A decisão do governo japonês de fechar cursos de ciências humanas repercutiu entre leitores da Gazeta do Povo. A maioria das reações foi favorável a uma medida semelhante no Brasil.
Há motivos para a insatisfação. Presos a dogmas ideológicos, muitos departamentos humanas nas universidades públicas se transformaram em centros de militância ideológica. Sob inspiração de Michel Foucault e Jacques Derrida, a ordem é desconstruir em vez de criar.
Por razões que já foram analisadas aqui, o Brasil deve otimizar a aplicação nos recursos no ensino superior. É preciso priorizar as pesquisas com maior retorno e menor possibilidade de realização fora das universidades públicas.
Mas isso não significa que as ciências humanas e sociais devem ser abandonadas ou tolhidas. Tratá-las como inúteis é um equívoco grave.
A universidade não foi fundada para reunir engenheiros, mas sim para organizar o conhecimento do homem sobre si mesmo e o universo. É um lugar de aprimoramento intelectual – não apenas de mecanicismos, por um lado, e de eternas desconstruções de outro.
A universidade de Bolonha, a primeira a ser criada, foi fundada em 1088 por professores de gramática, retórica e lógica que pretendiam se dedicar ao estudo do Direito.
Já no século 18, nos Estados Unidos, a Universidade da Pensilvânia foi a primeira do país a se proclamar como tal. E, até hoje, a instituição fundada por Benjamin Franklin exibe em seu selo a herança das disciplinas clássicas. A imagem mostra uma pilha de livros simbolizando os campos do conhecimento. De cima para baixo, lá estão Teologia, Astronomia, Filosofia, Matemática, Lógica, Retórica e Gramática. Numa classificação pouco rigorosa, as ciências humanas e sociais derrotam as exatas por 5 a 2.
Da Antiguidade até a Revolução Industrial, as artes mecânicas eram vistas como inferiores às artes liberais.
De lá para cá, a universidade se expandiu, o método científico se desenvolveu e diversas ciências exatas foram incorporadas ao ambiente universitário. Felizmente. Mas desalojar os cursos de humanas da academia é um erro.
O problema da alocação de recursos é gravíssimo, e fica difícil defender as ciências humanas quando, para onde quer que se olhe, existem teses e dissertações de perfil duvidoso sobre o funkeiro Mr. Catra, desenhos animados ou sexo promíscuo em banheiros públicos.
Ainda assim, as ciências humanas e sociais precisam subsistir. Reinventar-se e subsistir. Elas geraram a universidade. É tempo de resgatá-las do cativeiro ideológico para reorientá-las à busca pela verdade e a elevação da condição humana.