O Colégio Estadual Ângelo Gusso foi uma das dez escolas de Curitiba participantes do projeto Inventar com a Diferença. O filme produzido pelos alunos será levado a outras regiões do país| Foto: André Rodrigues/Gazeta do Povo

Dedicação

Alunos de escolas especiais se destacam entre participantes

Em cada estado, o projeto Inventar com a Diferença selecionou mediadores para treinar os professores e acompanhar quinzenalmente os trabalhos nas escolas. No Paraná, a cineasta Larissa Maria Figueiredo Mendes e o jornalista Rafael Urban, da Tu i Tam Filmes, ficaram responsáveis pela tarefa, ajudando também na edição dos vídeos finais, atual etapa do projeto. Larissa conta que as escolas foram escolhidas conforme o interesse demonstrado por educadores e estudantes e revela que se surpreendeu com o desempenho dos alunos nas duas escolas especiais participantes, a Paulo Freire e a Primavera, de Curitiba.

"Foi uma grande surpresa em todos os sentidos. Foram as duas escolas em que mais tivemos resultado, que os alunos mais se dedicaram e puderam usufruir plenamente do projeto. Eles aproveitaram todos os encontros, atuaram, um dirigiu o outro. O resultado é muito bonito", conta.

Segundo a professora da Educação de Jovens e Adultos (EJA) Edicléia Cruz da Silva, da Escola Primavera, essa foi a primeira vez que os estudantes, que têm deficiência intelectual de leve a moderada intensidade, tiveram uma formação voltada para o cinema. "Eles aprenderam enquadramento e outras técnicas. Cada dia, um deles levou a câmera para casa. Foi um grande desafio e um grande trabalho de inclusão."

Larissa conta que, neste primeiro momento, o projeto não conseguiu arcar com um kit de filmagem para cada escola. Enquanto isso, o que é observado é que não há limites para a criação dos envolvidos. Com celular ou câmera emprestados, a turminha não pretende deixar de fazer os próprios registros.

CARREGANDO :)

Kit pedagógico

As escolas que não foram selecionadas para participar do projeto ainda podem trabalhar o audiovisual com seus alunos. Basta acessar o site www.inventarcomadiferenca.org e baixar o material de apoio gratuitamente.

Sem acesso à internet, Paulo Kindrazki, 18 anos, passou o início da adolescência lendo os livros que tinha em casa, principalmente enciclopédias sobre cinema e um dicionário de diretores. Esse passatempo foi fundamental para que o garoto reconhecesse a sua afinidade com a sétima arte. Bastou um ano no Colégio Estadual Ângelo Gusso, em Curitiba, onde hoje cursa o 3.º ano do ensino médio, para ele convencer os colegas a atuarem em filmes. Desde o 8.º ano, as apresentações em grupo nunca mais foram as mesmas: se transformaram em encenações e musicais.

Publicidade

A paixão do rapaz pelo cinema era notória, o que rendeu a ele o convite para participar da primeira edição do projeto Inventar com a Diferença no colégio. Desde o início do ano, a iniciativa da Universidade Federal Fluminense (UFF) tem capacitado cerca de 600 professores e mais de 5 mil alunos de escolas públicas de todo o país para a produção audiovisual, com foco nos direitos humanos.

Além de levar conhecimento técnico a estudantes e docentes de 29 cidades, o projeto incentiva a troca cultural, já que o material final produzido em cada estado será transmitido para jovens de outras regiões do país em uma grande exibição em cinemas.

Em cada município, dois professores de dez escolas passaram por um processo de formação em cinema, participando de oficinas de vídeo e aprendendo a repassar os conhecimentos em sala de aula. Todas as escolas receberam um kit pedagógico, que continuará nas instituições para que o projeto siga adiante com novos alunos.

Durante três meses, os estudantes tiveram atividades teóricas e práticas, como o exercício Minuto Lumière, para a produção de vídeo sem som com câmera fixa no tripé. Segundo Matheus Fernando de Melo, 16 anos, aluno do 9.º ano, os exercícios semanais foram suficientes para despertar a paixão pelo cinema. "Eu já tirava fotos, mas nunca tinha me interessado em filmar. Até que uma professora me convidou para o projeto e agora estou até trocando a fotografia pelo cinema", conta. Matheus até providenciou uma câmera. "Minha família está incentivando. Depois que fiz um filme de terror, meu pai já veio com outras ideias", diz.

A professora de Arte Cláudia Luciane Zanetti conta que e empolgação foi geral entre os alunos participantes. "Eles estão animadíssimos para assistir aos próprios filmes na telona da Cinemateca e receber os filmes-carta dos demais estados. Temos a previsão de montar uma nova turma no segundo semestre, pois os alunos estão curtindo muito", afirma. Paulo também aprovou a formação. A oportunidade de aprender mais com o projeto consolidou o desejo de longa data. No próximo ano, ele se antevê como calouro no curso de Cinema na Faculdade de Artes do Paraná.

Publicidade

O projeto

Desenvolvido pela Universidade Federal Fluminense e pela Secretaria Nacional dos Direitos Humanos, o projeto Inventar com a Diferença promove a capacitação técnica em produções audiovisuais. Professores e estudantes participam de vários exercícios até chegarem ao material final, um filme-carta. No segundo semestre, os trabalhos serão exibidos no site do projeto e parte deles integrará a programação da 9ª Mostra Cinema e Direitos Humanos no Hemisfério Sul, em Niterói (RJ).