Anunciado pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido) como novo ministro da Educação em 25 de junho, Carlos Alberto Decotelli pediu demissão do cargo nesta terça-feira (30). Decotelli não chegou a tomar posse, oficialmente, da pasta.
Em entrevista a William Waack, da CNN, o agora ex-ministro reconheceu que o projeto que pretendia levar adiante no MEC foi questionado por causa de suas "inconsistências curriculares". "Inconsistências que no mundo acadêmico são explicáveis. São citações, maneira de pesquisa, registros ou não registros", disse Decotelli à emissora.
Mas, segundo o ex-ministro, o ponto que definiu a saída do MEC foi o fato de, nas palavras dele, a Fundação Getúlio Vargas (FGV) ter afirmado que ele não era professor da instituição. Decotelli classificou a informação como "fake". Na realidade, a FGV salientou que ele não fazia parte dos quadros efetivos da instituição, em programas de mestrado e doutorado, por exemplo. A entidade confirmou que ele ministrou aulas em MBAs e em cursos lato sensu (leia mais abaixo).
"Esta informação divulgada pela Fundação Getulio Vargas fez com que o presidente me chamasse e dissesse: 'se até a [FGV], onde o senhor trabalha há 40 anos ministrando cursos, ela está negando [o vínculo empregatício], então é impossível o governo continuar a ser questionado sobre as inconsistências em seu currículo", disse o ex-ministro sobre a conversa com Jair Bolsonaro.
Entidades educacionais, de início, mostraram expectativa com a nomeação do professor e oficial da reserva da Marinha, que entrou para o ministério com a promessa de "restituir o diálogo" antes rompido, na gestão de Abraham Weintraub. Mas inconsistências apresentadas por Decotelli em seu currículo geraram desgastes para que assumisse o cargo.
Inconsistências no currículo
Diferentemente do que constava em seu currículo Lattes, Decotelli não obteve título de doutor na Universidade Nacional de Rosário, Argentina, como confirmou a própria instituição. A Universidade de Wuppertal, na Alemanha, também negou que Decotelli tenha feito um pós-doutorado na academia, como apresentava seu currículo.
Nesta terça, a Fundação Getúlio Vargas (FGV) afirmou que Decotelli não fez parte do quadro de professores efetivos da instituição, mas atuou como "colaborador". "Ele foi um professor colaborador, não tinha vínculo com a FGV. Deu aula em diversos cursos lato sensu. Foi também um dos coordenadores do MBA em Finanças na FGV e do curso Gestão Financeira Corporativa", diz a universidade, em nota.
Ainda frente a acusações de que o professor teria cometido plágio em sua dissertação de mestrado, ele negou, afirmando que apenas citou trechos de outros relatórios no artigo.
Após sua nomeação, Decotelli também voltou a ser criticado por um episódio no qual esteve envolvido em 2018, quando chefiava o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE). Na ocasião, ele autorizou uma licitação de R$ 3 bilhões que, mais tarde, foi investigada e definitivamente reprovada pela Controladoria-Geral da União (CGU).
Entre as inconsistências apontadas pelo órgão estava, por exemplo, a compra de mais de 30 mil laptops para pouco mais de 200 alunos de uma escola em Minas Gerais. A CGU também apontou irregularidades como a inexistência de aprovação do Pregão 13/2019 pela Secretaria do Governo Digital do Ministério da Economia, a inexistência de ampla pesquisa de mercado, além de indícios de relacionamento entre duas empresas que apresentaram orçamento.
Interlocutores com trânsito no MEC afirmam que nomes como Sergio Sant'ana, ex-assessor de Abraham Weintraub, Maria Inês Fini, ex-presidente do Inep, Carlos Nadalim, secretário de Alfabetização no MEC, Ilona Becskeházy, secretária de Educação Básica e o próprio Renato Feder, secretário de Educação do Paraná que se reuniu com Bolsonaro há poucos dias, estão entre os novos cotados para assumir a pasta.
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