Escolas de alto desempenho são, frequentemente, as mais procuradas pelas famílias. No entanto, o ambiente escolar dessas instituições pode ter um alto custo psicológico aos alunos.
Pesquisas recentes revelam que alunos de “escolas de alto desempenho” – escolas públicas e privadas com altas notas em testes, variadas atividades extracurriculares e que formam alunos que acabam indo para as melhores faculdades – estão enfrentando taxas mais altas de problemas comportamentais e de saúde mental em comparação com escolas “convencionais”.
Um relatório publicado pela Academia Nacional de Ciências, Engenharia e Medicina (National Academies of Sciences, Engineering and Medicine), sobre o avanço da equidade em saúde entre crianças americanas adicionou alunos de “escolas de alto desempenho” à sua lista de grupos “em risco”. Na lista, também constam crianças que vivem na pobreza e falta de assistência social, imigrantes e pessoas com pais encarcerados.
No ano passado, um relatório da Fundação Robert Wood Johnson revelou algo semelhante ao indicar as principais condições que prejudicam o bem-estar dos adolescentes.
Entre elas, a pobreza, trauma, discriminação e "pressão excessiva para se destacar” – essa última situação ocorre, com maior frequência, entre comunidades mais abastadas.
Pode parecer irracional, até perverso, colocar crianças relativamente ricas na mesma categoria que crianças mais vulneráveis. Embora por causas diferentes, pesquisadores estão descobrindo que ambos os grupos estão "em risco" por níveis elevados de estresse crônico, que podem afetar a saúde e o bem-estar.
"Quando os pais me perguntam de onde vem toda essa pressão, pergunto a eles: de onde ela não vem, na verdade?", diz Suniya Luthar, professora de Psicologia da Universidade Estadual do Arizona. Ela é autora de uma pesquisa, publicada nos anos 90, que descobriu as vulnerabilidades exclusivas dos jovens “privilegiados” que sofrem pressão psicológica.
A pressão implacável sobre os alunos em escolas de alto desempenho vem de todas as direções. Geralmente, de pais excessivamente rígidos que desejam notas altas, de coachs que desejam estar vinculados a casos bem-sucedidos para melhorar sua reputação pessoal e de administradores de escolas que se sentem pressionados a atingir as melhores notas em rankings nacionais e internacionais – para garantir a boa reputação e o alto retorno financeiro de suas instituições.
Além de enfrentar grandes dificuldades para serem aprovados nas melhores faculdades, muitos estudantes sentem também uma tremenda pressão para obter sucesso em todos os aspectos de suas vidas. No ambiente de pressão das escolas de alto desempenho, alunos são motivados a competir uns contra os outros, seja por uma vaga em cursos concorridos ou apenas por um lugar no “grupo de debate”.
Mesmo as atividades que antes eram “redutoras de estresse”, como tocar um instrumento musical ou fazer algum esporte, tornaram-se uma espécie de meio para atingir um fim. Por exemplo, elas são utilizadas, por vezes, para obter uma vaga nas faculdades mais concorridas dos Estados Unidos, com o objetivo depois de conquistar uma carreira de prestígio com alta remuneração.
Os estudos de Luthar também revelam que adolescentes em escolas de alto desempenho podem sofrer taxas significativamente mais altas de ansiedade, depressão, abuso de drogas e comportamentos criminosos, pelo menos duas a três vezes a mais que a média nacional.
Alguns sinais de alerta, como inveja excessiva e trapaça, tendem a surgir no ensino médio. Outros sintomas de estresse, porém, podem ser observados desde o ensino fundamental. Quando a autoestima de uma criança depende do que ela alcança, isso pode gerar ansiedade e até depressão. A ansiedade pode surgir da preocupação em acompanhar ou superar os colegas, enquanto a depressão pode ser causada quando esse aluno não consegue realizar algo.
"É claro que nem todos os alunos dessas comunidades são afetados e nem todas as escolas apresentam os mesmos sintomas, mas como um grupo, os alunos com alto desempenho parecem correr um risco muito maior", diz a pesquisadora.
Uma pesquisa da Challenge Success, organização filiada à Universidade de Stanford, que entrevistou 43 mil estudantes de escolas de alto desempenho, revela que três quartos dos estudantes do ensino médio e metade dos estudantes do ensino fundamental relataram se sentir, "muitas vezes ou sempre, estressados" pelos trabalhos da escola. Mais de dois terços dos estudantes do ensino médio relataram estar "frequentemente ou sempre preocupados" em ingressar na universidade.
Muitos desses estudantes foram ensinados que existe apenas um caminho para o sucesso: a aceitação em uma faculdade de prestígio. Eles internalizaram essa ideia, diz a pesquisadora Denise Pope, uma das fundadoras do Challenge Success.
O papel dos pais
Dessa forma, o que permite que alguns estudantes evitem os efeitos negativos de uma pressão tão alta? Um estudo de 2017 publicado no Journal of Youth and Adolescence dá algumas dicas. Os pesquisadores entrevistaram mais de 500 alunos do ensino médio de uma escola de alto desempenho e pediram que eles classificassem os valores que seus pais priorizavam. Três valores focados em desempenho (frequentar uma boa faculdade, se destacar academicamente, ter uma carreira de sucesso) e três relacionados ao caráter (ser respeitoso, prestativo e gentil com os outros).
Os pesquisadores também coletaram dados sobre críticas dos pais, sintomas de saúde mental, comportamentos imprudentes e média de notas. Adolescentes que acreditavam que os pais valorizavam os traços de caráter tanto quanto, ou mais, que o desempenho escolar, exibiam melhores resultados na escola, melhor saúde mental e menos comportamentos imprudentes do que os estudantes que acreditavam que seus pais valorizavam, principalmente, a conquista profissional. Aqueles que se saíram pior relataram que suas mães valorizaram mais o desempenho escolar do que o caráter.
"As crianças estão tão saturadas de pressão por resultados que os pais precisam estar realmente conscientes sobre isso no ambiente familiar", diz o psicólogo Richard Weissbourd, diretor do projeto Making Caring Common da Escola de Pós-Graduação em Harvard.
“Como pais, também devemos permanecer vigilantes a respeito das mensagens ‘ocultas’ que comunicamos aos nossos filhos todos, ao revelarmos o que priorizamos, o que admiramos nos outros e o que consome nosso tempo e energia”, diz Weissbourd.
Também é fundamental que os pais ajudem os filhos a manter um senso de equilíbrio em suas vidas. Quando os filhos de Pope estavam no ensino médio, ela criava uma espécie de “contrato familiar” a cada ano, deixando claro os valores e compromissos da família, como jantares familiares obrigatórios. Períodos de lazer, inatividade e o tempo com a família protegem contra o estresse e a pressão, e os pais devem priorizar esse tempo, mesmo que isso não esteja de acordo com o mundo “convencional”.
Em algumas comunidades abastadas, esses estudantes pressionados consomem álcool e drogas e sofrem de dependência química em taxas significativamente mais altas do que a população em geral, revelam as pesquisas.
A melhor maneira de proteger uma criança, diz Luthar, é manter as linhas de comunicação abertas, estabelecer limites e segui-las. Quando os pais descartam comportamentos de risco, ao afirmarem que são apenas "crianças sendo crianças", aumenta-se a probabilidade de uma criança abusar de substâncias químicas, o que, por sua vez, aumenta suas chances de dependência.
"Nosso trabalho como pais é ajudar nossos filhos a se sentirem incondicionalmente amados, para que sua autoestima não dependa exclusivamente de suas realizações", diz Luthar.
*Jennifer Breheny Wallace é escritora freelancer e mãe de três filhos.
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