Uma assistente de professor de uma universidade canadense foi advertida por exibir um vídeo que mostra um debate a respeito do uso de pronomes de gênero neutro.
Exibido pela professora assistente Lindsay Shepherd, da Wilfrid Laurier University, para alunos de uma turma de primeiro ano de graduação em comunicação, o vídeo mostra um debate entre dois professores sobre o uso de pronomes de gênero neutro.
Um deles é o professor Jordan Peterson, que ganhou notoriedade por não aceitar quaisquer pronomes que não sejam “ele” ou “ela” para se referir a pessoas transgênero.
Foi o que bastou para gerar uma reação da universidade.
De acordo com a instituição, Lindsay teria violado a política de Violência Sexual e de Gênero da universidade e criado um “ambiente tóxico” na sala de aula. Segundo Lindsay, que manteve uma posição neutra acerca do debate, essa discussão é pertinente para uma aula de comunicação por mostrar as complexidades da gramática.
A universidade repreendeu Lindsay em uma reunião com os seus superiores. Na reunião, cujo áudio foi gravado e divulgado por Lindsay, um dos funcionários da universidade disse que a sua abordagem neutra ao debate mostrado no vídeo “seria similar a ter uma opinião neutra sobre Adolf Hitler”.
Repercussão
Após a repercussão da gravação, a instituição pediu desculpas publicamente para a professora.
“Depois de ouvir esta gravação, um pedido de desculpas é necessário”, disse Deborah MacLatchy, presidente e vice-chanceler de Laurier, em um comunicado. “A conversa que ouvi não reflete os valores e práticas a que Laurier aspira. Sinto muito que isso tenha ocorrido do jeito que ocorreu e lamento o impacto que teve em Lindsay Shepherd”, completou.
Depois do pedido de desculpas público da universidade, Lindsay comentou o ocorrido nas redes sociais. “Moral da história: uma universidade deve ser repetidamente envergonhada publicamente, internacionalmente, para se desculpar. Além disso, certifique-se de gravar secretamente todas as reuniões ou você não será levado a sério”, disse.
Debate
Agora a comunidade universitária se divide em um impasse entre uma suposta proteção de estudantes transgêneros e a liberdade de expressão – movimentos de apoio aos transgêneros alegam que alunos foram vitimizados pela aula de Lindsay e, por isso, devem ser protegidos das ideias supostamente negativas que teriam sido difundidas por ela.
Por outro lado, defensores da liberdade de expressão alegam que a universidade deve promover debates e reflexões críticas entre ideias diferentes de modo aberto, sem a censura de discursos.
“Há duas perspectivas sobre o que deveria acontecer nas universidades: a busca pela verdade ou a militância por justiça social”, disse William McNally, professor de finanças na Lazaridis School of Business and Economics da Wilfrid Laurier University, em uma passeata a favor da liberdade de expressão em apoio a Lindsay.
McNally lançou uma petição online para que a universidade reafirme a liberdade de expressão na sua comunidade interna.
Transfobia e liberdade de expressão
De acordo com informações do jornal Toronto Sun, os poucos docentes que defendem publicamente a liberdade de expressão estão sendo acusados de transfobia em meio à repercussão do caso de Lindsay.
Mas para os apoiadores da liberdade de expressão, o ponto a ser defendido é o livre debate, alcançado por meio do fim da censura de ideias e discursos.
“O processo em que a liberdade vence é a batalha de ideias”, disse McNally. “Mas se uma ideia não pode participar, porque é censurada, então a verdade não consegue vencer”, conclui.
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