O Brasil é um dos países com menores investimentos em educação básica, mas com gastos semelhantes ao de países europeus no ensino superior. As informações são do estudo “Um Olhar sobre a Educação”, publicado pela OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico).
A pesquisa analisou os sistemas educacionais de 45 países e, entre as informações observadas, estão os gastos com cada fase de ensino. No Brasil, os investimentos no primeiro ciclo do ensino fundamental são de US$ 3,8 mil (R$ 11,7 mil) ao ano por aluno.
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Apenas seis países têm investimentos menores do que o Brasil nessa fase de ensino, como o México (US$ 2,9 mil), a Colômbia (U$ 2,5 mil) e a Indonésia (US$ 1,5 mil). O primeiro lugar do ranking é ocupado por Luxemburgo, que gasta US$ 21,2 mil ao ano. A média entre os países da OCDE é de US$ 8,7 mil.
Prioridade invertida
No Brasil, o cenário se inverte quando falamos dos gastos em ensino superior. O valor gasto por estudante universitário no país é de US$ 11,7 mil (R$ 36 mil) ao ano. O montante é quase três vezes maior do que os investimentos na educação básica. E muito próximo ao de países europeus.
Aqui, os gastos com estudantes universitários são maiores do que em países como Itália (US$ 11,5 mil), República Checa (US$ 10,5 mil), Polônia (U$ 9,7 mil) e Coreia do Sul (US$ 9,6 mil). A média dos países da OCDE para o ensino superior é de US$ 16,1 mil.
Ainda de acordo com o relatório, os países membros da OCDE gastam em média quase 50% a mais com ensino superior – no Brasil a proporção é de 207%. A discrepância nos investimentos afeta parcelas diferentes de estudantes: enquanto o ensino básico é considerado universal no país, apenas 17% dos jovens entre 25 e 34 anos têm diploma universitário.
Na educação infantil, a diferença é ainda maior. Segundo dados da OCDE de 2013 – último ano que incluiu a educação infantil no relatório – o investimento público total nesse nível educacional representa 0,6% do Produto Interno Bruto (PIB) do país. A média entre os países da OCDE é de 0,8%.
O número de crianças frequentando a educação infantil também está abaixo da média: em 2013, a taxa de matrícula foi de 53% para as crianças de 3 anos, 70% para as de 4 anos e 88% para as de 5 anos. As médias da OCDE foram de 74%, 88%, 95% e 97%, respectivamente.
Cenário adverso
A OCDE indica também que a média salarial inicial para professores da pré-escola entre os países da organização é mais do que o dobro do que os professores ganham no Brasil. Desde a pré-escola, os salários iniciais dos professores brasileiros são menores do que em outros países latino-americanos como Chile, Colômbia e México.
Com salários menores, carga horária de trabalho maior e menores exigências de formação, a carreira docente na educação infantil torna-se menos atrativa para profissionais altamente qualificados.
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No ensino superior, por exemplo, o salário para professor adjunto em regime de dedicação exclusiva é de R$ 9,5 mil para profissionais com doutorado, de acordo com os últimos concursos realizados pela Universidade Federal do Paraná (UFPR).
Os resultados de deficiências na educação infantil são percebidos ao longo de toda a vida escolar dos estudantes. Nessa primeira fase, a cognição se desenvolve rapidamente e a criança tem a oportunidade de construir as bases do aprendizado para o resto da vida.
Uma pesquisa realizada por James Heckman, professor na Universidade de Chicago e vencedor do prêmio Nobel de Economia, mostrou que investimentos em educação infantil levam a uma economia até sete vezes maior nos anos seguintes em outras áreas como saúde, segurança e assistência social.
Esse retorno é mais acentuado para as crianças de famílias de baixa renda – nesses casos, aumentam as chances de aumento de renda durante a vida adulta e ascensão social.
“O investimento na educação infantil deveria ser a parte mais importante de um programa educacional, pois tem um impacto e um benefício para toda a vida do indivíduo. Isso se deve ao fato que as bases para a aprendizagem, para a confiança, para a formação de relacionamentos, entre outras competências, são formadas nos primeiros sete anos de vida”, defende a professora finlandesa Annukka Lyttinen, mestre em Educação.