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Bolsas de pesquisa e fomento

Ciências Biológicas, Exatas e da Saúde compõem o “top 3” em recursos de pesquisa do CNPq

Ciências Biológicas, Exatas e da Saúde compõem o ‘top 3’ em recursos de pesquisa do CNPq
Diante da pandemia, pela primeira vez na década Ciências da Saúde figura entre as três áreas com os maiores orçamentos do CNPq (Foto: Lucas Vasques/Unsplash)

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Nos dois primeiros anos de mandato, a gestão de Jair Bolsonaro destinou mais recursos para pesquisas científicas por meio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) nas áreas de Ciências Biológicas; Ciências Exatas e da Terra; e Ciências da Saúde, nesta ordem. No período, mais da metade (50,2%) dos recursos destinados a bolsas de pesquisa e fomento foram para essas áreas. A atual crise de saúde, com o consequente aumento na demanda de pesquisa em temas relacionados à pandemia, teve efeito direto na alocação dos recursos.

O CNPq, vinculado ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI), é um dos principais órgãos de financiamento à pesquisa e à ciência no Brasil ao lado da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), que integra o Ministério da Educação (MEC). O órgão tem como foco a pesquisa científica e tecnológica e investe na formação de pesquisadores que poderão contribuir para o desenvolvimento e a inovação no país.

“O papel do CNPq é o desenvolvimento de tecnologias para poder desenvolver a economia brasileira, a indústria, o conhecimento. A ideia é criar modelos e técnicas que possam ajudar o país em áreas que vão desde a agricultura até a pesquisa aeroespacial”, explica Alexandre Chaia, economista e professor do Instituto de Ensino e Pesquisa (Insper).

Alocação de recursos na gestão Bolsonaro

No primeiro ano da gestão de Jair Bolsonaro, as áreas que tiveram aumentos mais significativos foram Ciências Sociais Aplicadas, com acréscimo de R$8,9 milhões frente ao ano anterior (11,5% de aumento); e Ciências da Saúde, com R$6,9 milhões adicionais (+4%). Por outro lado, Engenharias teve queda de R$34,3 milhões em 2019 (-15,1%); e Ciências Exatas e da Terra perdeu R$24,5 milhões (-8,9%).

Já em 2020, diante da pandemia da Covid-19, o aumento mais expressivo se deu em Ciências da Saúde, que passou de R$182 milhões para R$196,1 milhões – o equivalente a 7,7% de aumento. Logo atrás veio Ciências Biológicas, que passou de R$235,8 milhões para R$247,9 milhões (+5,13%). Em contrapartida, todas as demais áreas tiveram redução em seus orçamentos. Proporcionalmente, a maior queda foi na área de Tecnologias, com redução de 30,8%.

No acumulado dos dois primeiros anos da gestão Bolsonaro à frente do governo federal, Ciências Biológicas é a área com o maior investimento total no período. Nela foram aplicados R$483,8 milhões, o equivalente a 18,1% de todos os investimentos em bolsas de pesquisa e fomento. Logo atrás vem Ciências Exatas e da Terra, com 17,9% dos recursos, e em terceiro lugar aparece Ciências da Saúde, com 14,2% do total aplicado. Diante da pandemia da Covid-19, 2020 foi o primeiro ano da década (2011 a 2020) em que Ciências da Saúde entrou no “top-3” de investimentos, deixando Engenharias na quarta colocação.

Quanto às Ciências Humanas, diferentemente da Capes, que agrupa “Ciências Humanas”; “Ciências Sociais Aplicadas”; e “Linguística, Letras e Artes” em uma mesma área, no CNPq essas três áreas são separadas. Caso estivessem agrupadas, o investimento nessas categorias seria o maior em 2019 (19,5% de todo o orçamento) e o segundo maior em 2020 (18,1%). Em bolsas de pesquisa da Capes, Ciências Humanas foi a área de com o maior orçamento em 2020.

Recursos do CNPq nas gestões de Dilma Rousseff e Michel Temer

No governo de Dilma Rousseff, entre os anos de 2011 e 2016, as áreas que receberam mais investimentos foram Engenharias (22% de todo o orçamento no período); Ciências Exatas e da Terra (18%); e Ciências Biológicas (15,2%). A média anual de recursos em bolsas e fomento do CNPq na gestão da petista foi R$2,2 bilhões.

Já no governo de Michel Temer, nos anos de 2017 e 2018*, a área de Ciências Exatas e da Terra assumiu a primeira posição no recebimento de recursos, com 19,3% do orçamento total, deixando Engenharias na segunda colocação, com 16,9%. A terceira posição se manteve com Ciências Biológicas (16,6%). A média anual de investimentos no período foi de R$1,4 bilhão – ligeiramente acima da gestão Bolsonaro (R$1,3 bilhão).

O economista do Insper explica que no período de Dilma Rousseff como presidente houve um investimento maciço em bolsas para estudar fora do país, que acabou sendo exagerado e gerou dívidas que até hoje estão sendo pagas. “Dilma se endividou para aumentar gastos com pesquisa com o objetivo de ser vista como a ‘mecenas’ da pesquisa científica, que apoiava a educação, que mandou gente estudar fora do Brasil o tempo inteiro. Mas para isso é preciso colocar dinheiro do governo, e aí gerou uma dívida que está sendo paga até hoje”, diz Chaia. “Se há uma verba para dez anos e se gasta quase tudo em dois ou três, nos próximos anos não vai haver recursos suficientes”, aponta.

* O governo de Michel Temer teve início de forma definitiva em agosto de 2016 após concluído o processo de impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff. Entretanto, uma vez que o orçamento do CNPq é definido no fim do ano anterior, para fins de análise nesta matéria todo o ano de 2016 ficou vinculado à gestão Dilma e, a partir de 2017, avaliou-se a destinação do orçamento sob responsabilidade da gestão de Michel Temer.

Como são definidos os repasses

A definição dos recursos que serão disponibilizados para as áreas do conhecimento depende da aprovação do orçamento enviado pelo governo federal ao Congresso Nacional. Os parlamentares aprovam o orçamento geral dos gastos do governo – o que inclui a verba de pesquisa –, porém não influenciam na distribuição de recursos por área do conhecimento do CNPq. O principal fator que determina como serão feitos os repasses para cada área está relacionado à demanda, isto é, aos pedidos de bolsas e de fomento pelos estudantes e empresas, respectivamente. As solicitações, entretanto, são avaliadas pelo governo federal, por meio do MCTI, que pode aprovar ou não os projetos e, com isso, alocar os recursos para áreas consideradas prioritárias.

“Tem muito a ver com a demanda da própria sociedade, e o governo federal acaba alocando de acordo com essas demandas e necessidades. Porém o governo pode priorizar projetos de determinadas áreas, e aí acaba reduzindo os recursos para as outras”, explica Chaia.

O crescimento dos aportes em áreas ligadas à saúde em 2020, por exemplo, obedece a essa lógica: diante da demanda decorrente da pandemia, houve mais solicitações para pesquisas nesses segmentos. “As próprias universidades passaram a focar na pandemia diante dos problemas que surgiram, e aí entra a participação do MCTI na seleção e aprovação dos projetos que receberiam os recursos”, diz o professor do Insper.

Vale destacar que as bolsas são fornecidas durante todo o período da pesquisa, que pode durar vários anos. Uma bolsa de Iniciação Científica para estudantes de graduação, por exemplo, cujo valor atual é R$400,00 mensais, pode durar até 12 meses. Por outro lado, uma bolsa de Pós-Doutorado Júnior, com parcelas de R$4,1 mil, vigora entre seis e 12 meses, mas pode ser prorrogada por igual período. Já bolsas para Pesquisador Sênior (R$1,5 mil mensais) se estendem por cinco anos.

“Não é um dinheiro dado sem contrapartida”, aponta Alexandre Chaia. “A bolsa é concedida ao aluno, e a contrapartida é a produção de artigos, de relatórios. Já quando se trata de fomento – valor destinado ao setor privado, com objetivo de auxiliar a indústria –, a contrapartida é o desenvolvimento de uma nova tecnologia, de um novo produto”, explica.

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