A doutrinação em sala de aula entrou de vez no debate nacional.
Na semana passada, por exemplo, a cidade de Jundiaí (SP) aprovou o projeto de lei da Escola Sem Partido na cidade. Em dezenas de municípios e no Congresso Nacional, projetos semelhantes estão em tramitação.
A doutrinação – ou aliciamento intelectual – já foi diagnosticada em outros países. Um livro de referência sobre o tema é Maquiavel Pedagogo, escrito pelo francês Pascal Bernardin e publicado em 1995.
A obra explica algumas técnicas de manipulação psicológica usadas por professores, com ou sem o respaldo das bases curriculares, para provocar mudanças comportamentais nos alunos.
No centro delas está a dissonância cognitiva: confrontado com duas ideias, valores ou sentimentos que não podem coexistir de forma harmônica, o estudante tende a modificar um deles.
Bernardin explica desta forma o conceito de dissonância cognitiva: “Se um indivíduo é levado a cometer publicamente (na sala de aula, por exemplo) ou frequentemente (ao longo do curso) um ato em contradição com seus valores, sua tendência será a de modificar seus valores, para diminuir a tensão que lhe oprime”.
É, na prática, uma forma de modificar as opiniões por meio do comportamento.
Veja cinco técnicas de manipulação psicológica dissecadas por Bernardin em Maquiavel Pedagogo.
1) Submissão à autoridade
É o que comprovou o célebre experimento psicológico de Stanley Milgran: estudantes foram induzidos a acreditar que os participantes de um teste estavam sendo submetidos a choques elétricos. Mas, orientados pelos seus superiores a não interromper a prática, a maioria deles foi adiante. O experimento foi replicado diversas vezes, com conclusões parecidas: se estimuladas da maneira certa, as pessoas farão quase qualquer coisa quando acreditam que estam seguindo ordens superiores.
2) Pé na porta
Esta tática consiste em atribuir tarefas vão aumentando gradativamente de complexidade até atingir o objetivo adequado. Em vez de partir diretamente para o objetivo final, o que poderia causar uma rejeição, a estratégia é começar com pedidos simples e, passo a passo, exigir missões mais elaboradas. Como o estudante já se comprometeu com a “causa” anteriormente, tende a aceitar.
Leia também: cinco ideias indefensáveis de Paulo Freire
3) Porta na cara
Neste caso, a estratégia é pedir algo absurdo, irrealizável, para ouvir um “não” e depois fazer um segundo pedido – este, sim, aquilo que se deseja obter de fato. Em face da solicitação absurda, a tarefa apresentada em seguida parece mais razoável, mesmo que não seja. Isso aumenta a chance de convencimento.
4) Prova iniciática
A lógica é simples, e foi comprovada em pesquisas: quando alguém é induzido a praticar um determinado ato com o qual não concorda por inteiro mas aceita fazê-lo, passa a mudar sua visão sobre a prática em questão. Para reduzir a dissonância cognitiva, o participante – ou vítima – tende a passar a tratar como aceitável aquilo que praticou.
5) Dramatização
É fazer o aluno representar o papel que se pretende convencê-lo a adotar. Um exemplo são as atividades em que os estudantes se vestem como um membro do sexo oposto (como nesta escola de Alagoas), o que tende a reduzir a resistência para tal – não porque a prática combate o preconceito, mas porque as pessoas costumam justificar seus atos de forma a evitar constrangimentos maiores.
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