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Aprendizado de Matemática esbarra na interpretação

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"Helen ganhou uma bicicleta com um painel que informa a distância e a velocidade média da viagem. Num passeio, ela circulou por quatro quilômetros em dez minutos e, depois, mais dois quilômetros em cinco minutos. Qual das afirmações seguintes está correta: A) A velocidade média dela foi maior nos primeiros dez minutos. B) A velocidade média dela foi a mesma nos dois trechos. C) A velocidade média foi menor nos primeiros dez minutos. D) Não é possível afirmar nada sobre a velocidade de Helen com esses dados."

O parágrafo reproduz uma questão de nível 2 da prova de Matemática do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa) de 2012, que testou alunos de 15 anos em 65 países. Para se chegar à resposta, alternativa "B", basta interpretar o texto e fazer uma conta simples. Mesmo assim, só 33% dos brasileiros acertaram questões com esse grau de dificuldade. Entre os principais motivos para o erro ou abandono da questão está a deficiência de leitura. Para especialistas, muitos alunos se saem mal em Matemática porque não conseguem entender o que pede o enunciado.

"Os alunos do Brasil não são estimulados a ler, não desenvolvem o hábito. Daí a dificuldade para interpretar questões de Matemática com enunciados que exijam interpretação de texto e raciocínio lógico", comenta o professor Michel Spira, do Departamento de Matemática da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), coordenador de provas da Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas (OBMEP) de 2005 a 2012. "Muitas questões que exigem pouco conhecimento matemático são abandonadas porque o estudante não entende o enunciado ou tem preguiça de ler."

Os resultados da Prova ABC, aplicada pela ONG Todos Pela Educação em escolas públicas e particulares do país, também mostram que o aprendizado de Matemática anda lado a lado com o de escrita — até porque as boas escolas oferecem ensino eficiente em ambas as áreas. A Prova ABC de 2012 avaliou 54 mil crianças de 2.º e 3.º anos do ensino fundamental. Metade resolveu questões de leitura e metade, de Matemática. Todas fizeram a prova de escrita. Analisando os dados, a ONG observou que, quanto maior é a nota da redação, mais perto o aluno chega dos 175 pontos, rendimento considerado satisfatório, na prova de Matemática.

Para Priscila Cruz, diretora-executiva do Todos Pela Educação, é correto dizer que, para estudar Matemática, a "competência leitora" é fundamental. "A criança que está sendo avaliada pela sua competência matemática e esbarra na leitora não consegue sequer ser avaliada. É uma barreira inicial", argumenta Priscila. "O ensino de Matemática deve estar ligado à leitura, à contextualização. O objetivo é preparar o aluno para a vida. E a vida não vai dar equações prontas para ele."

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