A qualidade dos últimos anos do ensino fundamental no Paraná na rede pública deixa a desejar. Isto é o que aponta o resultado do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) para esta fase do ensino. Dos 399 municípios, apenas 141 deles alcançaram ou superaram a média nacional, 35,3% do total. Do restante, 245 (61,4%), apresentaram notas abaixo desse patamar – sendo que 13 ficaram sem avaliação.
O Ideb é um indicador que relaciona as notas tiradas pelos estudantes nas avaliações de português e matemática na Prova Brasil com a taxa de aprovação. No Brasil, na etapa do chamado ensino fundamental 2 (6º ao 9º ano) o Ideb registrado foi de 4,5, abaixo da meta programada pelo Ministério da Educação, de 4,7, e inclui a performance das escolas particulares. No país, as redes públicas de 55,8% dos municípios apresentaram Ideb menor do que 4,5.
No Paraná, o Ideb que inclui a educação privada para esta etapa foi de 4,6. Consideradas separadamente no Estado, a rede pública ficou com Ideb de 4,3 e, a privada, de 6,5. Em miúdos, isso significa que, com exceção de escolas que são verdadeiras ilhas de excelência nos anos finais do ensino fundamental – como é o caso do Colégio Militar de Curitiba (Ideb 7,7) ou do Colégio Estadual Castro Alves, em Quedas do Iguaçu (Ideb 6,6) –, grande parte dos alunos da rede pública no estado chega ao ensino médio sem saber conteúdos que já deviam ter sido superados nas etapas anteriores.
Na prova de matemática da Prova Brasil para o 9º ano, por exemplo, a nota média nacional foi de 257,73 e, nas escolas públicas no Paraná, de 254,81. Um aluno com esse resultado na avaliação, de acordo com o site “Devolutivas Pedagógicas” do Inep, ainda não é capaz de associar dados apresentados em uma tabela simples a um gráfico de linhas ou determinar a quantidade de cubos que estão dispostos em forma de bloco retangular.
Já no exame de português da Prova Brasil, a média nacional foi de 253,50 e de 250,24 nas escolas públicas paranaenses. Estudantes que não ultrapassam essa nota não conseguem reconhecer um argumento em um artigo de opinião em jornais ou explicar a causa de efeito de humor em um poema, por exemplo.
Gargalo
“De fato os alunos estão ingressando no ensino médio, especialmente em leitura, em um nível baixo, com pelo menos dois anos de defasagem, como se estivessem no 7.º ano ou menos”, afirma o professor Ocimar Alavarse, professor da faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP). “O ensino médio apenas recebe essa deficiência, mas o verdadeiro gargalo está nos anos finais do ensino fundamental”.
Entre as causas para esse resultado está a falta de recursos materiais e humanos das escolas que passam a ter mais dificuldade para acompanhar o aluno que antes tinha um professor e agora passa a ter vários. “A Prova Brasil avalia leitura e capacidade de resolução de problemas, fatores essenciais para a aprendizagem que deveriam ser acompanhados por todos os professores de 6º ao 9º ano”, diz Alavarse.
Para João Batista Oliveira, presidente do Instituto Alfa e Beto, não basta o Ministério da Educação propor metas de crescimento no Ideb se não houver uma política concreta para melhorar a qualidade do ensino. Ele afirma ainda que, com algumas exceções, as escolas da rede privada não oferecem resultados muito melhores se comparados com a rede pública. “A lentidão com que estamos crescendo em qualidade no ensino fundamental, com exceção de alguns estados, como o Ceará, revela a falta de propostas concretas para uma efetiva reforma educativa e uma indiferença da classe média em relação à má qualidade na escola, também da particular. Se não houver mudanças significativas nesse sentido, os resultados deverão manter-se os mesmos, com poucas mudanças nos próximos anos”, alerta.