A Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) informou nesta quarta-feira (8) que decidiu suspender a concessão de novas bolsas de mestrado e doutorado. Na apresentação realizada nesta terça-feira (7) no Senado, o ministro da Educação Abraham Weintraub disse que a meta para mestrado e doutorado já tinha sido cumprida e que era necessário realocar recursos para outras áreas da educação.
Segundo relatos de coordenadores de programas, financiamentos que estavam temporariamente sem uso foram retirados do sistema do órgão de fomento ligado ao Ministério da Educação (MEC).
Leia também: VÍDEO: Não é 30%, mas 5% o corte no orçamento das universidades, diz ministro
As bolsas pertenciam a alunos que já defenderam seus trabalhos recentemente e seriam destinadas a estudantes aprovados em processos seletivos concluídos ou em andamento.
O corte pegou as universidades de surpresa. No Instituto de Biociências da USP, 38 bolsas foram cortadas –17 de mestrado, 19 de doutorado e duas de pós-doutorado.
Elas custeariam estudos nas áreas de botânica, ecologia, fisiologia, genética e zoologia.
Segundo o professor Eduardo Santos, vice-coordenador do programa de pós-graduação em zoologia, a medida atrapalha a formação de pesquisadores e a produção de conhecimento sobre biodiversidade e ainda dificulta a gestão interna.
Na semana passada, o programa fez um exame de ingresso na pós-graduação contando com o número de bolsas disponíveis. "Nosso planejamento gira em torno dessa estabilidade", diz.
Leia também: O que as universidades no Brasil podem aprender com o Qatar e a Arábia Saudita
Ele afirma ainda que, há dois meses, o programa consultou a Capes por escrito para saber se poderia esperar um pouco para preencher a cota da bolsa de pós-doutorado, para que se pudesse elaborar um edital adequado. Receberam a resposta de que sim e, nesta quarta-feira, souberam que esse auxílio foi cortado.
O programa tem nota máxima na avaliação de qualidade da Capes.
Além de professores, a medida pegou de surpresa também estudantes que já tinham passado em processos seletivos.
Aprovada no mestrado em botânica da USP, Adriana dos Santos Lopes, 29, acabou de se mudar do Espírito Santo para São Paulo e, sem financiamento, agora não sabe se vai conseguir continuar os estudos. Ela desistiu de outra bolsa para fazer o programa da USP. "Estou vendo a possibilidade de voltar ou recorrer a algum alojamento emergencial, mas não sei como vou fazer", diz.
No início da tarde desta quarta-feira (8), o pró-reitor de Graduação da USP, Carlos Gilberto Carlotti Junior, enviou comunicado a seus colegas de universidade compartilhando a sua preocupação com a medida da Capes.
"No dia de hoje, as bolsas que constavam como disponíveis para novas implementações foram zeradas nos sistemas", escreveu.
Ele disse ainda que uma transferência bancária que era esperada para verba de custeio não havia sido efetivada e que estava em busca de esclarecimentos da Capes, sem sucesso.
Na Unicamp, ao menos 40 bolsas foram suspensas, segundo levantamento ainda preliminar da instituição.
"Percebeu-se que o sistema para o cancelamento e atribuição de bolsista estava fechado justamente no período do mês que deveria estar aberto para tais remanejamentos. Foram recolhidas bolsas que estavam há apenas 15 dias 'ociosas', muitas vezes aguardando justamente a abertura mensal do sistema da Capes para a indicação do bolsista", diz nota da pró-Reitoria de Pós-Graduação.
Há relatos do mesmo problema em diversas localidades do país, como Paraná, Minas Gerais, Goiás e Ceará.
Na Universidade Estadual de Londrina (UEL), aos menos 38 bolsas que seriam concedidas no início do segundo semestre sumiram do sistema.
A Capes foi um dos atingidos pelo contingenciamento promovido pelo Ministério da Educação (MEC). No total, foram congelados R$ 819 milhões, ou 19% do valor autorizado. O maior volume de corte é nas bolsas de pesquisa no ensino superior: R$ 588 milhões, ou 22% do previsto.