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Aluno da primeira turma de cotistas raciais da UFPR chega ao doutorado

Wellington Oliveira dos Santos é professor da Universidade Estadual de Goiás e vai defender tese de doutorado em Educação. | Jonathan Campos/Gazeta do Povo
Wellington Oliveira dos Santos é professor da Universidade Estadual de Goiás e vai defender tese de doutorado em Educação. (Foto: Jonathan Campos/Gazeta do Povo)

Quando iniciou a graduação em Psicologia na Universidade Federal do Paraná (UFPR), Wellington Oliveira dos Santos ainda não tinha ideia de aonde a vida de calouro o levaria. Doze anos depois de ver o nome na lista dos aprovados da primeira turma de cotistas raciais da universidade, em 2005, ele se prepara para defender, nesta terça-feira (7), o doutorado em Educação na UFPR. E, mais do que isso, para ser o primeiro cotista apoiado pelo Programa Afroatitude a defender uma tese na instituição.

O caminho até aqui, no entanto, foi de muito esforço e dedicação. Filho do meio de Lucinda Oliveira e Adelino Santos, Wellington foi o primeiro integrante da família a entrar na universidade. Seus pais concluíram o ensino fundamental e os dois irmãos optaram por não ingressar no ensino superior.

Mesmo com pouco estudo, e trabalhando como diarista e cozinheira, a mãe do doutorando foi sua principal incentivadora para que ele fizesse da educação uma oportunidade para crescer na vida (o pai de Wellington faleceu cedo, fazendo com que Lucinda criasse os filhos sozinha). O incentivo, inclusive, foi indispensável para que ele mantivesse vivo o sonho de entrar na universidade, mesmo depois de não ser aprovado no primeiro vestibular.

“Quando terminei o ensino médio no Colégio Estadual do Paraná, em 2003, estava com problemas financeiros, em busca de emprego, e não consegui acesso. No final de 2004, minha mãe novamente me incentivou e consegui ingressar pelo sistema de cotas”, lembra Wellington, que cursou o ensino fundamental em instituições públicas do interior de São Paulo, de Colombo (em turma bisseriada, na qual o professor dá aulas simultâneas para alunos de anos distintos) e de Curitiba.

Trajetória acadêmica

Já estudante de Psicologia, Wellington teve de se virar para conseguir manter os custos e todas as atividades exigidas pelo curso, realizado em período integral. Para isso, começou a fazer bicos, como o trabalho de garçom em um restaurante no Centro de Curitiba. “Eu entrava por volta das 19h e saía cerca de meia-noite para voltar para Colombo, onde eu morava. No outro dia, tinha que estar de volta à aula às 7h”, lembra.

Como as disciplinas do curso eram divididas entre o prédio histórico e o campus Jardim Botânico, onde aconteciam as aulas relacionadas às Ciências Biológicas, não era raro Wellington fazer o trajeto de cerca de 5 quilômetros a pé para economizar o dinheiro do transporte. No caminho, ele ainda aproveitava para recolher latas de alumínio que encontrava na rua para vendê-las para reciclagem. “Não era muito, mas [esse valor] ajudava na passagem [do ônibus]. Nós também tínhamos um grupo de colegas, todos cotistas, que compartilhava os xerox. Cada semana um de nós tirava as cópias e repassava os textos para os demais copiarem, resumirem ou fazerem seus fichamentos”, conta.

Pesquisa

Depois, Wellington passou a integrar o Programa Afroatitude na UFPR. Lançado pelo governo federal na fase inicial de implantação das políticas afirmativas, o programa tinha o objetivo de apoiar os universitários que ingressaram pelas cotas raciais, fornecendo bolsas voltadas a projetos de pesquisa e extensão.

A partir do programa, Wellington vinculou-se ao Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros (NEAB) da universidade, no qual tomou gosto pela pesquisa. Sua monografia de conclusão de curso tratou sobre a percepção dos estudantes que ingressaram na universidade pela ampla concorrência sobre os cotistas e o sistema de cotas.

Já no mestrado em Educação, também cursado na UFPR, Wellington analisou a representação racial nos livros didáticos distribuídos pelo Ministério da Educação (MEC). Agora, no doutorado, ele compara as políticas educacionais de combate ao racismo adotadas no Brasil e na Colômbia.

A ênfase nas temáticas raciais, que norteiam as pesquisas de Wellington, pode ser entendida como uma consequência natural por parte de quem encontrou nas ações afirmativas uma oportunidade para mudar seu futuro. Hoje, além de estar prestes de receber o título de doutor, Wellington é professor efetivo da cadeira de Psicologia da Educação da Universidade Estadual de Goiás (UEG).

“O grande significado disto tudo é ver no horizonte algo além das condições limitadas que nós tínhamos [antes do ingresso na universidade]. Ainda que as ações afirmativas não necessariamente coloquem os estudantes negros e os mais pobres em um patamar de riqueza, ela dá uma oportunidade melhor para esta população”, avalia Wellington.

Ainda segundo ele, a política de acesso ao ensino superior é o mais próximo que o Brasil consegue chegar no que se refere à possibilidade de mobilidade social. “Por isso, o principal é ter vontade de continuar os estudos no ensino superior e agarrar a oportunidade que pode ser dada a você pela política de ação afirmativa”, sugere.

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