Alguns comportamentos das crianças com altas habilidades têm a mesma trajetória daquelas com dificuldades de aprendizagem| Foto: Ilustração/Benett

Não é fácil ser uma criança superdotada. Antes do diagnóstico, pais e professores podem tratá-la de forma equivocada, confundindo sua rapidez com hiperatividade, por exemplo. Depois de comprovada a alta habilidade, é preciso um processo longo de acompanhamento para que ela possa desenvolver suas capacidades sem comprometer a convivência e o desenvolvimento normal em todas as fases da vida, da infância até a vida adulta. Do contrário, ela pode ser incompreendida, acabar se isolando e até fracassar profissionalmente no futuro.

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“Alguns comportamentos das crianças com altas habilidades têm a mesma trajetória das crianças com dificuldades de aprendizagem. Por isso, é importante procurar um profissional especializado para evitar que a criança carregue um título, por vezes por anos, que lhe é inadequado”, explica Mari Angela Calderari Oliveira, professora e mestra da Clínica de Psicologia da PUCPR.

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O elemento comum nas crianças com altas habilidades é a precocidade, a capacidade de alcançar resultados acima dos previstos para a sua idade. Isso pode ser percebido mais claramente no campo linguístico, mas também em outras áreas. “A experiência mostra que tudo o que se espera no desenvolvimento infantil ocorre nessas crianças 30% antes”, diz Maria Lúcia Prado Sabatella, do Instituto para Otimização da Aprendizagem (Inodap).

Confusão com o TDA

Especialistas ressaltam a importância de investigar bem para não tratar a superdotação com o Transtorno de Déficit de Atenção (TDA), já que as crianças com essas duas características podem ter posturas parecidas. O risco é o de prescrever um remédio desnecessário e não disponibilizar as ferramentas apropriadas para um superdotado.

A rapidez na aprendizagem faz com que essas crianças fiquem desmotivadas com facilidade, sem compreender por que os outros colegas demoram tanto para chegar às mesmas conclusões. “Copiar e reproduzir, por exemplo, são tarefas entediantes para um superdotado porque, como tem boa memória, escrever para ele é perda de tempo. Estudar em casa os mesmo assuntos também, porque já entendeu tudo na escola”, exemplifica Denise Maria Matos Pereira Lima, técnica pedagógica responsável pela área de altas habilidades da Secretaria de Estado de Educação do Paraná.

Com o passar do tempo — em geral no ensino médio e na graduação —, como não está acostumado a estudar, principalmente temas que lhe desagradam, costuma não ter boas notas em todas as áreas. “Nas áreas que não tem interesse, nem sempre o superdotado vai bem. É preciso motivá-lo a estudar, relacionando com coisas que ele aprecia”, conta Denise Matos.

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Escola

Em sala de aula, um aluno com altas habilidades, não identificado pelo professor, traz problemas para o andamento das disciplinas, com consequências para os outros estudantes. Pelo comportamento, o professor pode entender como má vontade ou falta de educação a irritabilidade extrema diante de exercícios simples. Ao mesmo tempo, outros alunos podem queixar-se do colega agitado, deixando-o de lado nas brincadeiras e na convivência.

A recomendação é que, nesses casos, as escolas procurem a ajuda de um profissional para saber lidar com a situação e orientem os pais. “As escolas deveriam ter a capacidade de levantar hipóteses, serem investigativas, perceberem as características das crianças e, assim que detectadas as altas habilidades, procurar ajuda técnica para não errar”, diz Mari Angela Calderari, da PUCPR.

Sinais de alta habilidades

Confira alguns comportamentos que podem estar relacionados com a superdotação:

1) Linguagem apurada, não esperada para a idade.

2) Conhecimento acima da média em alguma área de interesse.

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3) Curiosidade extrema: a idade de perguntar os ‘porquês’ não passa.

4) Memória rica, que guarda detalhes.

5) Criatividade, maior elaboração e inovação na forma de fazer as tarefas.

6) A letra é geralmente feia (como a mente é muito rápida, a criança se cansa ao escrever).

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Dificuldades encontradas pelos superdotados

A incompreensão permeia muitos dos obstáculos encontrados pelos superdotados:

1) Como aprendem mais rapidamente, ficam desmotivados caso a escola não lhes dê desafios adequados (por exemplo, se o professor manda ele cruzar os braços e esperar os outros alunos terminarem uma determinada tarefa). Isso os leva a ter um nível de tolerância baixo, tanto em relação ao professor quanto aos colegas, o que pode terminar no isolamento e no desânimo.

2) Na família, muitas vezes os superdotados são incompreendidos pela sua postura crítica, de “sabe tudo”, de achar que tudo é “óbvio”. O problema é que essas crianças ainda não têm recursos emocionais para lidar consigo mesmas e com o ambiente.

3) Em geral, como não encontram ressonância de ideias e sentimentos nas crianças da sua idade, passam a ter amigos mais velhos.

4) Como o desenvolvimento emocional é diferenciado, ele percebe tudo mais rápido, transmite isso de forma atabalhoada e, às vezes, é confundido com uma criança com um grau de maturidade menor do que o esperado para a sua idade. Não considerados esses sentimentos, ele pode fechar-se e manifestar suas emoções de outra forma, inclusive com repercussões físicas.

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Como lidar com o seu filho superdotado

Pais de filhos superdotados, ou com traços dessa característica, devem procurar ajuda especializada para garantir um desenvolvimento saudável. Além disso, há comportamentos que sempre ajudam:

a) O diálogo: conversar frequentemente sobre os fatos e sentimentos, dando recursos intelectuais para que a criança possa refletir e conhecer a si mesma, vai ajudá-la a valorizar os outros e a ficar mais tranquila em qualquer ambiente.

b) Descobrir o valor dos outros: os pais devem ajudar o superdotado a descobrir as boas qualidades dos demais; além disso, precisam auxiliar os filhos superdotados no processo de admitir as próprias falhas com serenidade, sem se sentirem surpresos com isso. O jovem precisa saber ajudar e deixar-se ajudar pelos amigos – ensinar matemática, por exemplo, em troca de aulas de futebol ou violão.

c) Dar vazão aos talentos: no contraturno da escola, é importante que o jovem tenha atividades que de fato desafiem as suas capacidades.