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Um dos poemas favoritos da nossa família é “Ponto de Vista”, de Shel Silverstein. É espirituoso sem ser enfadonho, e leva o ouvinte a considerar mais cuidadosamente o ato de comer carne: “O jantar de Ação de Graças é infeliz e ingrato/ A ceia de Natal é repleta de tristeza. /Quando você para e tenta enxergar / Do ponto de vista do peru que está na mesa”.

Ler este poema reforça a ideia de que comer ou não comer carne é uma escolha pessoal – uma decisão de estilo de vida que pode estar enraizada no senso individual de certo e errado. Há muitas razões sociais, culturais e individuais para explicar por que alguém é carnívoro ou vegetariano. Esta é uma decisão de foro íntimo.

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Escolha pessoal ou política pública?

Exceto quando não é. O prefeito de Nova York, Bill de Blasio, anunciou no início de março que todas as escolas públicas de Nova York colocarão em prática as “Segundas-feiras sem carne”, evitando a oferta desses alimentos durante o café da manhã e almoço nas escolas às segundas-feiras, a partir do próximo semestre. “Cortar um pouco o consumo de carne vai melhorar a saúde dos nova-iorquinos e reduzir as emissões de gases de efeito estufa”, argumentou o prefeito em recente declaração. “Estamos expandindo as ‘Segundas-feiras sem carne’ para todas as escolas públicas, com o intuito de manter nossas refeições – e o nosso planeta – mais verdes para as gerações vindouras”.

O prefeito reconhece que o vegetarianismo é uma escolha pessoal. Numa entrevista coletiva para anunciar sua nova agenda vegetariana, declarou: “Para mim, esta é uma questão muito pessoal, porque eu como carne e pratos vegetarianos e tento manter um equilíbrio entre os dois. Mas tenho dois vegetarianos em casa e eles têm uma posição muito clara em relação a isso”.

Aparentemente, para os membros da família de Bill de Blasio, a opção pelo vegetarianismo é defendida com veemência. Bom para eles. O problema surge quando as preferências pessoais de alguém se transformam em política pública. Em seu discurso, o prefeito explica que de tempos em tempos precisamos desses reis-filósofos para guiar as massas: “Às vezes, os nossos políticos serão os pioneiros e visionários”.

Que tal deixar os indivíduos e as famílias fazerem suas próprias escolhas sobre o que comer? Funcionários do governo deveriam ter o poder de decidir o que você come?

Felizmente há maneiras de contornar o decreto da “Segunda-feira sem carne”. Os pais de alunos das escolas públicas de Nova York podem preparar lanches ou refeições com carne para seus filhos levarem, se quiserem. Como já escrevi, essa comida caseira é uma opção muito mais saudável para as crianças do que a variedade oferecida pelo Departamento de Agricultura dos Estados Unidos.

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Decreto governamental, decisões subjetivas

O plano da “Segunda-feira sem carne” é apenas a ponta do iceberg quando se trata de um governo ditando o que é certo e errado, e muitas vezes usando as escolas públicas para influenciar os jovens. A obrigação de educação sexual no ensino estatal continua a gerar controvérsia, em confronto com diversas religiões e preferências das famílias. E a iniciativa para introduzir nas escolas uma “educação de caráter”, de modo a direcionar o norte moral dos alunos, levanta a seguinte questão: “Qual norte moral será usado?”

Em uma sociedade pluralista, decretos públicos sobre moralidade são inevitavelmente controversos. Um novo relatório divulgado pelo Pioneer Institute, de Boston, examina o crescente impacto da “aprendizagem socioemocional” (SEL, na sigla em inglês) ou sua ênfase nas escolas em detrimento do conteúdo acadêmico. As iniciativas de SEL em diversos currículos e métodos de ensino podem moldar as percepções dos alunos em relação a si mesmos e ao mundo de uma forma potencialmente limitada.

Jane Robbins, uma das autoras do estudo chamado “Aprendizagem socioemocional: uma babá estatal do movimento New Age da Educação Infantil ao Ensino Médio”, explica:

Uma coisa é conduzir seu próprio desenvolvimento moral, ético e emocional ou o dos filhos; outra bem diferente é permitir que um órgão governamental ou funcionários não qualificados da escola pública implementem um currículo SEL com base em psicologia de boteco.

Ninguém, além dos próprios indivíduos e respectivas famílias, deve impor seus próprios valores morais e visões de mundo – muito menos funcionários do governo trabalhando em escolas públicas, com poder para ditar o bem e o mal.

Tradução de Ana Peregrino

©2019 FEE. Publicado com permissão. Original em inglês.

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