A educação brasileira em 2020 pode ter retrocedido até quatro anos em seus níveis de aprendizagem por causa da suspensão das aulas presenciais e da execução de atividades remotas durante a pandemia. É o que aponta um estudo da Fundação Getulio Vargas (FGV). Encomendada pela Fundação Lemann e publicada pela Agência Brasil, a pesquisa mostra simulações em três cenários com relação aos impactos do fechamento das escolas para os estudantes brasileiros. Segundo a publicação, “o impacto é maior entre negros e alunos com mães que não concluíram o ensino fundamental”.
A pesquisa da FGV mostra que, no cenário chamado de pessimista, em uma simulação feita a partir dos dados do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb), a proficiência dos alunos do 5º ao 9º ano do Ensino Fundamental deve ser igual a que era registrada há quatro anos em língua portuguesa. No caso de matemática, a simulação indicou retrocesso de três anos. Nessa conjuntura, além de as escolas estarem fechadas, os estudantes não teriam conseguido aprender os conteúdos ensinados por meio dos sistemas remotos.
Perdas e conclusões
No cenário em que a pesquisa chama de intermediário, a perda nas duas disciplinas equivale a três anos. E, em um quadro chamado de otimista, ainda é possível que tenha ocorrido o “retorno à proficiência brasileira de três anos atrás” em língua portuguesa.
Em outro trecho da pesquisa, com outro modelo de apresentação de resultados, os dados indicam que os estudantes do Ensino Fundamental II (do 5º ao 9º ano) e do Ensino Médio podem ter aprendido 72% menos em 2020 do que em um ano típico em língua portuguesa e matemática. Essa é simulação no pior cenário do estudo.
No cenário intermediário, os alunos teriam deixado de aprender o equivalente a 34% em comparação a um ano normal em língua portuguesa, e 33% em matemática. E a perda no aprendizado ainda seria de 14% em língua portuguesa e de 15% em matemática no cenário otimista.
Dessa forma, a primeira conclusão do estudo foi de que a interrupção das aulas provocou redução significativa no aprendizado dos estudantes brasileiros. A segunda foi que o acesso ao ensino remoto no país ocorreu de formas diferentes, o que levou ao aumento das desigualdades educacionais, nas palavras dos pesquisadores.
“Entendemos que, em um cenário de interrupção das aulas presenciais, o aprendizado dos alunos depende do acesso ao ensino remoto e esse acesso é desigual no Brasil, como evidenciado pelos dados da Pnad Covid-19. [...] Por fim, analisando dados do Saeb, concluímos que, em 2020, o crescimento do aprendizado dos alunos brasileiros poderá desacelerar ou mesmo retroceder. Esse resultado ocorre de maneira desigual no país, afetando mais fortemente os menos favorecidos. Assim, esforços para mitigar essa perda e garantir o acesso a um ensino remoto de qualidade a todos são urgentes, de modo a evitar a perda de aprendizado e o aumento das desigualdades educacionais”, afirmou André Portela, pesquisador líder do estudo e professor titular de Políticas Públicas da Escola de Economia de São Paulo, da FGV, em entrevista à Agência Brasil.
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