Lúcia: “Mediar envolve trabalhar sentimentos, ouvir agressores e agredidos.”| Foto:

O conhecimento sobre si mesmo e sobre os outros é algo que também deve ser ensinado pela escola. A ideia de levar em conta os sentimentos na resolução de conflitos e situações de violência nas escolas é defendida pela doutora em Educação Lúcia Salete Celich, coordenadora do Grupo de Estu­dos em Afetividade e Moralida­­de, na Universidade Federal da Santa Maria.

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Lúcia Salete é professora há 30 anos, e há 18 anos tem dedicado sua atuação ao desenvolvimento de pesquisas em Educação. Já mi­­nistrou aulas em todos os níveis de ensino, da educação infantil ao ensino superior. É coautora do livro Escola, Conflitos e Violên­­cias, lançado no fim do ano passado, pela Editora UFSM. O livro propõe uma reflexão sobre os limites e as possibilidades de se educar diante da violência e dos conflitos que se fazem presentes na escola. Para Lúcia Salete, o conflito não deve ser definido sempre como algo ruim. "Ao longo do nosso desenvolvimento enquanto ser humano, vamos passar por conflitos ou por crises que têm um caráter extremamente positivo para o nosso desenvolvimento e ou­­tras, não tão positivas. Quando a negociação de um conflito é aban­­donada, também é deixada de lado a acolhida em detrimento de uma resolução mais fácil, mais curta e através de estratégias equivocadas e que levam a violência", diz.

Lúcia Salete esteve no mês passado em Curitiba, para ministrar palestra promovida pelo Sindi­cato das Escolas Particulares do Paraná (Sinepe-PR). Leia abaixo tre­­chos de entrevista concedida para a Gazeta do Povo.

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A violência e os conflitos na escola podem interferir no processo de aprendizagem?

No sentido de que cada criança dentro da escola deveria ao longo do seu desenvolvimento ser desafiada a pensar de maneira autônoma, os conflitos ou a violência na escola interferem nas situações de aprendizagem. Se o aluno ao longo do seu processo de aprendizagem não for desafiado a pensar passa a ser vítima de violência na constituição de sua personalidade.

Em que nível de relacionamento os conflitos são mais comuns nas escolas?

Entre alunos e alunos, alunos e professores e professores e alunos. Em uma pesquisa feita no ano passado, em uma escola da periferia da cidade de Santa Maria, com 366 alunos, verificamos a prática do bullying em todas as esferas. Mas o que me chamou realmente muito a atenção foi o bullying praticado por uma professora dentro da sala de aula de turmas de 6.ª e 7.ª série.

Como manter um ambiente de paz na escola?

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No próprio livro apontamos alguns possíveis caminhos ou estratégias de organização na escola, como formação de assembleias da turma e a figura do professor mediador de conflitos. Muitas vezes os professores esquecem dessa ideia da mediação. Me­­diar envolve trabalhar sentimentos, ouvir agressores e agredidos.

Você estuda muito a questão do sentimento quando se fala da violência na escola. Até que ponto e no que faz a diferença levar em conta os sentimentos das pessoas?

Faz a diferença porque tanto vítimas como aquele que agride nem sempre têm autoconhecimento. A percepção de si em re­­lação aos outros faz a diferença. Não dá para se preocupar exclusivamente em trabalhar o conteúdo e esquecer da condição de ser humano. Se a escola se preocupar em trabalhar como se sente aquele que foi maltratado, pode ser um ponto de partida que na maioria das vezes é deixado de lado.