O estudante Pedro Bellitani Baleotti, 25, foi expulso da Universidade Presbiteriana Mackenzie, depois da repercussão de vídeo no qual ele aparece dizendo "Tá vendo essa negraiada? Vai morrer! Vai morrer!". Os insultos diziam respeito a duas pessoas negras em uma moto no trânsito de São Paulo.
A decisão da universidade foi tomada em dezembro de 2018 e consta de um parecer do Ministério Público sobre o caso. Diante da expulsão, a Promotoria não viu necessidade de mover uma ação civil pública e optou pelo arquivamento do processo.
"Não se vislumbrando fundamento para a propositura de ação civil púbica ou para qualquer outra medida legal, já que suficientes as providências já adotadas, promovo o arquivamento dos autos", afirmou o promotor Eduardo Ferreira Valeiro, em seu despacho.
Sobre as providências, ele se refere no documento tanto à ação de expulsão promovida pela universidade quanto à ausência de vínculo dele com a OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), também confirmada nos autos.
Segundo explicou o promotor, o presidente da OAB informou que o estudante "não integra os quadros de inscritos da entidade, quer como estagiário, quer como advogado". Por isso, não foi necessário a adoção de nenhuma outra medida disciplinar.
Caso
Aluno do 10º semestre do curso de direito, Baleotti estava suspenso desde outubro. No vídeo gravado por ele mesmo, o jovem diz que estava indo votar "ao som de Zezé, armado com faca, pistola, o diabo, louco para ver um vadio, vagabundo com camiseta vermelha e já matar logo". Na parte final da gravação, ele filma duas pessoas negras em uma moto e afirma: "Tá vendo essa negraiada? Vai morrer! Vai morrer! É capitão, caralho", numa referência ao então candidato e atual presidente do país Jair Bolsonaro (PSL).
Num segundo vídeo, o estudante segura um revólver e canta "capitão, levanta-te".
Depois que a gravação viralizou, o jovem foi identificado por colegas da universidade e virou alvo de protestos. Mais de mil alunos se reuniram nos períodos da manhã e da noite para cobrar providências e a punição do universitário. Ele também foi demitido do escritório em que atuava como estagiário.
Para Adrielly Letícia Silva Oliveira, uma das alunas que liderou as manifestações no Mackenzie, a decisão foi justa e serve de exemplo para evitar outros casos de racismo no meio acadêmico.
"Acho que foi a coisa certa. No Brasil as pessoas acham que o racismo se resolve com um pedido de desculpas, mas não é simples assim. É algo sério, um crime. Quando você vê um futuro jurista, aquele que deveria garantir os direitos de outras pessoas, tendo uma atitude racista e dizendo que negros têm que morrer, é preciso agir."
Adrielly é negra e diz que se sentiu ameaçada com as declarações de Baleotti. Ela conta que, na ocasião da divulgação das imagens, reuniu-se com outros dois colegas, Christiane Cese e João Eduardo Pinheiro, e juntos resolveram iniciar uma mobilização via internet.
Segundo ela, houve grande adesão de outros alunos, de entidades acadêmicas e movimentos estudantis e até de professores. Como resultado dos protestos, um grupo de cerca de 11 alunos foi chamado para uma reunião com a reitoria do Mackenzie, que resolveu instaurar um processo interno de averiguação e suspendeu de imediato o aluno.
Na época em que o caso ganhou visibilidade nacional, o estudante contou, em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo, que o vídeo foi enviado por WhatsApp para um amigo que vive em Londrina, interior do Paraná, sua cidade natal. Segundo ele, o amigo, que votou em Ciro Gomes (PDT) no primeiro turno, teria repassado a outras pessoas.
Arrependimento
"Foi uma fala completamente infeliz, eu estou completamente arrependido, não imaginava essa proporção que o vídeo ia tomar. Fiquei arrasado e arrependido pelo sofrimento que eu possa ter causado para todas essas pessoas", diz ele.
De acordo com Pedro Baleotti, a fala foi motivada por "indignação", porque ele carrega "um sentimento de injustiça de muitos anos com o governo federal, assim como 55 milhões de brasileiros".
"Acabei externando nessas palavras completamente equivocadas, erradas, a pessoas que não tinham nada a ver com a minha indignação. Pelo contrário, não sou uma pessoa racista, muito menos violento. Quem me conhece, pode atestar meu comportamento, até pela minha formação familiar, pessoal. Estou extremamente triste e até preocupado com os efeitos que eu possa ter causado para as pessoas afetadas", justificou.