Professora de Inglês na rede estadual de ensino, Ivani Aparecida Andrade não utiliza mais os livros didáticos em sala, pois considera os materiais muito avançados para o grau de conhecimento dos estudantes. A aula é de língua estrangeira, mas as conversas acontecem em português. “Eu morei um ano nos Estados Unidos e quando voltei os alunos odiavam a minha aula, porque eu falava em inglês. Pediam para eu usar o português, diziam que não entendiam nada”, conta. A percepção do dia a dia é confirmada por dados.
Apenas 5 % dos brasileiros falam inglês
Pesquisa do British Council revela os desafios do ensino da língua no país
Embora o inglês seja hoje o idioma mais difundido no mundo, apenas 5% dos brasileiros falam a língua e menos de 1% apresentam algum grau de fluência, aponta pesquisa feita em 2013 pelo British Council. A evolução desse quadro passa obrigatoriamente pela melhoria das condições de ensino na rede pública, onde estão 85% dos brasileiros matriculados nos ensinos fundamental e médio. “Devido à realidade do Brasil, ao peso da educação pública no país, esse é um caminho muito importante”, afirma Nina Coutinho, Diretora para Língua Inglesa do British Council no Brasil.
As dificuldades com a língua não parecem estar apenas no ensino público. Segundo dados do Índice de Proficiência em Inglês 2014, medido pela empresa de educação EF Education First, o Brasil apresenta “proficiência baixa” na língua, enquanto a Argentina está no rol de países com “proficiência alta”. A conclusão foi obtida a partir de exames de Inglês feitos em 2013 por 750 mil alunos maiores de 19 anos, em 63 países. A proficiência da população avaliada é dividida em cinco níveis: “muito alta”, “alta”, “moderada”, “baixa” e “muito baixa”.
Pesquisa inédita encomendada pela organização British Council com 1.269 professores de ensino fundamental e médio da rede pública mostrou que 42% deles entendem que os livros são muito difíceis para os alunos. Além disso, do total de docentes, 41% dizem que a língua inglesa não é considerada relevante pelos estudantes.
Além da falta de recursos didáticos adequados e do interesse dos alunos, o estudo aponta outras condições que interferem do ensino de Inglês nas escolas públicas, entre elas a sobrecarga e o despreparo dos docentes. Os professores entrevistados reconhecem que têm dificuldades com o idioma e apontam a falta de oportunidade de praticar como o principal entrave: do total de docentes, 22% admitiram apresentar problemas com a língua falada e 55% afirmaram não ter oportunidades para conversar em inglês.
A dificuldade dos professores com a oralidade faz com que o ensino seja focado em questões gramaticais, com poucas oportunidades para que os alunos se comuniquem de maneira adequada em diferentes contextos, afirma a professora Ana Lúcia Ducatti, autora de uma dissertação de Mestrado sobre os entraves da aprendizagem de Inglês em uma escola pública do interior de São Paulo. “Se o próprio professor não se sente confiante em dar a aula, os alunos não têm como aprender”, diz.
Naiara da Costa Barbosa é aluna do 1.º ano do ensino médio do Colégio Estadual Hildebrando de Araújo, no Jardim Botânico. Ela valoriza as aulas de Inglês da escola, mas afirma que tem dificuldade em aprender a pronúncia das palavras. “Às vezes tem muita bagunça na sala e eu não consigo entender”, diz.
Apenas 5 % dos brasileiros falam inglês
Leia a matéria completaA pesquisa divulgada pelo British Council mostra ainda que os professores estão sobrecarregados: 69% deles dão aulas para mais de cinco turmas e grande parte das aulas não é de Inglês. Geralmente os docentes também lecionam Português, uma vez que boa parte deles é formada em Letras – Língua Portuguesa e Letras – Língua Portuguesa e Estrangeira. Segundo Ana Lúcia, por possuírem dupla licenciatura, os docentes escolhem primeiro as aulas de Português, para depois completarem a carga horária com as de Inglês. “Os professores escolhem primeiro Português, porque têm mais confiança no ensino dessa língua”, afirma.
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