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O presidente Jair Bolsonaro mantém reitor ligado à esquerda universitária na UFMT.
O presidente Jair Bolsonaro mantém reitor ligado à esquerda universitária na UFMT.| Foto: Marcos Corrêa/PR

O presidente Jair Bolsonaro nomeou, em decreto publicado nesta sexta-feira (9), Evandro Aparecido Soares da Silva para reitor da Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT). A escolha é uma surpresa já que Evandro Soares é ligado a políticos de esquerda e era vice-reitor de Myrian Serra, que renunciou ao cargo de reitora no início de 2020 após disputas públicas com o ex-ministro Abraham Weintraub que, com o apoio de um relatório da Controladoria-Geral da União (CGU), apontou graves falhas orçamentárias na sua gestão. A opção também causa estranheza pelo fato de os outros dois nomes da lista tríplice serem de professores considerados “conservadores”.

No ano passado, Weintraub responsabilizou a gestão de Myrian Serra pelo não pagamento de contas de luz de 2017 a 2019 que levaram ao corte de energia elétrica em todos os campi da UFMT, em 16 de julho de 2019. Oficialmente, a UFMT havia atribuído o corte de luz ao contingenciamento de verbas feito pelo Ministério da Educação (MEC), mas o relatório da CGU apontou irregularidades financeiras como as verdadeiras causas do apagão.

Myrian e Evandro assumiram a reitoria em 2016 com o apoio do mesmo grupo de Maria Lúcia Cavalli Nede, reitora da UFMT entre 2008 e 2016, filiada ao PCdoB. Boa parte da gestão foi conduzida por Evandro Soares, pois Myrian teve um acidente vascular cerebral no dia da posse, em 2016, que a deixou longe da universidade por um longo período. Mesmo assim, após o relatório da CGU, a situação de Myrian Serra ficou tão insustentável que ela renunciou ao cargo no início de 2020.

Irregularidades apontadas pela CGU

A CGU avaliou a gestão orçamentária da UFMT em uma auditoria realizada entre 24 de julho e 9 de agosto de 2019, após o corte de luz nos campi da UFMT.

Sobre a energia elétrica, o órgão verificou um aumento de consumo de energia elétrica de 369%, entre 2017 e 2019. Quando houve o apagão, várias contas de luz estavam em aberto, contabilizando um montante de R$ 1,8 milhão.

“Registrou‐se acúmulo reiterado de faturas de fornecimento de energia elétrica não pagas, aliado à falta de programação financeira com fluxo de caixa que contemplasse a quitação dos parcelamentos dos débitos somados ao pagamento das faturas mensais pela utilização normal”, diz o relatório. “Há execução de despesa sem limite orçamentário, caracterizando infração administrativa contra a Lei de Finanças Públicas”.

A CGU encontrou também outras irregularidades, como repasses feitos ao fornecedor do Restaurante Universitário (RU), a empresa Novo Sabor Refeições Coletivas. Entre 2017 e 2019, os auditores identificaram um aumento de 576% nos gastos com a empresa, com notas duplicadas e informações desencontradas no número de refeições e gastos realizados.

A CGU recomendou, então, a implementação de uma equipe de trabalho para criar mecanismos para melhor controle dos gastos. Afirmou ainda que o contador da instituição deveria fazer controle de caixa, a cada dois meses, confrontando a receita prevista e o orçamento da universidade.

Procurada, a universidade não se manifestou sobre o relatório da CGU.

Formação da lista tríplice para escolha de Bolsonaro

Evandro Soares assumiu oficialmente o cargo de reitor na UFMT em 2 de março de 2020, mesmo sem a publicação da exoneração de Myrian Serra, feita apenas no dia 1º de abril. Logo após caducar a Medida Provisória 914/2019 de Bolsonaro – que previa a possibilidade de eleições diretas para reitor pelas universidades –, em junho de 2020, a UFMT iniciou o processo para escolha de reitor.

Evandro Soares foi o mais votado em uma consulta online, da qual 70% da comunidade acadêmica se absteve de participar, em 25 de julho de 2020. A segunda colocada, a professora Danieli Backes, ingressou com pedido de impugnação da consulta apontando falhas na votação online, mas o pedido foi negado.

A lista tríplice enviada para Bolsonaro continha, além de Evandro Soares e Daniele Backes, o nome do professor Alexandre Paulo Machado, participante do Docentes pela Liberdade, associação de professores que luta por maior liberdade de expressão nas universidades e tinha proximidade com Weintraub. Mesmo assim, Bolsonaro decidiu escolher Evandro Soares.

Procurado, o MEC não quis comentar a escolha.

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