Cerca de 300 mil universitários foram convocados para fazer o Exame Nacional de Desempenho (Enade) 2005 do Ministério da Educação, na tarde deste domingo (confira gabaritos). O teste, substituto do Provão, durou quatro horas (das 13h às 17h). Em alguns locais, estudantes chegaram atrasados e foram proibidos de entrar, e também houve boicote à prova. Representantes de grêmios estudantis das principais universidades do Estado do Rio de Janeiro distribuíram panfletos e adesivos pedindo aos alunos para deixarem a prova em branco como forma de protesto.
Foram selecionados, por meio de um sorteio, 191 mil estudantes do primeiro ano de faculdade (que já cumpriram entre 7% e 22% da carga horária do curso) e 153 mil concluintes (com mais de 80% da carga horária), das seguintes áreas de conhecimento: arquitetura e urbanismo, biologia, ciências sociais, computação, engenharia (dividida em oito grupos), filosofia, física, geografia, história, letras, matemática, pedagogia e química. Os faltosos do último ano de estudo não poderão receber o diploma, já que o exame é obrigatório. Lívia Loureiro da Motta, de 25 anos, formanda de arquitetura no Rio de Janeiro, não pôde fazer a prova porque chegou atrasada cinco minutos (às 13h05), no Colégio Marista São José, na Tijuca, que já estava com os portões fechados.
"Moro no Recreio e fui escalada para fazer prova na Tijuca. Não tem cabimento. Além disso, o cartão de confirmação da prova não chegou até hoje. Fiquei dois dias tentando ligar para o 0800 e o serviço estava fora do ar. Só na quarta-feira consegui acessar o site do MEC. E não é só. Quem está no último período raramente vai à faculdade. Soube por acaso que estava selecionada para fazer o exame", diz Lívia, que pretende entrar na Justiça para obter seu diploma. "Estudo há sete anos. Não posso perder mais tempo, ficar sem meu diploma".
Os alunos que foram selecionados em 2004 para fazer a prova e faltaram tiveram uma nova chance neste ano. Esta é a segunda edição do Enade, cujo objetivo é avaliar uma mesma área de conhecimento a cada três anos. Quando foi aplicado pela primeira vez, em 2004, participaram estudantes de 13 cursos: agronomia, educação física, enfermagem, farmácia, fisioterapia, fonoaudiologia, medicina, medicina veterinária, nutrição, odontologia, serviço social, terapia ocupacional e zootecnia. Até 2009, todas as 52 áreas de conhecimento serão avaliadas.
Mesmo com a decisão do MEC de trocar o Provão pelo Enade, alunos continuam reclamando do sistema de avaliação. Segundo o diretor do Diretório Central dos Estudantes da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), o aluno de história Bernardo Lima, os grêmios estudantis não são contra uma avaliação dos universitários, mas contra o modelo do Enade.
"No nosso entender, a gente tem que fazer uma avaliação para conhecer os problemas das universidades, onde os alunos são mais fracos e onde são mais fortes. Isso para que a gente possa tirar políticas públicas para atacar os problemas da educação. O sentido da avaliação do governo é exatamente o contrário. Ela tem um sentido punitivo, de criar uma relação meritocrática dentro do sistema de avaliação, porque você quer criar um ranking para o mercado de qual é a melhor e qual é a pior universidade", disse Lima.
O aluno do segundo período de informática André Ferreira foi um dos estudantes que aderiram ao boicote dos grêmios estudantis. Ele entregou a prova do Enade em branco e saiu do local da avaliação menos de 20 minutos depois de seu início. "Vim porque se a gente não fizer essa prova fica sem o nosso certificado do final do curso. Esse foi o único motivo que me fez vir", explicou.
Uma das diferenças entre o Provão e o Enade é que, no primeiro, todos os alunos do último ano de cursos de graduação eram avaliados. No segundo, são selecionados cerca de 60% desse grupo. De acordo com o coordenador geral do Enade, Amir Limana, a amostragem é um método melhor. "Podemos, a partir de uma parte do universo de estudantes, ter uma amostra do todo. Isso facilita mais a multiplicidade de possibilidades de análise qualitativa do que fazer pelo método universal, com todos os estudantes", afirmou.
A grade de correção das provas discursivas deverá ser divulgada no mínimo 15 dias após o exame. O resultado final está previsto para sair até maio de 2006.
Mais informações no site www.inep.gov.brou pelos telefones 0800-616161, (61) 2104-8137, (61) 2104-8125 e (61) 2104-8575.
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