| Foto: Gazeta do Povo / Albari Rosa

Os jovens de até 14 anos compõem 21,10% da população brasileira, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Em 2040, serão 16,8%. Em 2060, 14,72%. Em números absolutos, serão 33 milhões de jovens em 2060, contra os 44 milhões atuais. O fenômeno demográfico de envelhecimento da população deixa claro: o Brasil está diante de um processo de redução do número de alunos. Consequentemente, também vai precisar de menos professores. O país está pronto para as oportunidades que essa mudança representa?

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“Não. Ninguém está trabalhando com base nesses dados, que são conhecidos há três décadas. Sabemos que, daqui a 40 anos, teremos 1 milhão a menos de crianças nascendo, por ano, no Brasil”, responde João Batista Oliveira, fundador e presidente do Instituto Alfa e Beto. “O Inep já escrevia sobre isso desde os anos 80, é um fenômeno previsível”, reforça Claudia Costin, diretora do Centro de Excelência e Inovação em Políticas Educacionais da Fundação Getúlio Vargas.

Grandes mudanças

Para João Batista Oliveira, essa mudança demográfica vai provocar uma série de mudanças no cenário educacional brasileiro.

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“Teremos menos demanda por vagas na escola, e menos postos de trabalho para professores. Por outro lado, a educação terá de ser mais robusta, já que as pessoas vão viver muito mais”.

Outra mudança é que, com um contingente de idosos muito maior (vai saltar dos atuais 9,22% da população para 25,49% em 2060), as demandas vão mudar. “Haverá uma maior pressão por recursos para os mais velhos, e isso significa menos dinheiro para educação, na outra ponta”.

O Instituto Alfa e Beto realizou um estudo sobre o cenário futuro da educação. Concluiu que, a cada ano, 3% dos professores estão se aposentando, e muitos dos que estão se formando já não têm emprego na área. “Existe um descompasso entre a demanda por professores e a oferta de cursos e vagas para as ocupações relacionadas ao magistério. Enquanto se reduzem as contratações e a população, aumenta a matricula nesses cursos. Ao mesmo tempo aumenta o subsídio à formação de professores – de maneira diametralmente oposta à sinalização do mercado”, afirma o texto.

“O Brasil forma 240 mil professores novos por ano, mas gera postos para menos de 50 mil”, afirma o presidente do instituto. “Esse é um quadro que só vai se agravar. Mesmo assim, entre os anos 2000 e 2015, o país investiu em aumentar a quantidade de vagas na graduação para professores, sem enfrentar a questão da qualidade”.

Aliás, como indica um estudo recente do Banco Mundial, exigir formação universitária dos professores, a partir dos anos 1990, não garantiu a melhoria do desempenho dos alunos, que continuaram enfrentando grandes dificuldades no aprendizado.

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Ensino integral

Para Cláudia Costin, a redução na demanda, somada à crescente urbanização, vai provocar uma diminuição no número total de escolas. “A cobertura educacional vai se ampliar por conta própria, sem custos muito altos. Até que a capacidade instalada vai dar conta. Por fim, haverá sobra de vagas e salas e será preciso planejar onde, no futuro, as escolas serão necessárias”.

Na avaliação da especialista, essa poderia ser uma oportunidade para adotar uma mudança radical, com potencial para melhorar exponencialmente a qualidade da educação: a adoção do período em ensino integral. “Todos os 30 países mais bem colocados no ranking do Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa) têm escolas turno único, de 7 horas ou de 9 horas. Além de mais horas de aula, essas crianças encontram na escola praticamente tudo o que um pai de classe média brasileiro fornece aos filhos, incluindo esportes, passeios e lazer”.

É uma mudança expressiva, que demandaria uma nova formulação para a carreira dos professores e de uma nova forma de utilizar os espaços das escolas – hoje, em geral, a mesma sala da aula é utilizada por duas turmas, a da manhã e a da tarde.

“Um bom professor faz toda a diferença. E, para ter bons professores, é necessário tornar a profissão mais atrativa, aumentar o salário e contratar profissionais com carga semanal de 40 horas, e não os atuais 10 ou 15, que obrigam os educadores a atuar em duas ou três escolas diferentes, sem vínculo com nenhuma e perdendo tempo de deslocamento”, diz.

Melhorias na carreira

Para aproveitar o novo cenário, seria importante cobrar mais qualificação dos professores que se formam nas faculdades brasileiras. “O professor mediano das séries iniciais de redes públicas de ensino não domina sequer os conteúdos básicos do que ensina”, informa o estudo do Instituto Alfa e Beto.

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“Em Matemática, o total de acertos varia de 63% entre os professores do 1° ano a 82,9% no 4° ano. Em Língua Portuguesa o índice de acertos varia de 60 a 73,3% e apenas 3 de 49 professores acertam pelo menos 80% das questões”, indica o texto, que aponta que os chefes desses educadores nem sequer identificam corretamente o problema: “Diretores e coordenadores situam ‘outros’ como as principais dificuldades dos professores. Isso sugere que nem o baixo domínio do conteúdo, dos métodos ou a falta de experiência são percebidos por ambos como os mais relevantes”, informa.

Será que o país vai aproveitar as mudanças pelas quais a população está passando? “A mudança demográfica apresenta uma grande oportunidade”, afirma Cláudia Costin. “O problema é que o Brasil não é bom em aproveitar oportunidades”.