Cansado de ser vítima de bullying na escola e na vizinhança, um menino de 9 anos, morador do estado de West Virginia, nos Estados Unidos, cometeu suicídio há poucos dias. Em Curitiba, um adolescente, aluno de um colégio tradicional da cidade, tirou a própria vida também vitimado pela violência dos colegas. Distantes por milhares de quilômetros, os dois casos têm uma triste realidade em comum: a persistência e o avanço dos casos de bullying no ambiente escolar.
Dados da Pesquisa Nacional de Saúde Escolar (PeNse) de 2015, realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), apontam que 46,6% dos estudantes do nono ano do ensino fundamental no país disseram se sentir humilhados (em uma frequência que varia de sempre a raramente) por provocações realizadas pelos colegas. No levantamento de 2012, esse número era de 35,4%.
Tal fato sinaliza que o avanço das discussões sobre a urgência em se encontrar meios para combater a prática pode não surtir efeito no dia a dia das escolas. “Ainda estamos muito [concentrados] na teoria, no discurso. Temos muitas pesquisas e sugestões de atividades publicadas, mas que não estão sendo colocadas em prática”, avalia a doutora em Educação Ivone Pingoello, professora do departamento de Teoria e Prática da Educação da Universidade Estadual de Maringá (UEM), pesquisadora e palestrante sobre violência escolar e bullying.
Outros pontos destacados por ela referem-se ao fato de muitos professores ainda desvalorizarem o sofrimento da criança e/ou pensarem que o bullying é uma “brincadeira” típica da idade, além de estarem sobrecarregados com as tarefas diárias, o que os impede de se informar e capacitar sobre o tema.
Consequências
Os prejuízos que a falta de programas de prevenção nas escolas e, consequentemente, a ocorrência dos casos de bullying podem causar para vítimas, agressores e espectadores são devastadoras, como lembra Benjamin Horta, filósofo, pedagogo, especialista em bullying escolar e diretor da Abrace Programas Preventivos. Entre eles estão a queda no rendimento escolar, insônia, depressão, síndrome do pânico, Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC) e tensão excessiva, a ponto de o estudante atentar contra a própria vida.
“A pior delas é a exclusão social. O aluno é excluído do grupo pelo agressor e as não vítimas não se aproximam dele por medo de se tornarem as próximas. Esse isolamento prolongado ocasiona a ‘morte’ social, que antecede a morte física”, diz Ivone.
O agressor, por sua vez, se priva da convivência prazerosa com os colegas, e de todos os benefícios que advém dela, pois precisa manter a “fama de mau”, como lembra Viviane Maito, da Coordenadoria de Atendimento às Necessidades Especiais da Secretaria Municipal de Educação e responsável pelo projeto “Bullying Não é Brincadeira”.
Tais consequências também têm seus reflexos estendidos para a vida adulta dos envolvidos nos casos de bullying. Horta conta que as vítimas das agressões podem desenvolver dificuldades profissionais ou de relacionamento, enquanto os agressores têm propensão a praticar violência doméstica, assédio moral e a abusar do uso de álcool e outras substâncias.