Em muitas escolas brasileiras, a superlotação das salas de aula prejudica a aprendizagem. Com muitos alunos dentro de uma classe, além de dificultar o trabalho do professor, a qualidade do ar também fica comprometida. Para solucionar esse problema, um grupo de estudantes do ensino médio pensou em criar tubos de ventilação inteligentes. “Quando os sensores identificam uma concentração elevada de gás carbônico, eles abrem os tubos de ventilação e facilitam a troca de ar da sala”, explica Talissa Golçalves, 15.
Aluna do Colégio O Farol, em Sorocaba (SP), ela e outros três colegas tiveram essa ideia enquanto participavam de uma oficina da Maratona Maker Intel, uma competição que desafia crianças e jovens de todo o país a construírem soluções para os seus desafios cotidianos. Em grupos de três a cinco estudantes, até o dia 30 de setembro eles devem elaborar projetos focados em inovação tecnológica para resolver problemas das suas comunidades.
Em conversas com outros colegas, o grupo de Talissa percebeu que a falta de ventilação era um problema muito recorrente nas escolas. “Quando a gente fica muito tempo em uma sala fechada, a quantidade de gás carbônico aumenta e pode prejudicar os alunos, que acabam ficando com dor de cabeça ou passam mal. Isso atrapalha a concentração deles na sala de aula”, avalia a menina, que está no primeiro ano do ensino médio e também participa do Ismart Online, um programa que oferece mentoria e auxilia jovens a desenvolverem seus talentos.
Como parte das atividades da Maratona Maker Intel, que acontecem em diferentes regiões do país, os alunos do Ismart Online foram convidados para visitar o Insper FabLab, em São Paulo. Nos dias 20 e 21 de julho, eles colocaram a mão na massa e aprenderam a desenvolver protótipos simples com a placa Intel Genuino. “Com base em tudo o que eles aprendem nas oficinas, eles pensam em soluções e prototipam ideias”, conta Giselle Guimarães Cruz, gerente de comunidades na Ponte 21, startup que está ajudando a mobilizar alunos e promover as oficinas da maratona.
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Ela explica que durante as oficinas, chamadas de Maker Days, os participantes utilizam a metodologia do design thinking, passam por um momento de brainstorming para levantar ideias e aprendem um pouco de programação. A partir daí, eles inscrevem o seu projeto na plataforma da competição. “Em 30 de setembro, encerramos essas atividades e fazemos a seleção dos 50 melhores projetos, que vão receber kits completos para tirar as ideias do papel e transformar em algo real”, detalha Giselle. Os três melhores projetos ainda viajam para São Paulo, onde serão convidados a conhecer empresas de inovação e tecnologia e participar da seleção final.
No primeiro ano do ensino médio, da Escola Estadual Isaí Leirner, em São Paulo, Samela Cesar, 14, nunca tinha visitado um laboratório maker. Segundo ela, o que mais chamou atenção no espaço foi a possibilidade de criar qualquer coisa. “Não é porque eu venho da periferia que eu não posso crescer e construir os meus projetos”, disse a aluna.
Com o seu grupo, Samela teve a ideia de desenvolver um relógio para facilitar a interação de alunos com deficiência auditiva dentro da sala de aula. O acessório teria sinais luminosos e vibraria para transmitir orientações sobre as atividades escolares ou até mesmo avisar quando o sinal do recreio tocar. “Nós discutimos vários temas, e o mais votado foi a dificuldade que os deficientes têm nas escolas públicas”, diz.
Já no grupo do aluno Joel da Silva, 15, da Escola Técnica Parque Belém, também em São Paulo, a proposta foi desenvolver um aplicativo para integrar objetos dentro de uma casa e otimizar o tempo. Na ideia deles, um sensor poderia se conectar com o despertador do celular para acender a luz no horário indicado. Segundo ele, a oficina mostrou que todas as ideias podem ser possíveis, por mais malucas que elas sejam.
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Durante as oficinas, os participantes do Ismart Online também contaram com a ajuda de alunos de engenharia do Insper. “Eles se sentem orgulhosos de participar e adoram esse contato com as escolas”, comenta Rodrigo Arruda, professor das engenharias do Insper. De acordo com ele, quando as turmas do ensino médio chegam ao Insper para conhecer o FabLab, elas acabam tendo contato com uma realidade muito diferente. “Aprendem e descobrem um mundo novo. Depois desse primeiro impacto, começam a utilizar e criar outros tipos de projetos.”
Para Fabiano Gonçalves, gerente de tecnologia educacional do Ismart, a experiência ajuda a empoderar os alunos e incentivar que eles consigam pensar em soluções reais para problemas das suas próprias escolas. “Por mais que a gente fale que o aluno deve ser propositivo e pensar fora da caixa, se ele não tiver um espaço para tornar a sua ideia palpável, provavelmente não vai desenvolver essas competências. Esse espaço é uma oportunidade para o aluno traduzir uma ideia em algo real.”
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