Um livro destinado a adolescentes foi distribuído a crianças de 9 anos pelo programa "Ler e Escrever", do governo do estado de São Paulo. A Secretaria de Educação do governo do estado determinou o recolhimento de todos os exemplares, que tinham chegado às escolas da rede pública há 15 dias.

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A obra, que havia sido escolhida como material de apoio para alunos do terceiro ano do Ensino Fundamental, tem dois poemas considerados inadequados à série, ambos escritos pelo poeta mato-grossense Joca Reiners Terron. O problema está na ironia, que crianças desta idade escolar ainda não conseguem decifrar.

Na poesia "Manual de auto-ajuda para supervilões", há uma frase que diz "Nunca ame ninguém. Estupre". No mesmo poema, os alunos ainda encontraram frases como "Tome drogas, pois é sempre aconselhável ver o panorama do alto" e "Seja um pouco efeminado. Isso sempre funciona com estilistas".

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A outra poesia, "Perdido nas cidades", tem um trecho que fala de um esquimó; "Meu amigo esquimó nunca me deixa só. E, quando estou prestes a congelar, ele mija em cima de mim."

Esse é o terceiro caso de problemas com o material escolar registrado nas escolas estaduais de São Paulo neste ano. Em março, alunos da 6ª série do ensino fundamental receberam livros de Geografia com informação errada , em que o Paraguai aparecia duas vezes no mapa e o Equador sequer era ilustrado.

Na semana passada, a Secretaria estadual da Educação mandou recolher mais de mil exemplares de um livro também distribuído pelo programa "Ler e Escrever" para alunos de nove anos. A obra "Dez na Área, Um na Banheira e Ninguém no Gol" é uma coletânea de histórias em quadrinhos de vários autores sobre futebol . Mas as histórias são recheadas de palavrões, piadas de duplo sentido, referências a agressões físicas e verbais e palavrões, além de imagens de mulheres seminuas.

- Em uma semana foram detectados dois problemas graves. Da primeira vez, um livro com tiras e charges de conteúdo adulto, discriminatório, cheio de rótulos preconcentuosos e linguagem ambígua, além de inadequada. Agora esse livro de poesia, com um conjunto de preconceitos embutidos num único poema, além de incitação à violência - diz a professora Ângela Soligo, coordenadora do curso de Pedagogia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

Segundo a educadora, há duas preocupações nos sucessivos casos de erro em livros distribuídos a alunos da rede pública.

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- A primeira é se há profissionais com qualificação para fazer essa seleção. Os livros selecionados parecem ter passado apenas pelo crivo de "compradores". A segunda, que tenho notado, é que os professores agora estão em estado de alerta, além de inseguros. Cabe a eles uma nova atribuição nesse momento, o de revisar um material que já deveria estar revisado.

O secretário da Educação Paulo Renato Souza, ex-ministro da Educação, em entrevista à rádio CBN, reconheceu o erro com os dois livros distribuídos pelo "Ler e Escrever", programa que deveria servir como um reforço de leitura.

- Esses dois livros são impróprios. No caso desse último (Poesia do Dia), trata-se de uma poesia irônica, que o aluno de 9 anos jamais vai entender. No caso do primeiro livro (Dez na Área), o material não chegou a ser distribuído pelos alunos e foi recolhido logo após constatado o erro. Esse outro livro estava nas escolas há mais ou menos 15 dias - disse Paulo Renato na entrevista.

Ainda de acordo com o secretário, foi instaurada uma sindicância para apurar as responsabilidades na escolha das obras. Atualmente, não há no governo do estado uma comissão de docentes especialistas na seleção. O secretário disse que os dois livros já foram retirados da lista de 818 obras do programa "Ler e Escrever".

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