Comunicação e argumentação
Na International School of Curitiba, uma das matérias optativas é o Model United Nation, em que os alunos debatem conflitos políticos internacionais. Dessa disciplina saem estudantes que participam de encontros nacionais e mundiais nos quais há simulações de conferências da Organização das Nações Unidas. Cada grupo representa um país e precisa defender os pontos de vista daquela nação. "As aulas são para preparar alunos para esse evento. Lá eles formam delegações, que se reúnem em comitês para resolver problemas dentro de grupos de discussão", explica o coordenador de Marketing da escola, Gustavo Segui.
Biblioteca anárquica
No Colégio Medianeira, o projeto Biblioteca Anárquica valoriza o repertório dos estudantes e a troca de informações entre eles. A ideia partiu dos professores de Língua Portuguesa: os estudantes levam para a escola livros, artigos e CDs dos quais gostaram e que gostariam de compartilhar. De acordo com a supervisora pedagógica de 5ª série ao ensino médio do Medianeira, Cláudia Furtado de Miranda, os professores também trabalham em sala com diferentes fontes de pesquisa e os alunos podem contribuir com materiais.
Projeto trabalha saúde emocional das crianças
A partir de histórias sobre um bicho-pau chamado Zippy, alunos do primeiro e do segundo ano de escolas de ensino integral, têm aulas de educação emocional. O programa Amigos do Zippy foi criado pela organização não governamental inglesa Partnership for Children.
Exemplos
Alunos empreendedores
Nas unidades do Colégio Sesi, o empreendedorismo é desenvolvido de forma contínua e faz parte do conteúdo obrigatório. A cada dois meses, os alunos do ensino médio escolhem uma oficina de aprendizagem e um desafio com o qual pretendem trabalhar ao longo de 60 dias. O objetivo é desenvolver a atitude investigativa, a habilidade de criar e o trabalho em equipe. "O aluno desenvolve a capacidade de encontrar soluções para problemas, aí entra o empreendedorismo. Ele não pega o conhecimento pronto e repete, mas parte do já existe para tentar algo inovador", afirma o diretor da unidade do Colégio Sesi da Cidade Industrial de Curitiba, Ricardo Vieira da Silva.
Segundo o diretor superintendente do Sesi Paraná, José Antônio Fares, as atividades incluem leitura de artigos, cases, visitas a indústrias e palestras com empreendedores. Uma das oficinas teve como tema "Made In Brazil" e os estudantes precisaram responder à pergunta: como empreendedor brasileiro, que produto você criaria e como o lançaria no mercado interno e externo?
Formado em 2007 pelo colégio, André Vietro, 21 anos, diz que as oficinas promovem a habilidade de negociar e ouvir os outros. Mas o aprendizado vai além. "Nos outros colégios a matéria é muito mastigada. Lá eles fazem os alunos correrem atrás", avalia ele, que no último ano do ensino médio já tinha aberto com um colega uma empresa de comercialização de peças automobilísticas. "Mantivemos a loja até o mês passado, quando tive uma oportunidade numa empresa chinesa de caminhões e vendi a minha parte."
Aluno do 3º ano do ensino médio do Sesi, Daymon Laitner, 19 anos, diz que as oficinas o ajudaram a ser mais comunicativo. O estudante trabalha na empresa da família e conta que, com o amadurecimento, passou do trabalho de escritório para o de compras e vendas. "Eu era muito fechadão, não gostava muito de conversar. Agora eu converso mais com os clientes."
Saiba quais são as habilidades necessárias para o estudante do século 21 e como algumas escolas têm desenvolvido essas competências
Nem tudo continua igual na escola de ontem e de hoje: nos últimos anos, por exemplo, a tabela periódica ficou maior, com o reconhecimento de novos elementos químicos. Da mesma forma, o currículo de Português foi atualizado depois que a língua ganhou outras regras de ortografia. A necessidade de mudanças, no entanto, não se limita aos conteúdos específicos das disciplinas. Segundo estudiosos da educação, os estudantes do século 21 precisam desenvolver competências e habilidades que não eram tão importantes há 50 anos, mas que hoje são essenciais.
"Essa noção de que a escola tem o dever de transmitir um conjunto organizado de informações e conhecimentos que vão durar para o resto da vida não se sustenta mais. O que os estudantes precisam em termos de educação é mais do que sentar e ouvir o professor discorrer sobre Matemática, Física ou Biologia. Hoje nós temos na ponta dos dedos qualquer informação que desejamos e há outras competências que os estudantes precisam absorver", afirma Eduardo Chaves, que durante mais de 30 anos foi professor de Filosofia da Educação na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e atualmente trabalha como consultor do Instituto Ayrton Senna e da Microsoft.
Além do conhecimento formal de Matemática, Português e Biologia, os estudantes devem ter capacidade de: questionamento, comunicação oral e escrita, empreendedorismo, trabalho em equipe e controle emocional. Alguém poderia perguntar "o que há de novo em tudo isso? Essas habilidades também não eram desejadas para o século 20 ou para épocas ainda mais distantes?" Para Chaves, a resposta é "não". "Ficamos com a impressão de que essas competências sempre foram necessárias, mas não é verdade. Num passado um pouco mais recente pode ser que sim, mas não com a centralidade que elas têm hoje", afirma.
Empreendedorismo
Um bom exemplo é a importância do empreendedorismo, aqui entendido tanto como a capacidade de abrir o próprio negócio quanto de inovar, de "fazer diferente". O estudante do século 21 precisa chegar ao mercado de trabalho consciente de que ter um diploma não é garantia de colocação com carteira assinada. "Cada vez mais as pessoas têm de encontrar um jeito de sobreviver sem contar com um emprego fixo, com registro em carteira, que garanta o seu sustento ao longo de 35 ou 40 anos. Mesmo que o indivíduo esteja empregado, muitas vezes ele precisa complementar a renda. As pessoas precisam se virar e muitas vezes criar negócios para suplementar a renda de um emprego ou da aposentadoria", afirma. "Por causa dessas características o empreendedorismo se tornou importante", explica Chaves.
Segundo Pedro Demo, Ph.D. em Sociologia e professor emérito da Universidade de Brasília (UnB), estudos mostram que os trabalhadores nos Estados Unidos trocam dez vezes de emprego, em média, até a aposentadoria. Mesmo dentro da mesma empresa, a mudança é cada vez mais comum. "Na Finlândia, o trabalhador da Nokia fica só dois anos em uma ocupação e depois muda, para que volte a estudar. É preciso ter capacidade de se renovar constantemente", ressalta. Segundo os pesquisadores, a disposição para questionar e se reinventar deve começar no processo educativo.
Trabalho em equipe
Com a globalização, as pessoas lidam com pessoas de culturas variadas e se confrontam com diferenças muito mais expressivas do que há 50 anos. Por isso, desde a escola, é necessário aprender a conviver de perto com opiniões diversas. "O estudante não deve ver as diferenças como desvantagem ou como inferioridade, mas como riqueza do mundo. É importante conviver, sobretudo diante da diversidade", afirma Pedro Demo. Na convivência com o outro, também é importante ter inteligência emocional, ou seja, capacidade de se relacionar bem com as outras pessoas e controlar os próprios sentimentos para não explodir nos momentos mais difíceis.
Segundo Emerson Barreto, gerente de atendimento pedagógico para o segmento de escolas particulares da Aymará Educação, é na sala de aula que o estudante aprenderá a trabalhar e conviver em equipe. Por outro lado, ele ressalta que a escola gasta muito tempo com o ensino de conteúdos conceituais e, por isso, muitas vezes não tem tempo para trabalhar outras competências.
Comunicação
Para trabalhar com outras pessoas, o estudante deve saber se expressar bem. É essencial que ele consiga argumentar e se expor publicamente. "Quantas vezes não precisamos fazer uma comunicação oral no nosso trabalho?", questiona Emerson Barreto, da Aymará Educação. Em sua avaliação, porém, somente colocar os alunos para apresentar trabalhos diante da turma não é suficiente para desenvolver essa habilidade. Uma saída interessante, de acordo com ele, seria oferecer aulas específicas de oratória, a exemplo do que ocorre na high school, o ensino médio dos Estados Unidos, nos cursos de speech ("discurso").
Para Barreto, consumo consciente, educação financeira, preservação ambiental e administração do tempo também são temas importantes que deveriam ser trabalhados em sala. Com esse objetivo, ele afirma que a Aymará lançou neste ano o Programa Escola Inovadora, voltado para alunos da primeira etapa do ensino fundamental de colégios particulares. O programa traz um conjunto de recursos didáticos, para alunos e professores, além de serviços de apoio para as escolas.
Atitude investigativa
O padrão autoritário de ensino já não tem espaço na escola do século 21. Como o conhecimento hoje é extremamente mutante, pelo próprio avanço da ciência e pela facilidade de trocar informações, o professor precisa desenvolver no aluno a capacidade de pensar por conta própria e de pesquisar. "O que importa é produzir conhecimento e não transmitir informações, pois para isso basta a internet. O papel do professor é manter o aluno pesquisando", diz Pedro Demo. Além de incluir a pesquisa como parte do método de aprendizagem, a escola deve respeitar o conhecimento do aluno, permitindo (e incentivando) o questionamento.
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