O número de tentativas de ‘cola’ e fraudes em provas com o uso da tecnologia aumentou no Reino Unido, mas pode ser ainda muito maior. Levantamento realizado com universidades pelo jornal “The Guardian” apontou um aumento de 42% entre 2012 e 2016 nos casos que envolviam celulares, relógios inteligentes e fones de ouvido. Em 2016, um quarto dos estudantes flagrados colando usava algum desses dispositivos.
“Esses números mostram apenas o mínimo que foi detectado e os estudantes que trapaceiam bem nem sempre são descobertos”, lamentou ao The Guardian o professor Thomas Lancaster, da Universidade de Staffordshire e um dos principais especialistas da Inglaterra no tema.
A facilidade para encontrar sistemas tecnológicos eficazes para a cola torna mais difícil aplicar medidas contra essa prática. Um fone de ouvido sem fio, por exemplo, pode ser comprado em diversos sites a preços acessíveis. Algumas empresas, como a Monorean, utilizam explicitamente essa possibilidade em sua propaganda. “Cola em testes com absoluta discrição” [Cheat on tests with absolute discretion], diz em seu site.
Ao Guardian, a agência britânica que cuida da qualidade de ensino informou que há um grupo formado por pesquisadores de diversas universidades pensando em como diminuir ao máximo as fraudes em exames. Especialistas como Lancaster defendem a aplicação de penas severas, podendo chegar até a expulsão dos alunos. “A possibilidade de deixar a universidade sem o diploma e devendo quantidades elevadas de dinheiro farão o risco não valer a pena”, defendeu.
“Se houvesse um interesse real por conhecimento, por um lado, e ao mesmo tempo a universidade oferecesse esse embasamento, a cola provavelmente não existiria”
No Brasil, o caso mais conhecido e recente de cola no ensino superior foi o que envolveu cerca de 200 estudantes de engenharia da Escola Politécnica (Poli) da Universidade de São Paulo (USP), em julho do ano passado. Um aluno de 19 anos foi flagrado usando o celular durante uma prova de Cálculo 1 e o professor percebeu que ele fazia parte de um grupo no WhatsApp chamado ‘Honestidade’. A partir da foto de uma prova, pessoas fora da sala de aula enviavam as respostas para os estudantes. O caso é investigado pela Polícia Civil e o processo de sindicância aberto para apurar os fatos ainda não foi concluído.
A Poli acredita que este foi um fato isolado. “Este não é o comportamento usual de seus alunos e que há muitos anos é norma da Escola não permitir que os estudantes façam provas utilizando celulares e tablets”, informou.
A medida da Poli de proibir provas com dispositivos eletrônicos, porém, é rara em outras universidades. Com exceção de instituições militares como o Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA) e alguns departamentos de faculdades no Brasil, a maioria não tem políticas claras para inibir a prática.
Para professores como Adonai Sant’Anna, do departamento de Matemática da Universidade Federal do Paraná (UFPR), não são apenas os maus alunos os que colam, mas também aqueles que não encontram na universidade a excelência que esperavam. Além disso, lembra, como muitos alunos no Brasil não estão preocupados em adquirir conhecimento, mas apenas em conseguir um diploma, a trapaça passa a ser natural.
“A universidade deveria ser um lugar onde os estudantes buscam conhecimento, mas não é isso o que eles querem, passam por toda essa formalidade para obter o diploma, o conhecimento é o que menos importa”, lamenta. “Se houvesse um interesse real por conhecimento, por um lado, e ao mesmo tempo a universidade oferecesse esse embasamento, a cola provavelmente não existiria”, acredita.
