O gênero neutro agora é parte da Universidade Diego Portales, no Chile. Com a mudança, os estudantes poderão usar em trabalhos e apresentações as letras E ou X no lugar das vogais que marcam palavras femininas e masculinas sem que isso seja considerado um erro gramatical.
A mudança foi anunciada recentemente pelo reitor Carlos Peña e é parte de 29 demandas dos estudantes e do movimento feminista na universidade.
“A onda feminista abalou todas as universidades e hoje esperamos que se torne uma maré de exigências”, disse Macarena Galaz, orientadora acadêmica e porta-voz do movimento feminista do UDP, ao jornal La Tercera.
Demandas
Outras solicitações aceitas pela universidade incluem a criação de um regulamento especial para pais e mães universitários, a ampliação das regulamentações contra abuso sexual, a criação de um departamento de gênero dentro da universidade e o respeito pelo uso do nome social de estudantes e funcionários.
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“Dentro de nossa comunidade universitária, há não apenas aqueles que se identificam com o binarismo de um ou outro, mas também temos companheiros cuja identidade sexual não se atribui a um ele ou ela”, disse Galaz.
“Mesmo que seja uma minoria, eles são parte da comunidade e merecem sua visibilidade na língua como qualquer outra pessoa. Sob este argumento, a linguagem inclusiva será aceita em trabalhos e teses”, concluiu.
Controvérsia
Segundo pesquisadores da área, usar o gênero masculino para se referir a um grupo de pessoas, homens e mulheres, não é uma forma de preconceito. A origem desse uso estaria no latim – que lançou as bases da língua portuguesa e de outras línguas latinas, como o francês e o espanhol.
Assim, se o que é visto como gênero masculino, na verdade é um gênero neutro, não há prevalência do masculino nos discursos - o ponto que seria criticado ao sugerir a substituição de “o” por “x”, por exemplo. O único gênero que recebe marcação na língua portuguesa é o feminino.
É isso que aponta o linguista Joaquim Mattoso Câmara Jr., em pesquisas sobre linguagem desenvolvidas desde a década de 1940. No artigo “Considerações sobre o gênero em português”, um dos principais trabalhos produzidos no Brasil sobre o tema, o linguista explica que o gênero feminino é, em português, uma particularização do masculino. Essa particularização é feita pela terminação “a”, que é diferente da terminação neutra “o”.