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Pesquisa também mostrou que mais alunos negros tendem a se formar quando têm pelo menos um professor negro | Bigstock
Pesquisa também mostrou que mais alunos negros tendem a se formar quando têm pelo menos um professor negro| Foto: Bigstock

Candidatos negros a dar aulas em um distrito escolar de altíssima reputação tinham muito menos chances de obter as vagas do que os candidatos brancos. Isso ocorria mesmo que os negros tivessem no currículo mais experiência e qualificação. A observação foi feita por pesquisadores da George Mason University em um estudo recém-publicado. 

Os pesquisadores não identificaram o distrito escolar em seu artigo, publicado na Harvard Educational Review, mas funcionários das escolas públicas do Condado de Fairfax, na Virgínia, Estados Unidos, acreditam que o estudo se refere à sua região, que congrega 188.000 alunos – o maior dos arredores de Washington, reconhecido nacionalmente como uma potência acadêmica. 

O estudo afirma que o viés racial nas contratações pode estar contribuindo para a persistente escassez de professores negros na educação pública, um problema que há muito é atribuído à falta de candidatos qualificados. O desequilíbrio pode ter efeitos tangíveis na sala de aula. Outros pesquisadores descobriram que estudantes negros de famílias de baixa renda são mais propensos a se formar quando têm pelo menos um professor negro, e que os professores negros são mais propensos a identificar talentos entre os alunos também negros. 

Os pesquisadores da George Mason examinaram dados de candidaturas a emprego em 2012. Descobriram que os candidatos negros tinham taxas de aprovação ligeiramente inferiores em um teste de triagem, mas credenciais acadêmicas e experiência de trabalho mais extensas do que os candidatos brancos. 

Enquanto os negros constituíam 13% do grupo de candidatos, eles receberam 6% das ofertas de emprego daquele ano. Os brancos responderam por 70% das candidaturas e receberam 77% das ofertas de emprego. “A discriminação é uma palavra poderosa e que muitas vezes é evitada por causa do peso que ela carrega”, escreveram os autores Diana D’Amico, Robert J. Pawlewicz, Penelope M. Early e Adam P. McGeehan. “Neste distrito, os candidatos negros, apesar de terem muitos atributos semelhantes aos brancos, encontraram uma probabilidade significativamente menor de conseguirem um emprego, replicando padrões discriminatórios documentados em uma variedade de indústrias”. 

Os pesquisadores também descobriram que quando os candidatos negros obtinham ofertas de trabalho, eles acabam sendo alocados mais frequentemente em escolas com grandes populações de estudantes de minorias e altos níveis de pobreza. 

Distrito alega que melhorou formas de contratação

As escolas públicas do condado de Fairfax disseram, por meio de nota, que melhoraram suas práticas de contratação desde 2012 e que aumentaram o número de professores de minorias em sua força de trabalho, de 16% em 2012 para 18% quatro anos depois. “Não nos foi dada uma oportunidade para rever este estudo e não podemos confirmar a validade das conclusões a respeito de dados de cinco anos atrás “, disse o porta-voz das escolas, John Torre. O distrito também afirma que a proporção de administradores e professores negros “está alinhada com a nossa população de estudantes negros”. Cerca de 10% dos estudantes da Fairfax são negros, disseram as autoridades, enquanto cerca de 7% dos professores e 16% dos administradores escolares são negros. O distrito se recusou a fornecer dados sobre quantos professores em 2012 eram negros. Pedidos de entrevistas com funcionários do sistema de ensino sobre os resultados do estudo e suas práticas de contratação foram negados. O superintendente interino Steve Lockard não comentou o assunto até o fechamento da reportagem, na quinta-feira (4). Karen Garza, que foi superintendente de 2013 a 2016, também não respondeu a várias mensagens que pediam comentários sobre o assunto 

Jack D. Dale, superintendente do distrito entre 2004 e 2013, disse em entrevista por telefone que “nosso objetivo era tentar descobrir como contratar as melhores pessoas em nosso grupo de candidatos e esse era o procedimento padrão naquela época”. Uma professora afrodescendente na Mount Vernon High School, no sul do condado de Fairfax, disse que o estudo era desanimador. “É simplesmente perturbador, estamos em 2017. Deveríamos ter superado isso”, disse a mulher, que pediu para não ser identificada porque não tinha permissão para falar com a reportagem. “Não deveria interferir na seleção. Se os candidatos têm um grau mais alto e mais experiência, isso é o que se traduz na sala de aula, não a cor da pele.” A Mount Vernon High atende a um grande número de famílias de baixa renda. 

Especialista diz que estudo é uma “advertência” 

Fairfax não é o único sistema de alto desempenho a enfrentar os desafios da diversidade. As escolas têm trabalhado nos últimos anos para recrutar mais educadores de diversas origens étnicas, mas a barreira apontada sempre foi a insuficiência de candidatos qualificados. O estudo de George Mason sugere que os distritos escolares podem ser parte do problema. D’Amico, professor assistente de educação, disse que os sinais de viés racial não são exclusivos do sistema escolar que analisaram. “Está acontecendo neste bairro que estamos estudando, mas provavelmente está acontecendo em muitos outros lugares”, disse D’Amico. “Este bairro é evocativo, mas não excepcional.” 

Eric Hanushek, membro sênior do Instituto Hoover da Universidade de Stanford, que estuda a eficácia de sistemas de ensino, disse que a pesquisa ofereceu “provas sugestivas, mas inconclusivas” de recrutamento com viés racial. Ele disse que os pesquisadores não poderiam julgar o desempenho dos candidatos em uma entrevista ou durante uma sessão prática. “Nós não podemos apenas olhar para os pedidos de emprego e decidir se há discriminação”, disse Hanushek. “Eu acho que temos que nos preocupar com a discriminação racial em nossas escolas públicas porque temos uma história de 50 anos de tentativas de recuperação da segregação racial”, disse Hanushek. “Acho que isso soa como uma advertência, e que o distrito escolar e talvez outros distritos escolares deveriam de fato investigar mais sobre isso”. 

Fairfax é o maior sistema escolar na Virgínia e um dos maiores dos EUA. Tem quase 15.700 professores. O estudo de Mason descobriu que os diretores brancos tendiam a contratar menos professores negros. Os 157 diretores brancos do distrito - 83% do distrito total - contrataram 1.227 novos professores para o ano letivo de 2012-13. Apenas 49 eram negros. Enquanto isso, os 24 diretores negros contrataram 194 professores, 23 dos quais eram negros. Os autores exploraram uma série de razões possíveis para as discrepâncias, mas descobriram que a discriminação era a única explicação plausível. 

Kevin Hickerson, presidente da Fairfax Education Association, que representa os professores do condado, disse que parte do problema de recrutamento pode resultar de um processo de contratação “muito descentralizado”. Os candidatos se candidatam pelo distrito escolar, mas os diretores e seus assistentes devem avaliá-los em cada escola. “É realmente a escola que determina quem é contratado e quem não”, disse Hickerson. George Becerra, pai de um estudante de primeiro ano da Fairfax, membro do Comitê de Supervisão do Desempenho Escolar das Minorias, disse que ficou atordoado pelas conclusões do estudo. “Me desencoraja como pai e, mais importante, como ser humano, que esta prática institucional de discriminação e preconceito esteja ocorrendo aqui “, disse Becerra. “É hora de ter conversas abertas sobre o que está acontecendo”, observa.

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