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O programa Ciência Sem Fronteiras, uma das apostas do governo federal para a formação de pesquisadores, decidiu não renovar bolsas de pelo menos 25 estudantes que estão no exterior, forçando-os a abandonar estudos e pesquisas. O grupo teve indeferida a renovação das bolsas para o próximo semestre sem motivo ou explicação e pede, em um abaixo-assinado, que a situação seja reavaliada.

As bolsas foram concedidas inicialmente por seis meses, com a possibilidade de renovação por mais um semestre prevista no edital. O período de permanência de 12 meses é indicado como mínimo para o bom aproveitamento do intercâmbio.

O Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), responsável pelo programa, não explicou por que não houve a renovação e não informou quantos alunos tiveram seus pedidos indeferidos.

Lançado com pompa pela presidente Dilma Rousseff em julho de 2011, o programa tem a meta de oferecer 101 mil bolsas de graduação e pós-graduação até 2015, sendo 75 mil bancadas pelo governo federal. As demais virão de parcerias privadas.Espalhados

Os 25 bolsistas estão em instituições de países como Inglaterra, Alemanha, Bélgica, Espanha, Canadá e Portugal. Eles tentam a renovação desde maio, quando entraram em contato com o CNPq. Desde então, enfrentaram uma novela com informações desencontradas.

Primeiro, receberam orientações sobre os documentos necessários, mas depois a informação era de que não havia nenhuma possibilidade de renovação. Em algumas mensagens, o indeferimento era uma decisão de instâncias superiores do CNPq. Em outros e-mails, a culpa era do limite de bolsistas por país.

A estudante de Arquitetura Caroline Oliveira, de 21 anos, crê que sua documentação nem foi analisada. Aluna da Universidade Federal do Paraná (UFPR), conseguiu por meio do Ciência Sem Fronteiras um intercâmbio na Technische Universitäat em Munique, Alemanha. Entregou toda a documentação no prazo, mas teve o pedido negado. "A universidade nem imagina que eu posso ter de abandonar. Estou em um projeto grande, com pesquisadores de vários países. Vou atrasar o trabalho deles."

A pesquisa de Yara Barros, de 21 anos, é sobre genética humana, em um dos laboratórios da Universidade de Coimbra, em Portugal. "Como não sei mais se vou ficar, está a maior correria. Estou tentando adiantar, porque ainda não tenho finalizada a parte experimental. Enquanto estão todos de férias, estou aqui. Mas é certo que a pesquisa vai ficar incompleta", diz ela, estudante da Universidade Federal de Alagoas (Ufal).

Como todos os participantes ouvidos pela reportagem, Yara faz questão de reafirmar as qualidades do Ciência Sem Fronteiras. "A oportunidade é maravilhosa, a bolsa é muito boa. Mas fico indignada com o tratamento que nos dão agora. São dois meses sem termos nenhuma justificativa. Quando se pronunciam, a resposta simplesmente é: ‘Não vamos renovar e pronto’."Abaixo-assinado

Depois de várias tentativas de renovar a bolsa e salvar os estudos, o grupo de 25 estudantes preparou um abaixo-assinado. Encaminhou o documento ao CNPq em junho. Mais uma vez, a resposta foi negativa.

As bolsas de graduação do Ciência sem Fronteiras são concedidas normalmente para 12 meses. O CNPq não informou quantos foram ao exterior com contratos de seis meses.

Até o momento, foram concedidas 10.752 bolsas de graduação sanduíche no exterior. Muitos desses estudantes estão em preparação para a viagem. Até o fim do ano, há a expectativa de que sejam concedidas 20 mil bolsas.

Renovação

Após o caso ser encaminhado ao CNPq pela reportagem, o diretor de Cooperação Institucional do órgão, Manoel Barral Neto, responsável pelo Ciência Sem Fronteiras, disse que a situação dos estudantes será reavaliada. "O caso é voltar a pedir a renovação ao CNPq. Vamos avisar a todos da possibilidade da renovação."

O CNPq afirma que o programa é baseado no mérito dos alunos e das instituições, principalmente na hora da renovação - mas não detalhou como isso é avaliado. Segundo Barral Neto, algumas mudanças na relação com as instituições para a definição de vagas interromperam temporariamente as renovações. "A tendência é conceder uma experiência de 12 meses. Mas em alguns casos pode se identificar alguma situação que não seja adequada", disse.

A abertura da nova chance a essa altura pode não valer para todos. Com todas as negativas que recebeu, Glaucia Oliveira, de 27 anos, já se afastou da pesquisa de que participava no laboratório do Departamento de Geoquímica, Petrologia e Prospecção Geológica da Universidade de Barcelona. Também comprou passagem para voltar. As informações são do jornal O Estado de S.Paulo.

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