Aplicabilidade
Tecnologias devem ser inseridas no contexto escolar
A tendência é de que cada vez mais tecnologias sejam adotadas nas salas de aula, mas há uma diferença na abordagem de apenas incluir um equipamento no processo tradicional ou de fato inserir o aluno na produção da tecnologia e de experimentos, segundo o doutor em Educação Científica e Tecnológica e professor da Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Awdry Feisser Miquelin.
Por isso, usar um tablet dentro da sala como se fosse um caderno não é usar todo o potencial educativo que o equipamento proporciona. "A diferença é que quando o aluno interage com o processo de construção e reflexão de tecnologia, ele dispara ações de ensino e aprendizagem que desenvolvem processos diferenciais. Com o consumo de um produto pronto, isso não acontece", diz Awdry.
Por isso, a tecnologia deve ser pensada como meio para outras criações e experimentos, e não como o objetivo final do processo educativo. "Criar e mediar uma tecnologia, mesmo que simples, estabelece uma relação de aplicabilidade disso na vida do aluno. A tecnologia deixa de ser um objeto de entretenimento e passa a ser uma ferramenta de criação e de trabalho", finaliza Awdry.
Repercussão Nacional
Em São José dos Campos, no Colégio Poliedro, alunos do sétimo ano desenvolveram uma mesa tática com realidade aumentada para o estudo de movimentos de jogadores nos esportes, utilizando um projetor de imagens e um quadro interativo. Eles foram inspirados por um equipamento usado pelos apresentadores do programa televisivo Globo Esporte e chegaram a um resultado similar. A iniciativa surpreendeu a equipe da emissora de tevê, que foi até o colégio entrevistar os estudantes.
Engana-se quem acha que o estudo de Ciências no colégio é feito apenas no quadro-negro ou em frios laboratórios escolares. Com a evolução da tecnologia, experimentos complexos já começam a fazer parte da rotina dos alunos. No Colégio Internacional de Curitiba, por exemplo, estudantes do final do ensino fundamental e do ensino médio estão envolvidos na construção de dois modelos diferentes de foguetes.
Os experimentos alcançam cerca de 15 metros de altura, mas, mesmo não indo de fato para o espaço, a ação desenvolve diversas habilidades dos alunos. Segundo o engenheiro Thomas Zigan, professor que coordena a atividade, a experiência permite aos alunos do ensino médio desenvolver desde habilidades manuais até a análise de dados em programas de computador. "Eles aprendem a construir, a projetar de maneira mais eficiente, usar ferramentas e resolver problemas. Depois do experimento, ainda precisam investigar e analisar os dados, uma parte mais teórica", diz Thomas.
Para o professor, outra vantagem é atrair os alunos para o estudo das Ciências e da Engenharia. "A atividade mantém os alunos envolvidos com o projeto e deixa a ciência mais divertida", completa Thomas. E o aluno André Cartari concorda "é muito legal montar o foguete, e é bem diferente que apenas ver tudo isso no quadro. Assim a gente sabe para que servem as coisas que aprendemos."
Mas as experiências podem começar ainda mais cedo. Também no Colégio Internacional de Curitiba, o professor Cesar Daniel trabalha Ciências com alunos mais novos, dos anos finais do ensino fundamental. Nesse caso, ele apresenta um modelo de foguete, explica suas funções básicas, e os alunos constroem os seus próprios, podendo mudar apenas uma característica. Depois é feita uma corrida de foguetes, para ver qual vai mais longe e provar as hipóteses feitas na hora da construção. "É um processo formal. Eles montam planilhas e gráficos pelo computador, para pensar nas variáveis envolvidas no processo. A escrita de um relatório os ajuda a pensar os dados e vão fazendo mais de um lançamento para analisar e confirmar tudo isso", diz o professor.
Outro exemplo de aplicação de tecnologia e experimentos com os alunos é a adoção do Lego Zoom nos Colégios SESI. O projeto consiste no uso de kits que permitem a construção e programação de robôs pelos alunos. "O aluno foi estimulado a estudar muito na etapa de montagem, eles ficaram tão envolvidos que vinham no contraturno para programar mais. O importante é que o projeto mostra também um lado social, os robôs devem ser socialmente funcionais em suas ações", diz Bruno Souza de Oliveira, coordenador do SESI de São José dos Pinhais.
Na etapa seguinte, quem participou da montagem dos robôs faz palestras sobre o experimento para estudantes de escolas públicas da região. "Quem ensina, aprende duas vezes. Os alunos vivenciam isso no colégio e depois, ao explicar, eles assumem também o outro lado da história", completa Bruno.