As carreiras ligadas à tecnologia são as que mais oferecem postos de trabalho na atualidade. Nos Estados Unidos, por exemplo, 1,3 milhões de vagas serão criadas até 2020, em atividades que costumam pagar até duas vezes mais do que as de outras áreas. Só por esse argumento, o ensino da linguagem de programação desde a infância já se justificaria. Mas, o chamado pensamento computacional, desenvolvido com a ajuda do domínio deste ‘idioma’, é, segundo educadores, uma das ferramentas para a criatividade e para projetos mais autorais na vida profissional e pessoal. Inclusive para quem não gosta muito de números.
Por meio de conjunto de códigos, um programador extrai exatamente o que pretende de um computador. É como se houvesse um diálogo mesmo, em uma língua que pode amedrontar os leigos, mas que está presente no dia a dia de todos. “Não há indústria que não seja tocada pela computação”, resumiu Jordan Budisantoso, professor da escola Washington Leadership Academy, que aplica o método em aulas do ensino médio, em palestra durante o evento Transformar 2017.
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Um mundo permeado por essas conexões é uma das razões pelas quais esse aprendizado é indicado não apenas para alunos que têm predileção por matemática ou gadgets tecnológicos. Falar a língua dos programas é conseguir se comunicar melhor on e off-line e ter mais autonomia. É como não precisar mais de um tradutor a todo momento. “Eu trabalho conceitos diversos a partir da realidade virtual. Geometria, raciocínio espacial, artes, tudo dentro do dia a dia dos alunos. Projetos de moda, filmes e aplicativos podem nascer a partir disso”, explicou Budisantoso.
Dar ordens para o computador também traz como vantagens um senso de disciplina importante. “É preciso aprender a se planejar, a formular muito bem as funções, trabalhar com prazos e ser atento a detalhes”, enumerou Renato Araújo Lima, 25 anos, instrutor da Supergeeks, escola especializada no ensino de programação para crianças e adolescentes.
Formada em música, Mariana Beilune Abad, 22 anos, é exemplo de que a programação pode traduzir e tornar possível interesses diversos. Durante a faculdade, ela se envolveu com criação de trilha sonora de games. Conheceu desenvolvedores e foi, a princípio informalmente, aprendendo com os colegas. Estudou mais e tomou tanto gosto pelos códigos que hoje é instrutora da Supergeeks.
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Em tempos de Baleia Azul e “13 Reasons Why”, o papel da escola é fundamental
Na prática
Assim como um aluno não precisa ser um campeão das olimpíadas de matemática para se envolver com programação, professores que não sejam da área de exatas também podem ser catalisadores do pensamento computacional. “São duas abordagens: aprender para programar e programar para aprender. Nesta parte, é qualquer coisa: história, português. A programação atua, neste caso, como mais uma ferramenta, como livro e lousa”, diz o especialista em tecnologias educacionais Tiago Maluta, do projeto Programaê.
O Programaê, destinado ao ensino dos códigos às crianças, tem modelos de aula que podem ser aplicados por professores que não têm familiaridade com o tema. Um começo que pode se aprofundar conforme o desejo do próprio educador.
Propostas pedagógicas ‘desplugadas’ também facilitam a disseminação do pensamento computacional para ambientes que não têm tantos recursos. Essas aulas abordam o tema com papel, caneta, tesoura e outras ferramentas comuns. “Você trabalha repetição, procedimento, abstração e quebrar um problema grande em problemas pequenos”, completa Maluta.
Escolas que oferecem cursos rápidos regulares também podem utilizar a linguagem visual para trabalhar a programação com crianças menores. “Não forçamos com sintaxe e semântica (sim, da mesma maneira que as línguas, a programação é analisada por métodos padronizados). Trabalhamos com a linguagem visual, com a associação de blocos, por exemplo”, afirma Bruno Fernandes dos Santos, professor de programação e robótica da escola Happy Code.
Entre as plataformas de iniciação mais usadas estão o Scratch, o Code.org e o Code Academy, que têm atividades e cursos. Adultos também podem ter o primeiro contato com os códigos com atividades lúdicas e avançar com mais rapidez por essas propostas introdutórias.
A ideia de introduzir programação como conteúdo obrigatório nas escolas já avança nos Estados Unidos, Reino Unido e Alemanha. No Brasil, escolas particulares e públicas, por meio de parcerias, desenvolvem alguns programas.
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