos ansiosos e preocupados com o futuro, então quis ampliar esse diálogo sobre a cultura da Yale de forma geral. E fico feliz que se tornou uma conversa maior do que pretendia.
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