Fim da expansão do Reuni traz preocupação
Apesar da boa fase que a Universidade Federal do Paraná (UFPR) vive com relação ao grande aumento do número de bolsas científicas, nos bastidores existe a preocupação com o futuro do incentivo oferecido. A incerteza justifica-se pelo fato de a fase de expansão do programa Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (Reuni), do governo federal, ter os dias contados está prevista para ser concluída no final de 2012.
Verbas para graduação também aumentam
A UFPR aumentou nesta semana também as verbas dadas pela instituição a estudantes de graduação. Normalmente, os valores das bolsas deste gênero são bem menores. São bolsas de monitoria, por exemplo, para alunos que cuidam de laboratórios; ou bolsas para instrutores de cursos na instituição.
"Posso pagar as contas"
Os cursos de pós-graduação em Agronomia da UFPR preencheram as 40 bolsas do Reuni e da Capes oferecidas neste ano. A mestranda Ana Selena Fernandez Lucius, 24 anos, foi uma das contempladas.
O total de bolsas de mestrado e doutorado oferecidas neste ano a estudantes de pós-graduação da Universidade Federal do Paraná (UFPR) dobrou em relação às 905 dadas em 2009. Esta é a primeira vez, segundo o coordenador do programa de pós-graduação da UFPR, professor Edilson Sérgio Silveira, que se aumenta tanto o investimento nesse tipo de incentivo de um ano para outro. São 1.873 bolsas, o que representa R$ 31,6 milhões destinados para a formação e capacitação de quase metade dos cerca de 4,3 mil alunos de pós-graduação da instituição. A grande quantidade até faz com que benefícios sobrem em alguns cursos.
A média nacional aponta que um terço dos mestrandos e doutorandos do país recebe algum tipo de auxílio. Uma realidade superada pela UFPR, que chega a um nível de 43,5%. A maior parte do dinheiro vem do governo federal por meio do programa Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (Reuni). Também há forte investimento da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes). "Houve uma expansão do número de bolsas muito acentuado neste ano", afirma Silveira.
Todos os 99 cursos da universidade tiveram a oportunidade de obter benefícios para seus alunos. As bolsas são de R$ 1,2 mil (mestrado) ou R$ 1,8 mil (doutorado). Somente aqueles ligados à área médica não se interessaram. Os coordenadores precisarão encontrar interessados até o próximo mês. Caso o prazo não seja cumprido, as bolsas serão recolhidas e redistribuídas para alunos de outras coordenações. Quem imagina ser tarefa fácil, engana-se. Em pelo menos um mestrado de Letras, por exemplo, até mesmo alunos que não haviam se inscrito para ganhar o auxílio foram procurados para saber se havia interesse.
Critérios
O presidente da Fundação Araucária de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico do Paraná, José Tarcísio Pires Trindade, defende que a contratação de bolsas siga critérios muito rígidos e bem definidos em editais. "Tem de ter critérios que tenham aceitação dentro da universidade. Acredito que tenham definido os critérios mais adequados", afirma. Silveira diz que a oferta de bolsas na UFPR é regida por editais que seguem critérios gerais e regras definidas por cada curso relativas ao mérito acadêmico. "Normalmente, esses alunos já passaram por processos seletivos muito concorridos. É preciso dar oportunidade para todo mundo", afirma.
Já o ex-secretário executivo do Ministério da Ciência e Tecnologia Carlos Américo Pacheco, professor do Instituto de Economia da Unicamp, acredita que o número de bolsas é exagerado. Ele diz que, para serem considerados bons, projetos desse tipo de incentivo devem ter procura de pelo menos três propostas de pesquisa por vaga para que se escolham os melhores candidatos. "Gostaria de ter mais detalhes, mas me parece um pouco exagerado e sem critérios. É preciso ter uma demanda mínima para ser atendida ou uma forte justificativa para um determinado setor", opina. Pacheco acredita que as bolsas seriam melhor aproveitadas se fossem destinadas a departamentos específicos que precisam de investimentos.
Sobra de vagas
As exigências do contrato dificultam a busca por interessados na UFPR. A principal delas determina que o beneficiado não tenha vínculos empregatícios para que se dedique exclusivamente ao curso em atividades de extensão, aulas e programas de pesquisa. "Existe um perfil para o aluno bolsista que nem sempre é atendido", afirma o coordenador dos cursos de pós-graduação em Educação, professor Ângelo Ricardo de Souza. Das 109 bolsas solicitadas por Souza, apenas 41 foram preenchidas por meio de edital. Outras 17 estão praticamente garantidas a alunos que não haviam sido beneficiados. "É um universo razoavelmente grande de bolsas. Acho que ainda consigo destinar mais umas 10 ou 15. Infelizmente, não vou conseguir preencher todas elas", lamenta Souza.
Entretanto, a grande oferta de bolsas foi favorável a cursos inaugurados em 2010. Em anos anteriores, normalmente, apenas duas bolsas eram disponibilizadas às primeiras turmas. No mestrado em Fisiologia, por exemplo, oito dos dez alunos garantiram o apoio financeiro. "Isso é extremamente positivo para o curso. Sobretudo porque aumenta a dedicação do aluno ao programa e aumenta a produção científica. O ideal é que o aluno se dedique integralmente", afirma o coordenador do curso, professor Ricardo Fernandez Perez.
Esses aspectos são positivos para melhorar a qualidade e a classificação dos cursos da UFPR, divulgada pelo Ministério da Educação a cada três anos. "A falta de bolsas é o maior entrave para o crescimento dos cursos", afirma Silveira. O desempenho dos alunos, o envolvimento com atividades acadêmicas, o comprometimento dos professores com orientações de pesquisas e o aumento da produção de dissertações e teses são aspectos que beneficiam a avaliação. "A ideia é que o aluno se dedique integralmente ao curso", explica Souza. "Genericamente, o investimento em bolsas é uma coisa muito bem vinda. Muitas vezes a bolsa é o diferencial para o aluno começar e terminar o curso. É um investimento que oferece retorno e contribui para o desenvolvimento do próprio país", comenta Trindade.
* Além das bolsas do Reuni e da Capes, os alunos da UFPR também ganham auxílios de outras fontes, como a Fundação Araucária e o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), que não foram contabilizados nesta reportagem
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