Uma das causas pelas quais o ensino médio é um fracasso no Brasil é o baixo nível de conhecimento de muitos dos estudantes que chegam a essa etapa da educação básica. A reforma do ensino médio, cujos prazos de implantação foram suspensos pelo governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), tenta dar uma saída para esses alunos que, pelo perfil e falta de conteúdo, tendem a abandonar a educação básica sem futuro profissional.
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Grande parte dos alunos brasileiros entra no 1º ano do ensino médio com o conhecimento equivalente ao que seus colegas de outros países aprendem no 5º ou 6º ano do ensino fundamental. Essa baixa qualidade do ensino fundamental brasileiro, apontada pelas avaliações nacionais, também é confirmada internacionalmente pelo Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (PISA), coordenado pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OECD), que avalia as habilidades de leitura, matemática e ciências de estudantes de 15 anos de mais de 72 países e economias.
Em 2018, o Brasil ficou abaixo da média dos níveis alcançados em outros países nas três áreas. Em leitura, ficou em 57°lugar, com 413 pontos (a média foi de 487). Em matemática, na 70ª posição, com 384 pontos (a média de 489). Em ciências, em 64° lugar, com 404 pontos (a média de 489).
“No Brasil, convencionou-se ensinar nada, praticamente nada, até o 5° ano. Depois, muito pouco até o 9° ano; e tudo fica complexo no ensino médio”, lamenta Ilona Becskeházy, mestre e doutora em política educacional. “Os alunos do ensino médio são muito imaturos intelectualmente, trazem pouco conteúdo. Em três anos, o ensino médio não consegue ensinar, porque o aluno é imaturo e não consegue entender. Então, o estudante sai do sistema, pois não entende o que está aprendendo”, complementa.
Nesse cenário, para evitar os chamados jovens “nem nem”, que nem trabalham e nem estudam, a reforma do ensino médio tentou evitar a evasão escolar com os itinerários formativos de preparação para a universidade e ensino técnico (como ocorre com 50% de alunos de países como Alemanha e Coreia do Sul).
“A lei do novo ensino médio busca resolver alguns dos problemas, em especial, a baixa carga horária e o excesso de disciplinas fazendo como outros países que têm bons sistemas educacionais”, explica Claudia Costin, diretora do Centro de Políticas Educacionais da FGV e ex-diretora de Educação do Banco Mundial. “Fazendo o jovem ser exposto a disciplinas e escolher uma área de aprofundamento”, destaca.
Claudia Costin evidencia ainda que no Brasil há um preconceito com o ensino técnico profissionalizante, mas é necessário avançar nessa área. “Tanto o jovem que não vai para a universidade ou aquele que deseja ir pode ter disciplinas que dialogam com o mundo do trabalho. O Paraná, por exemplo, inseriu programação em todos os anos. Acho uma boa ideia, isso vai ajudar a profissionalizar o jovem e prepará-lo para o mundo que está mais complexo”.
Anamaria Camargo, mestre em Educação com foco em eLearning pela Universidade de Hull, da Inglaterra, comenta que a ideia de diversificar itinerários curriculares e focar no ensino técnico mostra para os estudantes que a universidade não é o único e nem o melhor caminho para todos, como ocorre em outros países, cujos cargos técnicos têm o mesmo reconhecimento financeiro e social de pessoas graduadas. “Se o Brasil não mudar, ficaremos ainda mais para trás”.
Para Ilona, um dos ajustes necessários da reforma do ensino médio é justamente aproximar as redes de ensino do setor produtivo, para dar oportunidade de estágio aos jovens e o preparo efetivo em uma profissão. “O que não podemos deixar é que o ensino médio seja uma grande usina produtora de jovens nem-nem, ou seja, nem estudam e nem trabalham”, alerta.
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