O presidente Jair Bolsonaro disse nesta segunda-feira (20) que assinará a nomeação de Denise Pires de Carvalho como reitora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Será a primeira mulher a ocupar o cargo na instituição, que completará 100 anos em 2020.
Apesar de ter sido a mais votada em consulta à comunidade acadêmica que desafiou a determinação do Ministério da Educação (MEC), por não contar com o peso de 70% para o voto dos docentes, a confirmação do nome no Colégio Eleitoral da UFRJ e a elaboração da lista tríplice obedeceu às diretrizes previstas em lei.
"Hoje devo assinar aqui [no Rio] o nome da nova reitora da universidade, a UFRJ. Tomei conhecimento a respeito dela, da lista tríplice, é a pessoa adequada. Já falei que é 'reitora', então já dei a dica de quem é. Agora sou 'homemfóbico'", disse Bolsonaro, em evento no Rio de Janeiro.
Denise Pires de Carvalho, 54 anos, é docente do Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho da UFRJ. Em sua campanha para a Reitoria, ela se colocou em oposição à atual administração, formada em sua maioria por simpatizantes ou filiados ao PSOL. Denise questionou, principalmente, a má gestão dos recursos financeiros, que teriam levado, entre outras consequências, à falta de manutenção que causou o incêndio do Museu Nacional.
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Apartidária e contra cobrança de mensalidades
Em entrevista concedida à Gazeta do Povo em março, Denise Pires confirmou que um dos principais problemas da UFRJ era o seu déficit orçamentário. Na ocasião, ela disse que a solução poderia estar “dentro de casa”, por meio de um redimensionamento das contas feito por uma comissão permanente a ser formada com “os melhores administradores da universidade”.
Por outro lado, ela se posicionou contra qualquer espécie de cobrança de mensalidades. “Sou professora há 30 anos, não acho correto que você tenha em um mesmo ambiente alunos que pagam e alunos que não pagam. Isso gera uma série de problemas internos para o professor em sala de aula. É um problema social importante. ‘Eu mereço receber mais atenção porque eu pago e você não paga.’ É ruim criar mais de um grupo de pessoas dentro da sala, é ruim porque isso significa o início da privatização definitiva. Eu sou contra a cobrança de mensalidade porque não resolve o problema financeiro e traz problemas do dia a dia que são muito deletérios para a sociedade e para a comunidade acadêmica”, alerta Denise Pires.
Sobre a atuação de partidos como o PSOL na administração da instituição, Denise disse que “isso é ruim”. "Partidos têm conflitos de interesses com qualquer instituição que não seja o próprio partido. Quando pensamos que partidos estão fazendo parte da gestão isso é ruim. É ruim para qualquer instituição”, declarou, confirmando não ser e nunca ter sido filiada a nenhum partido.
Patrulhamento ideológico e Lava Jato da Educação
Ao mesmo tempo, ela tem reservas àqueles que desejam um “patrulhamento ideológico” nas instituições de ensino superior.
“A universidade é de todas as ideologias. Eu fico escutando ‘que não haja influência ideológica’. Quem fala em não ter influência ideológica é porque já tem uma ideologia. A pluralidade é fundamental.”
Em relação à Lava Jato da Educação, apesar de concordar que é preciso afinar os processos de auditoria e controle das contas nas universidades ela disse ser "desagradável ouvir falar de Lava Jato da Educação, como se as universidades fossem antros de corrupção".
"O governo deveria estar preocupado em rever a lei de importação, a taxação de material para pesquisa e para o ensino nas universidades públicas. Isso é grave, porque eu pago aqui de 3 a 4 vezes no mesmo reagente que um pesquisador do exterior. Isso é grave, e não é Lava Jato: eu pago esse preço por causa dos impostos. O governo deveria pensar numa isenção de impostos para esses casos. O governo deveria pensar no que fazer para melhorar a vida do sistema nacional de ciência e tecnologia e educação superior”, afirmou.
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