Exemplo
"O grêmio não é só para diversão"
Os grêmios estudantis da Escola Estadual Santa Cândida e do Colégio Estadual do Paraná, em Curitiba, são apontados pela Secretaria de Estado da Educação e pela União Paranaense dos Estudantes Secundaristas como alguns dos grupos de alunos mais atuantes na capital. Prestes a encerrar sua gestão frente ao Grêmio Diferença, do Santa Cândida, a aluna do 2º ano do ensino médio Heloisa Waléria Bajerski, 16 anos, mostra-se contente com o que fez para os alunos de sua escola nos últimos dois anos.
Entre as atividades desenvolvidas estão campeonatos esportivos interescolares, ações sociais de arrecadação de alimentos, roupas e lacres de latinha e o projeto aulas bônus, em que o grêmio ajuda a distribuir, via internet, conteúdos extras para as aulas.
"A nossa intenção é atrair os alunos para dentro do colégio, para que não fiquem nas ruas fazendo outras coisas", conta Heloisa.
A presidente do grêmio lembra que até reuniram estudantes para participar do Movimento Passe Livre, que pede tarifa zero para estudantes no transporte coletivo. Contudo, depois da participação, decidiram direcionar os esforços para dentro da escola, onde conseguem ver os resultados. "O grêmio não é só para divertir os alunos. Deve passar coisas mais sérias, mostrar como está a educação no país. Os alunos têm que lutar pelo que eles querem", resume Heloísa.
Todas as escolas estaduais do Paraná devem contar com grêmios estudantis até o fim de 2014. Essa é uma das metas da Secretaria de Estado da Educação (Seed). Hoje, alunos de apenas 44% dos 2.135 colégios da rede de ensino são representados por agremiações. Contudo, o maior desafio do projeto é fazer com que as instituições sejam atuantes. Se considerados os grêmios ativos, o porcentual atual é ainda menor cerca de 30% , conforme Mário Sérgio de Andrade, presidente da União Paranaense dos Estudantes Secundaristas (Upes).
O movimento estudantil faz parte da história brasileira há pelo menos três séculos, mas foram os anos da ditadura, nas décadas de 60 e 70, que marcaram o ativismo jovem. Mesmo com a repressão do Estado, estudantes e universitários formaram uma resistência contra o regime militar. Depois da restituição da democracia, o último ato marcante foi o movimento dos "Caras Pintadas", em 1992, quando jovens também foram às ruas pedir o impeachment do então presidente Fernando Collor de Melo.
De lá para cá, as manifestações encabeçadas por estudantes continuam. Contudo, o envolvimento de grêmios de escolas tem sido mais tímido no âmbito político. O foco mudou. "Hoje, temos outro modelo de grêmio, que se resume à transformação da escola. As ações são mais voltadas para as áreas esportiva e cultural", afirma Andrade.
Autonomia
Qualquer grêmio estudantil deve ter a gestão marcada pela autonomia. As ações dos alunos não podem ser influenciadas ou controladas pela diretoria da escola ou professores, por exemplo. O grêmio deve defender os interesses dos estudantes dentro da escola e promover atividades que contribuam com o desenvolvimento dos alunos, sejam elas esportivas, culturais, políticas ou sociais.
"O grêmio é o órgão máximo da ética, da cidadania e da democracia. É uma das tradições mais duradouras da nossa juventude", resume Antonio Lopes Junior, coordenador de Gestão Escolar da Seed. "A nossa intenção [com o novo projeto] é que as instituições deem mais voz e vez aos estudantes. Nós não podemos orientar como um grêmio deve agir, mas é preciso ter abertura", completa. Ele explica que as escolas devem incentivar a mobilização dos alunos para que os grêmios sejam atuantes de fato.
Serviço:
Alunos de escolas públicas e particulares interessados em criar um grêmio estudantil podem obter informações e modelos de documentos no site Dia a Dia Educação, da Seed (www.alunos.diaadia.pr.gov.br).