O curitibano Celso Grebogi está entre o seleto grupo de cientistas cotados para receber o Prêmio Nobel de Física, que será anunciado a partir do próximo 3 de outubro. Graduado em Engenharia Química pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), em 1970, o cientista está entre os pesquisadores citados no 2016 Thomson Reuters Citation Laureates, lista que já previu 39 laureados desde 2002.
Segundo a publicação, a presença do nome do cientista na lista se dá pelo fato dele ter descrito, em co-autoria com Edward Ott e James A. Yorke, uma teoria de controle de sistemas caóticos, o Método OGY, como foi batizado em referência às iniciais dos pesquisadores.
O trabalho de Grebogi, Ott e Yorke desafiou a convicção científica de que o caos era incontrolável e se tornou referência na área. A pesquisa do professor em dinâmica caótica combina métodos e técnicas analíticas com extensos experimentos computacionais de alta tecnologia com o objetivo de estabelecer princípios matemáticos básicos que cientistas e engenheiros possam aplicar em seus próprios campos.
“Eu diria que receber o Citation Laureate 2016 do Thomson Reuters é uma honra muito grande. Isso foi uma boa surpresa, raramente um brasileiro está nessa lista, mas acho muito difícil levar o prêmio este ano por causa do experimento que fez a detecção direta de ondas gravitacionais, confirmando uma previsão de Einstein feita em 1916”, diz o cientista, em entrevista à Gazeta do Povo de Aberdeen, na Escócia, onde mora atualmente. “É no entanto um privilégio ter nosso trabalho ser considerado na mesma companhia de tão significativos desenvolvimentos em Física”, completa.
Biografia
Celso nasceu em 29 de julho de 1947, filho de descendentes de imigrantes poloneses que vieram a Curitiba na década de 1940. Os pais, como tinham de trabalhar muito no campo, sabiam apenas ler e escrever. “Eles se conheceram durante a II Guerra Mundial. Minha mãe era enfermeira e cuidou do meu pai, em um posto de atendimento que na época ficava em frente à Santa Casa [Praça Rui Barbosa]”, conta o cientista. “Quando eu era pequeno, éramos uma família bem pobre e vivíamos no Boqueirão, que naquela época era um bairro bem isolado”.
A sua infância foi árdua, com muito trabalho desde pequeno. “Ao mesmo tempo, os meus pais valorizavam muito o estudo e nos incentivavam”. O Colégio Erasto Gaetner, onde estudou o “ginásio”, o equivalente ao período entre o 6º e 9º ano do ensino fundamental, deixou uma forte marca no cientista. “Em toda a minha carreira, onde mais aprendi foi lá, no Colégio Erasto Gaetner. Fundado por alemães menonitas, tínhamos um currículo muito rico, incluía inglês, latim, francês e, sobretudo, muita disciplina”. No ensino médio, fez o curso técnico de química industrial. Depois, ingressou na UFPR.
Mestre em Física pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ), mestre e doutor em Física pela University of Maryland (Estados Unidos) e pós–doutor em Física, especializado em Teoria de Sistemas Dinâmicos, pela University of California at Berkeley (Estados Unidos), o pesquisador ocupa a cátedra Sixth Century Chair em Sistemas Complexos e Não-Lineares da University of Aberdeen, na Escócia.
Com mais de 400 publicações e centenas de palestras em conferências, universidades e instituições de pesquisa, Grebogi recebeu vários prêmios e títulos. Entre eles estão o de doutor honoris causa da University of Potsdam (Alemanha) e da Le Havre University (França) e o de professor honorário da University of Aberdeen (Escócia), da Xi’an University of Technology (China), da Lanzhou University (China) e da Xi’an Jiaotong University (China).
O pesquisador também é membro da Academia Brasileira de Ciências, da Academia Mundial das Ciências da Unesco, da Royal Society of Edinburgh (Reino Unido), da American Physical Society e do Instituto de Física do Reino Unido. Na University of Aberdeen (Escócia) fundou, em 2009, o Instituto de Sistemas Complexos e Biologia Matemática, do qual é diretor, e foi co–fundador, em 2013, do Instituto de Matemática Pura e Aplicada.
Celso tem três irmãos, é casado e tem um filho de 16 anos.
Ranking
O ranking da Thomson Reuters aponta pesquisadores cujos avanços são renomados e exercem forte influência na comunidade científica nas áreas de Química, Física, Fisiologia ou Medicina e Economia. O impacto dos estudos é medido pela alta quantidade de citações que eles tenham recebido – apenas no Google Scholar, o brasileiro já foi citado mais de 31 mil vezes, recebendo mais de mil citações todos os anos desde 1995.