Moradores da cidade de Lucas do Rio Verde, no Mato Grosso, iniciaram uma campanha para renomear uma escola municipal batizada como o nome do pedagogo Paulo Freire. A campanha questiona as preferências políticas de Freire, um simpatizante de regimes comunistas como o de Cuba, e o fato de o autor defender, entre outras coisas, a tese de que a família é um ambiente opressor. A posição da Prefeitura, por outro lado, é o de que o nome não deve mudar, por respeito às decisões de gestões anteriores e também por considerar Paulo Freire “um dos pensadores mais notáveis na história da pedagogia mundial”.
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A ideia dos organizadores do abaixo-assinado contra o nome “Paulo Freire” é recolher 2.500 assinaturas para apresentar a proposta como um projeto de iniciativa popular. Até agora, cerca de 2.000 pessoas assinaram a petição. A campanha teve início em 29 de junho e partiu do microempresário Gláuber Olive.
Segundo Gláuber, a iniciativa se baseia, em parte, em uma reportagem da Gazeta do Povo que mostra cinco trechos questionáveis da obra de Paulo Freire — entre eles, a passagem em que o autor elogia o líder comunista Che Guevara, responsável pela execução de adversários políticos em Cuba. Depois de ler a reportagem, Gláuber adquiriu o livro Pedagogia do Oprimido, obra mais conhecida de Freire, e resolveu fazer sua pesquisa por conta própria — o que só reforçou sua posição contrária às ideias do autor.
O criador da campanha afirma que a petição tem obtido forte apoio na cidade de aproximadamente 100 mil habitantes. “A receptividade tem sido tremenda. Temos 22 pontos de comércio que abriram as portas para nós e estão com banners da campanha e fichas de assinatura”, diz ele. De acordo com Gláuber, alguns vereadores também já declararam apoio à proposta. Ele explica que, caso a campanha obtenha sucesso, a ideia é fazer uma votação para escolher o novo nome da escola. “Nós temos alguns critérios: tem que ser uma pessoa falecida, ligada à educação e que tenha serviços prestados à cidade”, afirma.
Um dos estabelecimentos comerciais que aderiu à petição é o escritório de contabilidade de Tiago de Souza Dutra. Quem chega ao local logo se depara com um banner da campanha. Tiago estima que 50 pessoas já assinaram a lista de apoio no local. Em muitos casos, diz ele, a campanha também tem servido para explicar aos moradores da cidade quem foi Freire. “Algumas pessoas não sabem o que Paulo Freire fez para o Brasil, que não foi nada bom. E nós explicamos para elas”, diz.
A campanha pela mudança no nome da escola também inclui um material em vídeo, no qual moradores da cidade repetem o lema “Paulo Freire não”.
O Centro de Educação Infantil Paulo Freire foi criado em 2019, e atende alunos de pré-escola. A unidade tem capacidade para atender 900 estudantes.
Segundo a base de dados do INEP (Instituto de Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira), um órgão do Ministério da Educação, há 410 escolas com o nome de Paulo Freire no país. Destas, 338 são públicas.
A Gazeta do Povo procurou o presidente da Câmara de Vereadores de Lucas do Rio Verde, Daltro Figur, mas não obteve resposta até a publicação desta reportagem. Lucas do Rio Verde é uma das cidades que mais crescem no país. Impulsionado pela expansão do agronegócio na região, o município é hoje o oitavo maior do Mato Grosso.
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